Quando, no
início do seu governo, o prefeito Marcello Crivella tomou a desastrosa medida “des-secretariar”
o Meio Ambiente fazendo da SMAC um apêndice da secretaria de conservação, ao
mesmo tempo que juntava três outras secretarias (Obras, Urbanismo e Habitação) e queria cortar metade dos cargos comissionados, na maioria de servidores
concursados, achei que era um erro de
iniciante mal assessorado e que o dia a dia como prefeito ensinar-lhe-ia o valor
das instituições que permanecem enquanto os políticos --mesmo os abençoados
pelo reino de Deus-- passam.
Estou fora da política partidária/eleitoral e em
relação a prefeitura do Rio procuro exercer um papel crítico construtivo evitando a
oposição ruidosa e sistemática, a priori. Torço sempre para que qualquer prefeito do Rio dê
certo porque se dá errado quem sofre em primeiro lugar é a cidade onde vivo e que
amo.
Por isso estive sempre aberto ao
diálogo embora não tenha votado nem jamais votaria nele para prefeito. Também não teria votado
no seu adversário mais pela forma com que conduziu sua campanha (com outra postura poderia
ter votado). Na realidade estava em Marakech, na COP 22 quando daquele
desafortunado segundo turno.
Após as eleições me dispus a dialogar, fazer algumas
sugestões e ajudar algumas pessoas decentes que aceitaram a difícil missão de
tentar fazer alguma coisa positiva nessa administração. Há gente respeitável como Aspásia Camargo, César Benjamin, Verena Andreata e Paulo
Amendola, tentando fazer coisas boas.
Tive rápidos e cordiais contatos com o prefeito e pessoas próximas a ele. Não
desgosto dele como ser humano. Como prefeito, no entanto, parece-me um
alienígena em relação ao que é essa Cidade.
Não se governa o Rio, sobretudo,
nesses tempos difíceis de forma tacanha e moncordiamente assistencialista. Desde
1989 o Rio teve prefeitos entre o bom e o regular e sempre com alguma visão. Marcello Alencar tirou a Cidade de
uma crise do tipo em que estamos mergulhando agora, César Maia, no seu primeiro governo
e na maior parte do segundo foi um prefeito competente e inovador, perdeu o
rumo no final; Conde teve bons dois anos iniciais, Eduardo Paes com seus defeitos
e erros foi globalmente um bom prefeito, dinâmico e trabalhador. Crivella parece um OVNI no universo
carioca a frente de uma gestão desconjuntada e confusa.
Agora decidiu rebaixar mais ainda a finada SMAC. Transformou-a
numa coordenaria da Conservação com poderes e atribuições erodidas. O Rio foi
uma das primeiras cidades brasileiras a se dotar de uma secretaria de meio
ambiente e ela, por um bom tempo, foi referência internacional. Éramos avidamente
escutados e admirados em foros dentro e fora do Brasil.
A SMAC iniciou um trabalho sistemático de despoluição
das praias e lagoas do Rio (que depois foi desmembrada o para formar a Rio Águas
subordinada a SMO, um primeiro retrocesso). Construiu as ciclovias cariocas a primeira e maior malha do país. Promoveu
o reflorestamento de dezenas de morros com a mão de obra das favelas, criando
oportunidades de trabalho e consciência ecológica no Projeto Mutirão de Reflorestamento que foi internacionalmente consagrado. Combateu implacavelmente as
agressões ao meio ambiente. Implantou novas áreas e proteção ambiental e diversos
novos parques.
Escrevi no meu
livro Ecologia Urbana e Poder Local que não haveria necessidade de secretariais
de meio ambiente em prefeituras nas quais o conjunto dos órgãos funcionasse na
lógica da sustentabilidade. Esse certamente não é o caso atual, convenhamos.
Qual a razão então?
Francamente, ignoro. Espero que não seja a mesma que levou, nos idos dos anos 90,
quando ela foi criada, os vereadores da Universal a se oporem tão duramente a nós.
O problema na época era algo ridículo embora sintomático: não admitiam nosso combate
à poluição sonora, achavam que iríamos atrás alto falantes que colocavam para o
lado de fora dos templos talvez como maneira de punir os tímpanos dos infiéis
do bairro por não estarem lá dentro...
Mereci uns tantos ataques da
parte do jornalzinho da Universal que distribuíam. Na época não existiam as redes sociais. Muito tempo depois um daqueles vereadores reconheceu que aquilo fora um exagero e que de fato tentávamos –sem muito sucesso, historicamente falando—debelar todo tipo de ruído
acima dos decibéis permitidos.
Espero que o prefeito
possa dialogar com os servidores da SMAC e com os ambientalistas e reveja essa
decisão equivocada que além do seu dano direto à gestão ambiental local compromete
a imagem da Prefeitura da Cidade nacional e internacionalmente. O Rio de Janeiro é uma referência mundial para o tema ambiental e climático. Uma secretaria de meio ambiente subordinada a rotinas conservação é o meio ambiente na lata de lixo ou debaixo do asfalto.
Morro Dois Irmãos, antes e depois, um dos mais de 40, reflorestado pela SMAC em diversas partes da Cidade
Ciclovia Mané Garrincha, a primeira do projeto Ciclovia Cariocas. O Rio com a maior malha cicloviária do Brasil
Bosque da Freguesia, uma luta ambientalista que a SMAC viabilizou
A SMAC ajudou a formar o GDA (Grupo de Defesa Ambiental da Guarda Municipal)
Morro Dois Irmãos, antes e depois, um dos mais de 40, reflorestado pela SMAC em diversas partes da Cidade
Ciclovia Mané Garrincha, a primeira do projeto Ciclovia Cariocas. O Rio com a maior malha cicloviária do Brasil
Bosque da Freguesia, uma luta ambientalista que a SMAC viabilizou
A SMAC ajudou a formar o GDA (Grupo de Defesa Ambiental da Guarda Municipal)
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