03/09/2010

Encontro com Santos


Em relação a esse último aspecto tratava-se muito mais de forma do que de substância. É inegável que a Colômbia não tem como prescindir do apoio militar dos EUA na luta contra o narcoterrorismo. Sem ele não teria vencido o cartel de Medellin, no anos 90, nem imposto duras derrotas às FARC. Mas, a presença de militares norte-americanos num país latino-americano é sempre uma questão politicamente delicada, e Uribe foi inábil na forma de anunciá-la e justificá-la. Uribe teve problemas de imagem inclusive nos EUA por conta de uma proximidade excessiva com a administração Bush. Santos parece mais afinado com uma fase de consolidação de pacificação.

Ontem, estivemos com Santos, acompanhando Marina Silva. Foi um encontro de uns 40 minutos e o novo presidente colombiano me pareceu consistente, bem informado e disposto a uma aproximação estratégica com o Brasil. A maior parte da conversa girou em torno da Amazônia, da necessidade de intensificar a colaboração entre nossos países e de várias questões ambientais e energéticas importantes. O tema que me pareceu mais relevante na conversa foi o clima. Santos parece ter uma clara noção da ameaça que vem do aquecimento global. Acredita que a cultura cafeeira e a riqueza hídrica da Colômbia estão ameaçadas a médio prazo e quer ativar uma cooperação estreita com o Brasil, em relação ao tema. Outro tópico seria a colaboração em relação a produção de etanol a partir da cana de açúcar. Santos nos anunciou que vai criar o ministério do meio ambiente e pediu conselhos para Marina.

O tema de segurança foi tratado muito de passagem, com Marina reafirmando a solidariedade dos verdes com a luta do governo colombiano contra o narcoterrorismo. Penso que deveríamos ter sido pontualmente mais explícitos, garantindo ao governo colombiano que, numa eventual administração nossa, eles teriam mais compreensão do que na ambígua atitude do governo Lula, que dados seus vínculos com Hugo Chavez e do PT com as FARC no âmbito do Foro de São Paulo, não vem sendo suficientemente claro em sua condenação. Penso que as FARC devem sim ser definidas pelo governo brasileiro como grupo terrorista, porque, há pelos menos duas décadas, a organização descambou para o puro e simples banditismo, passou a promover ativamente o cultivo e tráfico de cocaína e praticou violações dos direitos humanos horripilantes.

A caminho do P(RI)T ?

A violação do sigilo fiscal e, aparentemente, bancário também de correligionários e familiares do candidato José Serra é um bom exemplo do porquê a eleição de Dilma Rouseff seria má para o país. Se há duas coisas que não tolero em relação ao governo Lula, ainda que sua popularidade venha a ultrapassar índices norte-coreanos, e chegue a 99,9%, é a arapongagem e a promiscuidade com ditadores, como Ahmadinedjad e dos irmãos Castro ou semi-ditadores histriônicos, como Hugo Chavez.

Concordo com a análise do Elio Gaspari, no domingo passado, mostrando que não é tão fácil assim, no Brasil, o PT virar P(RI) T. De fato, o Brasil é uma sociedade democraticamente mais madura e complexa que o México dos tempos de Lázaro Cárdenas, quando se consolidou a hegemonia do Partido Revolucionário Institucional por mais de seis décadas, tendo como método sucessório o famoso dedazo.


De qualquer maneira, o sonho petista de mais 12 anos (dedazo com Dilma e depois + oito anos de Lula) é um tanto sinistro --no sentido clássico da palavra-- sobretudo, se associado a tais métodos e amizades.

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