Com o amigo Yuyo Noe |
De regresso a uma de minhas cidades favoritas. Revendo velhos amigos pintores argentinos de primeiríssimo time.
Adoro Buenos Aires. Para mim é uma das cidades mais bem resolvidas urbanisticamente que há no planeta no que pese algumas décadas de deterioro e um relativo abandono pelo menos dos bairros menos abastados. Mas tanto os acertos quantos os erros em urbanismo têm vida longa e a capital argentina se estruturou dentro do vigoroso e bem arrumado urbanismo hispano e teve seu grande boom urbano numa era que o país era muito rico e a arquitetura bela. Buenos Aires atraiu o melhor do que se projetava na França, Inglaterra, Itália e Espanha nas primeiras décadas do Século XX quando a Europa em guerras e revoluções dependia da carne e do trigo argentinos.
Que alegria rever Palermo, La Recoleta, La Boca, Puerto Madero, as livrarias, as casas de tango e, sobretudo, os amigos! Entre ele se destaca Luis Felipe Noe, um dos maiores pintores argentinos quem conheci em 1973. Recém escapara do golpe do Pinochet no Chile, era procuradíssimo do Brasil e minha situação em Buenos Aires como a de muitos exilados brasileiros era bastante perigosa. Ainda por cima era correspondente de um jornal de extrema-esquerda francês chamado Libération e dirigido por Jean Paul Sartre. “Yuyo” Noe, sua mulher Nora e seus filhos Paula e Gaspar --Gaspar Noe é hoje um controverso cineasta radicando na França, dirigiu entre outros “Irreversível” com Mônica Bellucci-- me alojaram em sua casa e me trataram como família. A mim e a Thiago de Mello que teve um enfarte em Buenos Aires e ficou meses na casa deles se recuperando.
Noe é um pintor extraordinário infelizmente pouco conhecido no Brasil onde já expôs em 1966 a convite de Hélio Oiticica com os outros argentinos então jovens pintores da Nueva Figuración. Atualmente minha mulher Ana Borelli está organizando sua exposição no MAM prevista para novembro e que contou com o inestimável apoio do Gilberto Gil que aqui teve um encontro memorável com Noe.
Alem de Noe revi Leon Ferrari que é um artista extraordinário. Ele já morou em São Paulo e está prestes a fazer 90 anos. Sua obra é extraordinária, uma profusão de objetos os mais variados cheios de significados e humor. Ferrari tem um certo viés anti-clerical que resulta, segundo me contou seu amigo Noe, de sua revolta com o papel da Igreja argentina durante a sangrenta ditadura militar. A contrário da Igreja brasileira a argentina apoiou abertamente o regime que fez desaparecer o filho caçula de Leon e sua esposa. Leon e sua esposa Alicia (que já completou 90 anos) estão em plena forma. Ele é um sujeito doce e cheio de humor. Conheci-o casa de Noe, em 1974, junto com outro pintor argentino, Ricardo Carpani, esse já falecido, embora fosse o mais jovem de todos.
Trouxe o skate e amanhã pretendo rolar por Puerto Madero para ver a quantas anda a revitalização. Já não preciso mais ficar morrendo de inveja pois a nossa agora já começou.
Yuyo Noé, Ana Borelli e Leon Ferrari
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