03/07/2014

Mais soma zero?

 Temos no Rio essas situações “soma zero”. Uma tremenda discussão sectária com fantasmas e exageros e tendo como resultado uma paralisia destrutiva. Conheço várias. Consegui vencer algumas: Dois Irmãos, Bosque da Freguesia, Prainha quando logrei conciliar os interesses da cidade com os privados. Esses dias vejo dois problemas assim.

 O primeiro é o das empenas. Penso que foi um avanço coibir a poluição visual dos outdoors e similares. Mas estender a vedação às empenas cegas de prédio me pareceu exagero. Empenas são feias e uma publicidade de bom gosto é melhor do que aquele paredão cor de burro quando foge. Penso que no caso seria melhor permitir a ocupação das empenas,  ajudar com isso os condomínios e obter uma contrapartida para a cidade e os artistas plásticos: uma empena com pintura de artista brasileiro ou residente aqui para cada três com aproveitamento publicitário.  As pinturas seriam selecionadas com a participação do público pela internet.

 Melhor que ficar este tira/bota com briga judicial interminável.

 O outro caso: Cine Leblon. Não conheço o projeto proposto pelos donos do cinema fechado. Confio na Evelyn da AMA Leblon que é uma pessoa dedicada e sensata. Talvez o projeto recusado pelo Conselho do Patrimônio não seja legal. Mas a ideia da intocabilidade do prédio atual e a recusa de se construir ali um novo, baixo, que viabilize economicamente os cinemas não me parece sensata. A turma do não-pode soma zero bem que poderia propor um outro projeto, se esse é de fato ruim,  mas manter o tombamento me parece uma não-solução tola. Aquilo não tem valor arquitetônico nenhum! Como no caso da APAC o tombamento, um instrumento de patrimônio, foi usado de forma oblíqua para defender  ambiência urbana e evitar  saturação. Concordo que um espigão ali não seria bom. Mas o instrumento correto seria outro, urbanístico.

 Vejo agora a turma anti-APAC se mobilizar. Estão defendendo o deles. Há anos sustento que aquela APAC, especificamente,  tem problemas de concepção dos quais o principal é usar o tombamento e a proteção para “congelar” edificações sem valor arquitetônico com o intuito de garantir ambiência. Era melhor usar outros instrumentos: --tutela, proibição de remembramento de lotes, e limitação de altura-- para defende-la. Na rua Conde Bernandote, por exemplo, aqueles prédios do lado esquerdo poderiam sem problema algum ser substituídos por outros da mesma altura ou com um andar de garagem a mais, com elevador. Na esquina, do outro lado da rua, foi construído um muito mais alto que indignou --penso com razão--  os do  lado,  “apacada”. Tem faltado bom senso e diálogo inteligente.


 Vamos proteger a ambiência com medidas urbanísticas e o patrimônio  com medidas de patrimônio, onde houver de fato valor arquitetônico intrínseco. E levar em consideração todos interesses legítimos dialogando com criatividade.

Um comentário:

  1. Sirkis, é uma outra aritmética: menos é mais. Neste caso específico do Cine Leblon, basta o projeto ser menos - apresentado conforme os parâmetros ofertados ao proponente - que poderá ser mais: mais adensamento de uso, mais salas de cinema, mais vitalidade.

    ResponderExcluir