O diplomata
Eduardo Saboia deveria na verdade ser condecorado. E o ex-chanceler Antonio
Pariota, caso tenha sabido com antecedência, também. A condecoração poderia ter
sido secreta para não agitar o chauvinismo boliviano. O assunto poderia ter
sido tratado por Dilma, digamos, diplomaticamente.
Ela deveria ter engolido o sapo
e deixado no ar um clima de mistério. Quem sabe a ação que salvou do
desespero um refugiado político não teria sido comandada clandestinamente pela
própria companheira Dilma? Quem sabe?
Teria sido uma solução politicamente
melhor do que aproveitar o episódio de pretexto para detonar um chanceler que a
irritava por não ter o teor de mediocridade que se exige para ser ministro (a)
no seu governo.
Mas se
estivesse de fato tão irritada com a falta de controle de Patriota sobre seus
subordinados não teria recorrido ao “enroque” permutando-o com nosso embaixador
na ONU, Luís Alberto Figueiredo. Iria demiti-lo e ponto final.
Tudo isso fica
com um certo cheiro de farsa e pega mal para o Brasil, apequena nossa estatura internacional. Um ministro de relações exteriores do Brasil
não pode cair porque um presidente boliviano ficou aborrecido. Aborrecidos devíamos estar nosotros
brasileños com o comportamento inaceitável de Evo Morales de recusar a mais de
400 dias o salvo conduto ao senador Roger Pinto, seu adversário político,
desrespeitando a regra e a tradição latino-americana do asilo diplomático.
O
comportamento de dois pesos e duas medidas salta aos olhos quando vemos o
precedente de Honduras. Fica mal para Dilma que um chanceler brasileiro caia
por ter a chateado Evo Morales.
Frequentemente
o governo brasileiro reage com absoluta passividade aos arroubos adolescentes
de nossos vizinhos “enfant terrible” assim foi com Chavez e continua sendo com Morales, Christina
Kirshner e demais bolivarianos. Até se entende, por vezes, que seja assim e,
nome de interesses econômicos, estratégicos e uma visão mais de longo prazo.
Mas demitir um ministro de relações exteriores internacionalmente respeitado e
bem preparado porque um subordinado seu em uma das quase duzentas
representações diplomáticas brasileiras corajosamente enfrentou um drama
humanitário e irritou a um regime populista semi-autoritário, é de fato demais.
O enroque (ou
gambito?) boliviano ainda vai dar panos para as mangas e promete perseguir a
rainha em suas andanças pelo tabuleiro de xadrez.
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