20/02/2017

O elefante na cela

O sistema carcerário brasileiro que é perverso e converteu-se no quartel general das facções do tráfico.  Lá os criminosos mais inteligentes, violentos e cruéis mantêm seus postos de comando melhor protegidos dos rivais nas comunidades ou dos policiais do arreglo e/ou extermínio. Contam com a colaboração de numerosos funcionários subornados ou ameaçados. Abaixo deles está a massa carcerária, inesgotável fonte de recrutamento. Ocasionalmente, ocorrem massacres entre facções rivais que também constituem formas de chantagear os governos para acordos obscuros. A solução que o governo anuncia para o futuro são novos presídios. 

 O Brasil se recusa a olhar para o elefante na cela: uma política de drogas responsável pela sua superlotação com meliantes pé-de-chinelo encarcerados por vender drogas, sem prática de violência ou posse de armamento.  Não possuem os recursos nem as conexões que permitem aos violentos e organizados explorar as muitas brechas do sistema. Ficam a sua mercê, são os calouros da universidade do crime. Sairão “formados”: mais conectados, mais preparados e dispostos a matar. As prisões deveriam ser primordialmente para os violentos. Para os não violentos, com algumas poucas exceções, há outros tipos de penas serviriam melhor a sociedade. 

 Há uma renovada discussão sobre a legalização da maconha ou sua descriminalização. Defendíamos isso nos idos dos anos 80: um cidadão deveria ter livre arbítrio, não cabendo ao estado puni-lo por algo que faz com --ou até contra--  si próprio.  Essa abordagem foca na proteção dos diretos civis dos usuários. A legalização da canabis, já adotada por oito estados norte-americanos, representaria um progresso mas não enfrenta o que afeta mais o conjunto da sociedade e não apenas usuários ou dependentes:  o morticínio em massa, a corrosão da sociedade, o solapamento das instituições resultantes dessa enorme economia ilegal regulada pela violência. Quantas pessoas morrem por overdose e quantas nas guerras do seu mercado? A desproporção é abissal. 

A polícia acaba com a droga ou é a droga que acaba com a polícia? Já defendi quando parlamentar e hoje sustento como cidadão a mui impopular posição favorável à legalização das drogas. Delas todas. Sim, até mesmo do odioso crack que deveria ser ministrado gratuitamente, com acompanhamento médico, em postos assistenciais para evitar que viciados patéticos, em crise aguda de abstinência, assaltem e matem pessoas inocentes por causa de uns míseros reais.

 Aqui vou me permitir ser “politicamente incorreto”:  se a droga irá matar alguém que seja apenas o drogado irremediável --que sempre existiu e existirá--    não a criança da bala perdida.  O necessário combate às drogas fracassou rotundamente pelo viés  war on drugs  do fuzil, da algema, do camburão e do presídio superlotado! Pertence ao campo da saúde pública e das campanhas –as inteligentes--   de prevenção. Elas vêm obtendo enorme sucesso contra o tabaco, droga legal tão difícil de largar.


 Sejamos claros: essa visão não tem, no momento, a menor chance de prosperar. No Congresso Nacional a tendência seria agravar a penalização dos usuários.  Sua esmagadora maioria, se puder, superlotará ainda mais as prisões, atendendo seu eleitorado. As famílias temem –e isso merece consideração-- que as drogas, se legais, tornar-se-iam mais acessíveis aos filhos.  Não têm ideia do quanto elas já o são e ainda não se perguntaram o que vem a ser pior:  esse mesmo jovem comprando droga legalmente, a luz do dia, com a substancia controlada e passível de ouvir conselhos ou, clandestinamente, da mão de bandido, financiando seu armamento, abastecendo uma economia que mata por ano dezenas de milhares de pessoas?

 O elefante se agita com seus urros medonhos, sua tromba zune pela cela da masmorra superlotada mas permanece invisível, ignorado. 

Um comentário:

  1. AMIGO DROGA
    by Ernest Timm
    Publicado no LINKEDIN Quando solicitado, apresentei um trabalho Anti-Drogas, muito elogiado pelo então SubSecretário de Justiça do RJ – F. Fernandi -. Elogios para cá, elogios para lá e... nada.
    Mas, no fundo a questão é outra: é o bolso! Quem rapidamente adquire fama e dinheiro é, mais depressa ainda, assediado por algum “amigo-droga” que vem lhe DAR, graciosamente, doses e mais doses de drogas. (isto é o chamado “investimento”). Uma vez acostumado a receber os “amigos droga”, vem o processo de dependência: são, então os "soldados da droga", já viciados, que se encarregam de “cercar” a vítima para usufruir as benesses das drogas. Então, o “babaca” paga pra todo o mundo! Está formado um"batalhão de drogaditos”.
    Depois é só colocar na conta do “trouxa” os custos da droga, acrescidos de juros, da Gerência do “amigo-droga”, da Supervisão do amigo do amigo e outros, até chegar ao Traficante. A droga é muito cara para os idiotas, para os viciados! E, o que puder ser colocado a mais, pela falta de fiscalização na qualidade e na quantidade. Como custa caro a droga!
    Assim os “amigos–drogas” vivem, dando golpes em jogadores, cantores, músicos, políticos, empresários e outros “bem-afortunado$$$$”. Até a “surfistinha” dançou nesta...
    Querem fazer uma campanha eficiente contra as drogas? PENALIZEM os “amigos–drogas”! Identificando a “profissão” e os profissionais. Viabilizem legalmente o processo contra os "amigos-drogas", com responsabilidades legais e financeiras de forma a atingir seus chefes e familiares...assim, quem tiver filho drogadito não vai deixá- sair na vizinhança drogando outras crianças. Os pais terão de arcar com o tratamento destes novos viciados! Não mais teremos: “Segurem suas cabritinhas que meu filho drogadão está na área”! Não mais!!!!
    Quem vendia drogas para Elvis Presley? Pergunta de Vestibular!
    E, para Elis Regina, M. Jackson, Maradona, Kurt K., e milhares de caras que venceram na profissão, fizeram uma grana preta e gastaram fortunas com entorpecentes e perderam suas vidas nas drogas! Onde foi parar a grana deles? Nas Contas dos Traficantes! Pó S.A. do amigo Marcola Graças aos “amigos–drogas”!
    Tirem os “amigos–drogas” do cenário e tudo muda! Mas tem que ter peito! Os traficantes do asfalto são mais que perigosos, são mortais.
    Lute, vença na vida ganhe uma baba mas cuidado com os "amigos-droga". Eles estão ao seu lado e, as primeiras doses são de graça, brindes que os espertos traficantes oferecem aos babaquinhas desavisados......
    –“Vai uma droga, aí? Irmão...***

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