12/03/2015

Bibi em apuros?

As eleições em Israel se aproximam e sua importância, dessa vez, transcende o Oriente Médio. Bibi Netanyahu além de tremendamente opressivo para com os palestinos e a minoria árabe cidadã de Israel, tornou-se um problemaço para os israelenses normais, que querem viver em paz e bem estar social e para os judeus, em geral,  que ele insiste em querer envolver nas suas políticas cruéis, insensatas e nocivas. Incitando-os a abandonar a França ou a Dinamarca --exatamente o que os assassinos do ISIL querem-- ou pretendendo representa-los.

Sua aliança com os republicanos e a extrema-direita evangélica norte-americana,  explícita no patético discurso pronunciado no Congresso norte-americano,  criou um mal estar e um desconforto nunca dantes visto na comunidade judaica dos EUA da qual mais de 70% votou nos democratas e em Barack Obama, duas vezes. 

 Pretender que seu discurso paranoide, demagógico e belicista “representa os judeus de todo o mundo” como afirmou com inigualável cara de pau é uma afronta à verdade. Primeiro nem todos os judeus se identificam politicamente com o estado de Israel enquanto projeto nacional. Entre os que o fazem apenas uma minoria o apoia. A grande maioria rejeita seu abraço de tamanduá, suas políticas de nunca dar a menor chance à paz e sua abissal arrogância diante do mundo. As comunidades judaicas são politicamente moderadas e avessas ao extremismo de qualquer espécie. 

Durante muitos anos Bibi conseguiu habilidosamente conduzir a maioria dos israelenses através do engano, da dissimulação e da mentira. Nunca mexeu um dedo para viabilizar a solução de dois estados. Seu discurso de Bar Ilan no qual admitia a existência de um estado palestino foi sempre uma enganação até que dias atrás foi finalmente oficialmente “desdito”.  Ao recusar qualquer tipo de entendimento real e sistematicamente desrespeitar a liderança mais moderada que os palestinos jamais tiveram (e terão), Mahmoud Abbas, Bibi sistematicamente fez o jogo  do Hamas seu grande parceiro na recusa da paz e na manutenção da guerra sem fim. Apesar de inimigos entendem-se as mil maravilhas. 

 Algo novo parece se configurar no panorama eleitoral israelense:o não carismático e costumeiramente subestimado Isaac Herzog e sua parceira Tzipi Livni da União Sionista (trabalhistas + ex-dissidentes do Likud)  vem sistematicamente liderando as pesquisas mais recentes.  

 Eis a de hoje no Haaretz, em projeções de assentos no parlamento: União Sionista 24, Likud 21, Lista Arabe 13, Yesh Atid (centro) 12, Habayit Hayehudi (extrema-direita) 11, Kulanu (centro direita) 11, Shas (religioso sefaradi) 7, Judaismo Unido Torah(religioso ashkenasi) 6, Meeretz (esquerda) 6, Yahad (religioso) 4 e Ysrael Beiteinu (direita, russos) 4. 

 No parlamentarismo israelense forma o governo quem conseguir juntar uma coligação majoritária (mais de 60 deputados) e nada garante que Herzog/Livni venham  a consegui-lo ainda que sejam a força mais votada. Mas se a diferença for essa ou se ampliar é provável que Herzog seja o primeiro a ser chamado para tentar formar o governo. 

  Algumas coisas ressaltam da pesquisa: há um movimento de recuo da direita, em geral,  que afeta os dois partidos extremos: o pró-assentamentos Habayit Hayehudi, de Neftali Bennett --o “mini-me” de Bibi-- e o Ysrael Beiteinu,  de Avigor Lieberman estão recuando. O Likud perde seus votos não para eles mas para o novo partido de centro-direita,  o Kulanu. Lieberman, aliás,  está a um dedo de cair abaixo da cláusula de barreira de 3.5%.  

 A situação Meeretz –o único partido realmente pró-paz— já foi mais preocupante mas ainda corre risco, no contexto de um empuxe de “voto útil” na boca de urna,  por isso volto a recomendar aos amigos israelenses que votem nele. 

 Independente das pesquisas o fenômeno que chama mais atenção nessa reta final é o sentimento de rejeição pessoal a Bibi Netanyahu. Politicamente Netanyahu é o senador republicano (do Tea Party) por Jerusalém. Ninguém mais suporta o cara! Há uma mobilização espontânea gigantesca e também uma campanha extraparlamentar  nos moldes dos super PACs norte-americanos. Além disso os grandes órgãos da imprensa tradicionais  indignados com as operações mafiosas do magnata dos cassinos norte-americano Sheldon Adelson que lançou um jornal gratuito pro-Netanyahu, o Israel Hayom também resolveram ajustar as contas com Bibi. 

  Sheldon recentemente declarou: “e se Israel deixar de ser uma democracia? Qual o problema?” Pelo menos a curto prazo isso não deve acontecer e Sheldon tem razões para teme-lo. Seu amigo Bibi Netanyahu está a dois passos do que os americanos chulamente definiriam como deap shit  (dispensa traduções).

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