30/07/2016

Uma eleição patética

Quem irá ocupar a Casa Branca, em 2017?

Pode se dizer tudo da eleição norte-americana menos que seja desinteressante. É fascinante num sentido mórbido. Patética! Custa imaginar que alguém do perfil de Donald Trump possa ser sequer competitivo mas a terrível revelação desse temporada é que ele pode ser eleito embora não seja essa a hipótese mais provável.

 A sua possibilidade depende da hipótese de uma enorme vantagem e  mobilização do eleitorado branco, masculino e pouco instruído combinado com uma  insuficiente mobilização do mosaico eleitoral que constitui o potencial eleitorado democrata: negros, latinos, mulheres e homens brancos mais instruídos. A situação econômica do país, conquanto nada fantástica,  é razoável:  melhor do que a da Europa, resto das Américas, boa parte da Ásia. No entanto, a desigualdade agravada  e a estagnação dos salários e as dificuldades,  sobretudo nos estados de indústria antiga e mineração –o chamado rust belt: "o cinturão de ferrugem"—são reais.

 A candidata democrata, Hillary Clinton, não tem o carisma do presidente Obama ou o de seu marido Bill Clinton. É alvo de décadas de campanhas de ódio republicanas e sofre a sistemática  antipatia de boa parte dos jornalistas “liberais” e  das alas mais radicais da esquerda norte-americana. A intensidade dessa rejeição é desproporcional às suas limitações e aos  erros que possa ter cometido.  A extrema esquerda norte-americana é campeã na modalidade de tiro no pé. Pelo grau de prejuízo que ela  já causou e pode causar, pode se dizer que além de ser a mais  burra do mundo é a mais perigosa. 

 Me lembro das discussões que tinha com meus amigos verdes US, em 2000, quando insistiam em manter a arrogante candidatura de Ralph Nader  naqueles estados cruciais como Flórida e Ohio. Para eles Al Gore e George W Bush eram “farinha do mesmo saco”. 

 Mais do que a fraude eleitoral na Flórida,  o que elegeu Bush  naquela eleição foram  os milhares de votos de Nader na Flórida e em Ohio. É verdade que Bush então se apresentava como uma direita moderada (compassionate conservative, um conservador com compaixão). Já  Trump não tem a menor preocupação em ocultar seu neo-fascismo ululante e  escancarado. 

 Ainda assim,  uma franja de apoiadores do senador Bernie Sanders continuou a hostilizar Hillary na convenção, não obstante a leal adesão do senador.  Privilegiam o estereotipado discurso “anti-neoliberal”, “anti-livre comércio” sobre todas outras questões: racismo, truculência, completo despreparo e falta de espírito público, comportamento empresarial fraudulento e simpatias por ditadores canalhas de todo tipo. Não chega a ser inédito: e a velha síndrome que acometeu o partido comunista alemão na ascensão de Hitler, nos anos 30: o inimigo principal não seriam os nazis mas os socialdemocratas... Deu no que deu.

 O contraste entre as duas convenções não poderia ter sido maior. O dos republicanos marcado pela ausência de alguns dos seus principais dirigentes, conservadores civilizados e por um discurso de baixo astral,  fomentador de pânico,   pontuado de arroubos megalomaníacos. 

 A dos democratas teve grandes discursos como os da primeira dama Michele Obama –o melhor de todos—do presidente Barack Obama, do ex-presidente Bill Clinton e do vice Joe Biden exprimindo o lado bom daquele país complexo mas admirável. Hillary   sem o carisma de Michele Obama ou dos maridos de ambas,  deu conta do recado:  ela foi clara, didática e mobilizadora. Não se pode negar-lhe a coerência e persistência de uma militância de longa data e sua capacidade de realização.

 Uma candidatura extremista de um partido dividido, com um aspirante a caudilho que desacata grosseiramente as normas mais elementares da praxis política e é capaz de dizer as maiores barbaridades,  dificilmente teria chance contra uma máquina bem organizada, experiente e muito mais identificada com a diversidade do país real. Só um índice considerável de abstenção como foi aquele das eleições parlamentares intermediárias de 2014 ou 2010, quando Obama sofreu grandes perdas na Câmara e no Senado, seria capaz de propiciar a inimaginável catástrofe: a eleição de um aventureiro, negacionista climático,  misógino, racista, amigo de ditadores, xenófobo, fascistóide,  ignorante  e boçal ao cargo mais poderoso do planeta com os códigos de lançamento do apocalipse nucelar a tiracolo. 

 Mas nos tempos que correm, com a extrema-direita no poder na Polônia e na Hungria, disputando na Austria, forte na França, com o Brexit em foco e a valiosa ajuda da barbárie do djihadismo o inimaginável torna-se possível. Com alguma ajuda da esquerda mais burra do mundo não chega a ser impossível. A eleição nos EUA é decidida no Colégio Eleitoral. Florida, Ohio, New Hempshire, Virginia, Iowa, Carolina do Norte, Pennsylvania, Wisconsin serão decisivos.  Al Gore teve mais votos nacionais mas perdeu  por causa da Flórida.  

 Nós brasileiros podemos ajudar, sobretudo na Flórida,  onde o voto de alguns milhares dos nossos compatriotas de dupla nacionalidade pode fazer a diferença. Foi um estado decisivo onde, em 2000, Bush ajudado pela fraude e por Ralph Nader venceu por cerca de 500 votos! A história não pode se repetir! Vamos mobilizar os brasileiros com dupla cidadania para se inscreverem e votarem em Hillary!


  

Um comentário:

  1. Se estivesse nos Estados Unidos votaria em Bernie SandersNão sabia que os EUA têm uma esquerda Todo mundo presta a atenção nos Estados Unidos mas a Rússia também tem bomba atômica Quanto a mim,estudei com meu pai,músico a maior parte da vanguarda de compositores sinfônicos russos e do leste europeuE a vanguarda norte americana tambémSalve Stravinsk,salve guerswin!

    ResponderExcluir