22/11/2013

COP 19: quase nada, nadinha, nadowska



Imagem de uma COP esvaziada...

Toda COP sempre no finalzinho apresenta um pequenino avanço incremental em meio a uma decepção geral e dessa vez não será diferente. O problema das baixas expectativas é que as perspectivas de uma boa surpresa são frequentemente enterradas, de saída, pela falta de mobilização social que a baixa expectativa  acarreta. 

 Ninguém esperava grandes coisas da COP 19 e nesse sentido ela está sendo totalmente previsível. O texto base para a ADP a plataforma “acrescida” de Durban que, em idioma onuês,  significa preparação para o esperado acordo de 2015, na COP 21, em Paris, é um texto totalmente anódino, não diz quase nada.

 Articulações anteriores praticamente garantem que haverá anúncios, já esperados há tempos,  dependendo só de detalhes finais, em  tecnologia e florestas (o mecanismo de transferências e detalhamento do RED). 

 A discussão das “responsabilidades históricas” proposta pelo Brasil não foi a canto nenhum e a discussão de adaptação, focada na noção de “perdas e danos” provocados por desastres como o recente super-tufão nas Filipinas não avançou praticamente nada. 

 No final alguma coisa será anunciada e a bola vai rolar para a COP 20, em Lima e COP 21, em Paris.

 Quais as chances de sucesso dessas COPs dos dois próximos anos para compor um novo acordo a vigir a partir de 2020? Penso que é realista se prever que sera algo como uma versão robustecida dos NAMAS --objetivos voluntários--  de Copenhagen, que o qualificativo “legally binding” (legalmente vinculantes) será acomodado de forma ficar palatável para o Senado norte-americano cuja tendência atual seria possivelmente desautorizar e não ratificar qualquer acordo internacional do Clima como o fez nos anos 90 em relação ao acordo de Kioto assinado por Bill Clinton. 

 O voto no Senado exige uma maioria qualificada que demandaria apoios republicanos o que, atualmente, é pra lá de inviável. Com o EUA fora do “legalmente vinculante” como exigir da China, da Índia ou do Japão que o façam? 

 O eufemismo que corre nos bastidores da COP é de uma solução “criativa”.  Apesar de sua dificuldade estrutural em assinar acordos internacionais os EUA vêm reduzindo suas emissões no agregado –pela primeira vez na história—nos últimos três anos,  graças a substituição do carvão pelo gás de xisto.  

 A sinalização existente é que o novo acordo poderia conter compromisso assinado pelos países de adotar suas metas via legislação interna. Há quem diga até que isso seria melhor do que um tratado internacional "legalmente vinculante".

  Na equipe negociadora brasileira há quem lembre que é assim: “os americanos sempre negociam até a última virgula, conseguem várias concessões e, depois,  não assinam dizendo que o Senado deles não deixou...”

 Uma das razões do quase nenhum avanço em Varsóvia foi a mediocridade da condução polonesa. O grau de proatividade do país-sede tem sua importância. O seu ministro de meio ambiente preside os trabalhos. O polonês Marcin Korolec é muito fraco e teve sua demissão anunciada em plena COP! Na verdade ela se deu no contexto de uma reforma do gabinete polonês, uma dentre diversas trocas de ministros. Mas por que fazê-lo em plena COP? 

 Entra no seu lugar um personagem curioso: Maciej Grabowski, ex-vice ministro das finanças, especialista em tributação e responsável nos últimos tempos pelo dossier do gás de xisto polonês. Entre os jornalistas polacos corria a história que ele teria sido nomeado especificamente para fazer avançar a exploração do gás de xisto na Polônia. Recrimina-se a Korolec não ter sido suficientemente eficiente nisso e de ter criado “entraves burocráticos”.

  Parece meio injusto. Em primeiro lugar há uma postura geral na União Europeia, na mídia e na opinião pública bastante desfavorável a sua exploração em função de incertezas sobre impactos ambientais locais e potencial vazamento de metano. Além disso as reservas atribuídas à Polônia estão sendo reavaliadas para baixo. O país tem menos do que se pensava, não dispõe de um sistema de gasodutos implantado e tem uma densidade populacional muito maior do que os EUA, atualmente o único país que explora fortemente esse recurso. 

 Mas tudo indica que a missão de Grabowski será viabilizar o gás de xisto a ferro e fogo para diminuir a enorme dependência que o país tem do carvão (mais de 90%) e, sobretudo, não depender do gás natural da Rússia, o que é um imperativo “patriótico” que para os poloneses é mais importante do que qualquer outra consideração.


 Para “salvar a cara” Korolec permanece até o final da COP. Podemos imaginar o que será o tom do que irá anunciar hoje a noite --ou quem sabe, amanhã de manhã--  como resultado da segunda conferência do Clima feita na terra do carvão, em menos de dez anos. É bastante seguro prever que será quase nada, nadinha, nadowska

Conferência de imprensa do BASIC, ao centro o embaixador Marcondes, nosso negociador-chefe

A perfeita metáfora...

No evento paralelo do Rio Clima, Aspásia Camargo, Sérgio Xavier e Sirkis



Nenhum comentário:

Postar um comentário