12/08/2012

Antes da tempestade...


 Estou voltando ao assunto porque a cada dia que passa o risco de guerra entre Israel e Irã --inicialmente, pois dali para frente só Deus sabe--  se explicita. Penso que hoje a probabilidade de um ataque aéreo israelense às instalações nucleares do Irã, antes das eleições norte-americanas é maior que 50%. Venho acompanhando a cena político-estratégica em Israel pelo site do Haaretz e recentemente há dois artigos muito significativos. Uma reportagem de Ari Shavit  narrando uma conversa com um “tomador de decisão” não identificado mas que ele claramente revela nas entrelinhas --menção ao piano de cauda, na sala--  como sendo o ministro da Defesa Ehud Barak, que deixa pouca margem de dúvida. Canta a bola de forma detalhada: defende atacar agora.

 Outra matéria importante do Haaretz é análise uma  em relação a atitude frouxa da comunidade internacional, leia-se EUA e Europa, sobretudo. No caso da administração Obama, é uma situação compreensível. Até as eleições o poder de chantagem de Netanyahu é considerável. No caso da Europa é menos compreensível, afinal se o preço do petróleo explodir a economia europeia  se afunda mais ainda no atoleiro.

 Barak se acha um gênio estratégico e sua análise na conversa com Shavit é taticamente inteligente mas estrategicamente burra. Seus erros de cálculo são notórios: fracasso na negociação de Camp David, no final da era Clinton, quando estava seguro de poder enfiar goela abaixo termos de acordo que nenhuma liderança palestina poderia aceitar, responsabilidade no mito destrutivo de que “não há parceiro” entre os palestinos para a paz. Sua mão pesada no início da segunda intifada contribuiu para piora-la. Depois foi responsável por destroçar o partido trabalhista  e transformou-se no principal aliado de Netanyahu. Pessoalmente penso que Barak é ainda pior que Bibi.

Toda análise de Barak parte de pressupostos sombrios, raciocínios de curto prazo e um paradigma que em nenhum momento contempla uma iniciativa de paz mais audaciosa quer na questão do nuclear iraniano quer na palestina e árabe em geral. É uma estratégia que simplesmente não dá chance alguma à paz e se encaixa no paradigma atual de Israel: ampliação dos assentamentos rumo a um grande Israel com apartheid e bantustões palestinos, recusa a reconhecer e colocar na mesa o armamento nuclear israelense e política de chantagem em fatos consumados em relação ao EUA confiando no taco do lobby da AIPAC e sua influência no congresso norte-americano.

 Dentro desse pressuposto há de fato uma “janela de oportunidade” taticamente favorável a um ataque antes das eleições norte-americanas e tomando partido da guerra civil na Síria que cria evidentes dificuldades políticas e militares para o Irã e seus aliados do Hezbollah. Mas Barak não leva em conta os fatores políticos, as questões estratégicas de médio e longo prazo e a vulnerabilidade de Israel a uma guerra de atrito de longa duração: uma guerra com foguetes caindo meses a fio sobre seu território  e obrigando seu exército a invadir territórios, expondo-se a baixas como as na segunda guerra do Líbano às quais sua sociedade é muito mais vulnerável do que a dos seus inimigos. Nunca foi tão verdade aquele dito: uma guerra sabe-se como começa mas nunca como acaba. 

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