17/06/2017

Da Rio 92 a Trump

  
Maurice Strong
A Convenção do Clima, assinada na Rio 92,  completa 25 anos. Foi a primeira vez que a humanidade decidiu enfrentar, de forma coletiva e multilateral, a ameaça das mudanças climáticas. O Rio foi palco de uma revoada de governantes: George H.W.Bush (pai); François Mitterrand, presidente da França, Helmut Kohl, chanceler da Alemanha, John Major, primeiro-ministro do Reino Unido, Fidel Castro e dezenas de outros. Até o final manteve-se suspense em torno da assinatura da Convenção do Clima. 

O então denominado “efeito estufa” era visto pelo viés geopolítico do conflito norte-sul. Os grandes emissores ainda eram os países desenvolvidos, EUA, Europa e Japão. Os “emergentes” reivindicavam primeiro se desenvolver para depois começar a cortar suas próprias emissões.

 Um mediador incansável, o empresário canadense Maurice Strong, “facilitador” da ONU, dava nó em pingo d’água. Resultou vitorioso, na undécima hora, ao convencer Bush, pai,  a assinar a Convenção do Clima. A Rio 92 foi um sucesso ao contrário do que vinha agourando a imprensa.  No seu discurso, ele garantiu que os EUA iriam “ para além do acordado”. Richard Nixon criara a Agencia de Proteção Ambiental (EPA) e Bush, pai, assinava a Convenção.  Já não se fazem mais presidentes republicanos como antigamente...

 As indústrias do carvão e do petróleo reagiram passando a financiar uma pletora de think tanks, personalidades e campanhas negacionistas, a exemplo do lobby do tabaco, dos anos 50 e 60, na sua negação do nexo entre cigarro e câncer do pulmão. Políticos republicanos receberam “propostas que não podiam recusar” tipo Don Corleone. Negar as mudanças climáticas provocadas pela atividade econômica humana passou a abrir as portas a generosos financiamentos de campanha. Já advogar por essa causa taxada de liberal  --no significado americano de “esquerdista”—  os expunha a rivais raivosos e bem financiados nas primárias do seu estado ou distrito eleitoral. Essa estratégia implacável, levada à perfeição pelos milionários irmãos Charles e David Koch, fez do clima um assunto ideológico, figadal.

 O governo George W. Bush, filho, foi dominado por negacionistas mas, ao final, infletiu seu discurso sob pressão da realidade e de desastres climáticos como o furacão Katrina que arrasou Nova Orleans.  Afinal, acompanhou uma evolução que se esboçava em setores do empresariado que incorporaram o tema aderindo ao conceito que ganhara corpo na Rio 92: “desenvolvimento sustentável”. Isso não reverteu a atitude visceral de políticos republicanos como o senador John Inhofe quem exibiu uma bola de neve no plenário do Senado para “provar” que o aquecimento global era uma falácia. Durante os oito anos do governo Obama permaneceram absolutamente coesos. Republicanos d’antes ativos como os senadores John Mc Cain e Susan Collins, com posições similares às da direita europeia, recuaram.

 Donald Trump chegara, no passado,  a assinar manifestos pró-clima mas, depois, alinhou-se aos negacionistas para compor melhor seu personagem casca grossa, anti-cosmopolita, xenófobo, e, sobretudo, anti-Obama. Curiosamente, algumas daquelas forças econômicas começam a reconsiderar o assunto. Rex Tillerson, ex-presidente da Exxon Mobil, foi contrario a deixar o Acordo de Paris (chegara  a defender até uma taxa-carbono!). Trump preferiu dar uma banana ao mundo --que “está rindo da nossa cara, com queixumes “comerciais” e bravatas chauvinistas, atendendo sua “base”. A 25 anos da Rio 92, tempos bizarros: a hora e a vez dos energúmenos.

*escritor, jornalista, secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas







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