A morte de um coronel da PM, comandante de batalhão, na mão de assaltantes no uma vez pacato bairro do Meier ilustra que não há
como evitar um enfrentamento militar duro com as quadrilhas que se movem com
todo desembaraço na reocupação ostensiva das favelas previamente “pacificadas”.
Se o estado brasileiro –já nem falo do finado governo do estado-- não assumir, contra ventos e marés, uma
ofensiva a curto prazo, a possibilidade
de recobrar o controle sobre a situação de segurança do Rio estará perdida. É
terrível ter que admiti-lo --me perdoem os bem pensantes-- mas a ação social não irá fazer sumir uma
quadrilha de quarenta homens armados de fuzil que atravessa a cidade,
intimidando a polícia, para ocupar uma
comunidade.
Qual a alternativa ao confronto? Seria o estado capitular. Permitir
que a facção mais organizada do crime (a paulista) controle tudo e depois
negociar um daqueles acordos tácitos do passado, ganhar um tempo de calma ao
final do qual a violência voltaria num patamar superior. Ou será o rebrote das
milícias? Já vimos esses filmes.
Terminam mal. É claro que neutralizar
militarmente os bandos mais agressivos (que ao contrario de antigamente estão
praticando assaltos no asfalto) vai custar caro
e será apenas um elemento de progresso efêmero se não for seguido de
certas medidas que atualmente parecem impensáveis como: 1 – reforma drástica
das polícias 2 – aperto jurídico 3 –
mudança radical na política de drogas.
Isso
hoje remete à quadratura do círculo. Infelizmente a situação ainda vai ter que
piorar muito até que tais reformas sejam sequer consideradas. Uma policia
formada por profissionais em dedicação exclusiva, sem as “escalas de serviço”
que fazem da profissão policial um “bico”,
custa caro e contraria os interesses da segurança privada operada por
certos oficias da PM e delegados. Acabar com a frequente libertação de bandidos
perigosos e seu controle sobre o universo penitenciário é todo um labirinto.
Enfrentar o sacrossanto tabu envolvendo o imbecil proibicionismo das
drogas, base logística-mor do banditismo
violento, hoje parece impossível. No atual Congresso, é mais fácil agravar a
criminalização do consumo e desviar ainda mais do escasso contingente policial
da prevenção do crime violento ao trabalho de Sísifo da repressão
comportamental.
Além desse nó górdio temos o pano de fundo que é, esse sim, a
crise social. Ela joga um papel óbvio no agravamento das condições de segurança
pois o desemprego, a marginalização, a evasão escolar e a falta de oportunidade
para os jovens é um fator poderoso no recrutamento do tráfico.
A crise
econômica agrava fortemente o problema mas uma eventual retomada do crescimento
da economia e do emprego, não necessariamente produz resultados positivos
análogos, espontaneamente. No período de
progressão social no passado recente, a
violência e a criminalidade se agravaram,
na escala nacional, ainda que
tenham melhorado em São Paulo e no Rio graças a avanços na segurança que agora
se mostram efêmeros e, no caso do
Rio, dolorosamente reversíveis.
Por
fim, parece muito difícil qualquer avanço com o grau de desgaste e falta de
legitimidade que atinge a governança. Com o país como hipnotizado pelos
incessantes escândalos, em clima de permanente “indignismo”, chegamos a esse
impasse. E o quadro para 2018 parece desolador. Assusta especular o que poderia
ser o segundo turno... É preciso sangue-frio e muita calma nessa hora para se
entender as mediações que precisam ser feitas e as prioridades a perseguir. A
principal é a do direito de ir e vir do cidadão, sua segurança na rua e dentro
de casa, sua integridade física e de sua família e o restabelecimento do
controle do estado brasileiro sobre o território e seu monopólio sobre o
armamento de guerra. É o civilizatório, elementar, mas que foi perdido no Rio
de Janeiro.
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