29/10/2017

Enfrentamento

A morte de um coronel da PM, comandante de batalhão, na mão de assaltantes no  uma vez pacato bairro do Meier ilustra que não há como evitar um enfrentamento militar duro com as quadrilhas que se movem com todo desembaraço na reocupação ostensiva das favelas previamente “pacificadas”. Se o estado brasileiro –já nem falo do finado governo do estado--  não assumir, contra ventos e marés, uma ofensiva a curto prazo,  a possibilidade de recobrar o controle sobre a situação de segurança do Rio estará perdida. É terrível ter que admiti-lo --me perdoem os bem pensantes--  mas a ação social não irá fazer sumir uma quadrilha de quarenta homens armados de fuzil que atravessa a cidade, intimidando a polícia,  para ocupar uma comunidade.

 Qual a alternativa ao confronto? Seria o estado capitular. Permitir que a facção mais organizada do crime (a paulista) controle tudo e depois negociar um daqueles acordos tácitos do passado, ganhar um tempo de calma ao final do qual a violência voltaria num patamar superior. Ou será o rebrote das milícias?  Já vimos esses filmes. Terminam mal.   É claro que neutralizar militarmente os bandos mais agressivos (que ao contrario de antigamente estão praticando assaltos no asfalto) vai custar caro  e será apenas um elemento de progresso efêmero se não for seguido de certas medidas que atualmente parecem impensáveis como: 1 – reforma drástica das polícias  2 – aperto jurídico 3 – mudança radical na política de drogas. 

  Isso hoje remete à quadratura do círculo. Infelizmente a situação ainda vai ter que piorar muito até que tais reformas sejam sequer consideradas. Uma policia formada por profissionais em dedicação exclusiva, sem as “escalas de serviço” que fazem da profissão policial um “bico”,  custa caro e contraria os interesses da segurança privada operada por certos oficias da PM e delegados. Acabar com a frequente libertação de bandidos perigosos e seu controle sobre o universo penitenciário é todo um labirinto. Enfrentar o sacrossanto tabu envolvendo o imbecil proibicionismo das drogas,  base logística-mor do banditismo violento, hoje parece impossível. No atual Congresso, é mais fácil agravar a criminalização do consumo e desviar ainda mais do escasso contingente policial da prevenção do crime violento ao trabalho de Sísifo da repressão comportamental. 

 Além desse nó górdio temos o pano de fundo que é, esse sim, a crise social. Ela joga um papel óbvio no agravamento das condições de segurança pois o desemprego, a marginalização, a evasão escolar e a falta de oportunidade para os jovens é um fator poderoso no recrutamento do tráfico. 

 A crise econômica agrava fortemente o problema mas uma eventual retomada do crescimento da economia e do emprego, não necessariamente produz resultados positivos análogos, espontaneamente.  No período de progressão social no passado recente,  a violência e a criminalidade se agravaram,  na escala nacional,  ainda que tenham melhorado em São Paulo e no Rio graças a avanços na segurança que agora se mostram efêmeros e, no  caso do Rio,  dolorosamente reversíveis.

  Por fim, parece muito difícil qualquer avanço com o grau de desgaste e falta de legitimidade que atinge a governança. Com o país como hipnotizado pelos incessantes escândalos, em clima de permanente “indignismo”, chegamos a esse impasse. E o quadro para 2018 parece desolador. Assusta especular o que poderia ser o segundo turno... É preciso sangue-frio e muita calma nessa hora para se entender as mediações que precisam ser feitas e as prioridades a perseguir. A principal é a do direito de ir e vir do cidadão, sua segurança na rua e dentro de casa, sua integridade física e de sua família e o restabelecimento do controle do estado brasileiro sobre o território e seu monopólio sobre o armamento de guerra. É o civilizatório, elementar, mas que foi perdido no Rio de Janeiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário