Como escrevi aqui, o voto útil, no Rio de Janeiro,
é uma jamanta. Tivemos portanto essa polarização desigual. Eduardo Paes foi
consagrado com uma reeleição muito expressiva: 64% do voto válido. Freixo
surfou sua onda até o limite: 28%. Como pretendia –numa situação muito mais
favorável—foi eleitoralmente além do que Gabeira havia ido no primeiro turno de
2008, mas, pela mesma razão --a ausência de outros candidatos fortes-- deixou de ir ao segundo turno. Paes venceu em
todas as zonas eleitorais com exceção da decima sexta, a grande Santa Teresa
que na verdade fica mais em Laranjeiras.
Os outros candidatos tiveram um desempenho
muito modesto, na casa de 2% e 1% e Aspásia não conseguiu o bronze. Seu
resultado foi principalmente produto das circunstâncias de voto útil e assemelha-se ao de
Chico Alencar, em 2008, que obteve 1,8% do voto válido. Ele que já havia
conquistado 23%, em 96, pelo PT. A aliança das duas grandes lideranças do ciclo
precedente, municipal e estadual, César e Garotinho não chegou a 3%. A cara
dessa eleição é a da consagração do prefeito, por um lado, e do voto
politicamente correto, radical, do outro, com a jamanta do voto útil deixando um
espaço micro para o resto. Enfim, com eu previa aqui: foi o segundo turno no primeiro.
No seu momento de consagração tanto Paes
quanto Freixo entram, imediatamente, numa zona de grande perigo. Paes, pela
maldição do segundo mandato e pela tendência carioca de colocar lá em cima para
derrubar em seguida. Até agora nenhum dos reeleitos, tanto no plano estadual
quanto municipal, inclusive dos que o fizeram no primeiro turno, foi feliz no
segundo. Brizola, César Maia e Sérgio Cabral --e de certa forma Rosinha, como
preposta de Garotinho-- foram todos infelizes
nos seus segundos mandatos de reeleição ou de regresso (Brizola). Paes vai ter
que se reinventar num momento crucial para a Cidade e transcender a si mesmo,
para ter sucesso e contrariar essa “escrita”.
Freixo conhecerá o post-festum dos campeões morais. Um
resultado exultante mas aquém da vitória
tem um day after muito complicado.
Depois da linda campanha de Gabeira de 86 --que abraçou a Lagoa, não o
Maracanã-- o PV imediatamente entrou em
crise e guerra interna e Gabeira se retraiu. Quem acabou capitalizando 86 foi o
PT. Jorge Bittar foi o Freixo da eleição
de 88. A campanha de Benedita (92) e Chico Alencar (96) contiveram “vitórias
morais” de bom calibre, sem grandes desdobramentos posteriores. `A de Gabeira, em 2008, sucedeu aquela para governador, em 2010, ainda volumosa mas que já não mais o levou ao segundo turno, --no estado é muito mais difícil-- e trouxe depois um
esgotamento de possibilidades de aliança. Já o exemplo mais radical de
um post-festum desastroso foi a recente tragédia dos verdes com a malversação
suicida da campanha de Marina Silva 2010.
A campanha de Freixo vem minada por uma luta interna no PSOL e por contradições entre uma extrema-esquerda dura e uma visão de tipo mais libertário que tendem a
explodir, provavelmente, mais cedo que tarde.
A agonia do "voto de opinião"
Na eleição para a Câmara notamos a
continuidade da inexorável erosão do voto de opinião ou mesmo de um voto de confiança
individual não vinculado ao assistencialismo. Nessa última modalidade temos o
César Maria, com 44 mil votos, um resultado certamente muito aquém do que ele imaginava. A seguir vem o mais votado do PSOL, Paulo Pinheiro, com 28 mil. O de Pinheiro não é um voto de opinião puro, tem um componente corporativo
importante do setor saúde. Em 2008 a votação “de opinião” maior fora a minha,
como quarto colocado, com 47 mil votos. O próximo “de opinião” já vem com 23 mil, o
veterano Eliomar Coelho, do PSOL.
Mas temos os voto de legenda, diriam. Até que ponto um expressivo voto de legenda representa um voto de opinião? Em 2008, o PV e, agora, o PSOL tiveram uma quantidade volumosa de votos de legenda. Sinto decepcionar, mas embora exista aí, de fato, um componente voto de opinião, o atual voto de legenda é, na verdade, primordialmente, um voto enganado (e não corrigido) para prefeito.
Explico: uma parcela significativa dos eleitores não sabe que vota-se primeiro no vereador e depois no prefeito. Imagina, como seria lógico, o vice versa. Vota no número do prefeito, e aí aparece a pergunta de confirmação do voto de legenda para vereador. Aí o nosso eleitor fica sem saco de corrigir e confirma. Depois repete o número, votando corretamente para prefeito.
Mas temos os voto de legenda, diriam. Até que ponto um expressivo voto de legenda representa um voto de opinião? Em 2008, o PV e, agora, o PSOL tiveram uma quantidade volumosa de votos de legenda. Sinto decepcionar, mas embora exista aí, de fato, um componente voto de opinião, o atual voto de legenda é, na verdade, primordialmente, um voto enganado (e não corrigido) para prefeito.
Explico: uma parcela significativa dos eleitores não sabe que vota-se primeiro no vereador e depois no prefeito. Imagina, como seria lógico, o vice versa. Vota no número do prefeito, e aí aparece a pergunta de confirmação do voto de legenda para vereador. Aí o nosso eleitor fica sem saco de corrigir e confirma. Depois repete o número, votando corretamente para prefeito.
A maior prova do que estou afirmando é o fato
de nas duas ocasiões o voto de legenda do PMDB ter sido ainda mais alto que o do PV e do PSOL.
Convenhamos, ninguém se identifica ideológica ou programaticamente com o PMDB,
pode, no máximo, querer votar no "partido do prefeito" para ajuda-lo na
governabilidade, mas, acreditem, a grande maioria o faz pelo engano já
mencionada que naturalmente tem a ver
com a fragilidade da intenção de voto daquele eleitor pelo vereador no qual teria
votado. Portanto, na sua maior parte, o voto de legenda não é um refúgio do minguante voto de opinião.
Claramente assistimos à prevalência do voto bairrista clientelista/assistencialista baseado em centros assistenciais e/ou do voto chapa branca proveniente do uso de máquina de governo. Secundariamente temos voto de tipo corporativista ou religioso (foram eleitos 5 candidatos e igrejas evangélicas). O voto celebridade dado a jogadores de futebol, radialistas ou figuras do show biz limitou-se à "mãe loura".
Claramente assistimos à prevalência do voto bairrista clientelista/assistencialista baseado em centros assistenciais e/ou do voto chapa branca proveniente do uso de máquina de governo. Secundariamente temos voto de tipo corporativista ou religioso (foram eleitos 5 candidatos e igrejas evangélicas). O voto celebridade dado a jogadores de futebol, radialistas ou figuras do show biz limitou-se à "mãe loura".
Ou seja, embora haja elementos de renovação
presentes, como a expressiva performance de Freixo que eventualmente sinaliza
uma "refundação petista", o fator de "avanço do atraso" continua a ser o dominante, nas eleições para vereador, e acredito que nas outras cidades isso seja pior ainda. Na
ausência de uma reforma política, as mesmas causas continuarão gerando os
mesmos efeitos e a hegemonia da velha (ou nova/velha?) seguirá impávida.
Jurássicos tenderemos a ser nós, os do
voto de opinião.
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