Maurice Strong |
O
então denominado “efeito estufa” era visto pelo viés geopolítico do conflito
norte-sul. Os grandes emissores ainda eram os países desenvolvidos, EUA, Europa
e Japão. Os “emergentes” reivindicavam primeiro se desenvolver para depois começar
a cortar suas próprias emissões.
Um mediador incansável, o empresário canadense
Maurice Strong, “facilitador” da ONU, dava nó em pingo d’água. Resultou
vitorioso, na undécima hora, ao convencer Bush, pai, a assinar a Convenção do Clima. A Rio 92 foi
um sucesso ao contrário do que vinha agourando a imprensa. No seu discurso, ele garantiu que os EUA
iriam “ para além do acordado”. Richard Nixon criara a Agencia de Proteção
Ambiental (EPA) e Bush, pai, assinava a Convenção. Já não se fazem mais presidentes republicanos
como antigamente...
As
indústrias do carvão e do petróleo reagiram passando a financiar uma pletora de
think tanks, personalidades e
campanhas negacionistas, a exemplo do lobby
do tabaco, dos anos 50 e 60, na sua negação do nexo entre cigarro e câncer
do pulmão. Políticos republicanos receberam “propostas que não podiam recusar”
tipo Don Corleone. Negar as mudanças climáticas provocadas pela atividade
econômica humana passou a abrir as portas a generosos financiamentos de
campanha. Já advogar por essa causa taxada de liberal --no significado
americano de “esquerdista”— os expunha a
rivais raivosos e bem financiados nas primárias do seu estado ou distrito
eleitoral. Essa estratégia implacável, levada à perfeição pelos milionários
irmãos Charles e David Koch, fez do clima um assunto ideológico, figadal.
O
governo George W. Bush, filho, foi dominado por negacionistas mas, ao final,
infletiu seu discurso sob pressão da realidade e de desastres climáticos como o
furacão Katrina que arrasou Nova Orleans.
Afinal, acompanhou uma evolução que se esboçava em setores do
empresariado que incorporaram o tema aderindo ao conceito que ganhara corpo na
Rio 92: “desenvolvimento sustentável”. Isso não reverteu a atitude visceral de
políticos republicanos como o senador John Inhofe quem exibiu uma bola de neve
no plenário do Senado para “provar” que o aquecimento global era uma falácia.
Durante os oito anos do governo Obama permaneceram absolutamente coesos.
Republicanos d’antes ativos como os senadores John Mc Cain e Susan Collins, com
posições similares às da direita europeia, recuaram.
Donald
Trump chegara, no passado, a assinar
manifestos pró-clima mas, depois, alinhou-se aos negacionistas para compor
melhor seu personagem casca grossa, anti-cosmopolita, xenófobo, e, sobretudo,
anti-Obama. Curiosamente, algumas daquelas forças econômicas começam a
reconsiderar o assunto. Rex Tillerson, ex-presidente da Exxon Mobil, foi
contrario a deixar o Acordo de Paris (chegara
a defender até uma taxa-carbono!). Trump preferiu dar uma banana ao
mundo --que “está rindo da nossa cara, com queixumes “comerciais” e bravatas
chauvinistas, atendendo sua “base”. A 25 anos da Rio 92, tempos bizarros: a
hora e a vez dos energúmenos.
*escritor, jornalista,
secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas
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