19/05/2011

A capitulação

 Em português claro: o governo capitulou perante os ruralistas. Pesou nesse recuo constrangedor a ofensiva de mídia --certamente originada pelos próprios ruralistas--  contra o ministro chefe da Casa Civil,  Antônio Palocci. O acordo foi em torno da oposição recuar em suas tentativas de convocá-lo e não obstruir duas medidas provisórias que interessam ao governo em troca de se votar, na próxima terça feira, o relatório Aldo Rebelo na sua última versão de plenário (aquela com a pegadinha que destrói o plano nacional de combate ao desmatamento ao jogar para escanteio o mecanismo que nega crédito de bancos oficiais aos desmatadores) mais uma emenda ruralistas, patrocinada pelo PMDB,  que pura e simplesmente abre caminho para futuros desmatamentos em APP, inclusive e explicitamente em áreas de mananciais(!)

  Aparentemente está combinado que para salvar a honra o PT votararia, em bloco ou em parte,  contra essa emenda mas que ela será aprovada pelos votos da oposição com a maioria da base do governo. Enquanto isso,  o ministério do Meio Ambiente anuncia um aumento de mais de 500% do desmatamento no Mato Grosso já na antecipação do novo Código Rural. Esse processo vai se agravar brutalmente nas próximas semanas e as repercussões internacionais serão péssimas. Ontem já apareceram na BBC notícias do aumento brutal de desmatamento na Amazônia. Os ruralistas mentem quando falam que sua luta gira em torno de áreas de agricultura e pecuária consolidadas. Estão desencadeando a dinâmica de uma novo ciclo de devastação agora dentro da lei. A sinalização para os desmatadores é clara: liberou geral!

 Na verdade o governo conseguira derrotar em plenário a convocação de Palocci. Os ruralistas e a oposição passaram então a tentar tentar fazê-lo pela Comissão de Agricultura. O governo decidiu capitular e os ruralistas comemoraram ruidosamente.    O PV em plenário votou contra a convocação de Palocci, neste momento,  por entender que:

1) Era óbvio e ululante que a denúncia fora suscitada pelos ruralistas porque Palocci vinha sendo uma peça chave na tentativa de equilibrar minimamente o Código Florestal, dialogando com os ambientalistas. Por isso virou alvo deles.
2) O fato dele ter enriquecido prestando consultoria como deputado, em si, não constitui motivo para uma convocação na ausência, até agora, sequer de denúncias concretas de que esse enriquecimento se deu envolvendo práticas ilegais ou ilícitas
3) Boa parte dos deputados mantém atividade empresarial  e pode discutir-se se não seria conveniente estender a eles a vedação de atividades de consultoria ao setor privado que hoje existe no executivo.  A mera notícia de enriquecimento não constitui, por si só, razão para submeter esse ministro à inquisição parlamentar e ao circo de mídia que vem acoplado quando é claro que trata-se de uma vendetta ruralista. 

 Seria mais confortável entramos em modo udenista e fazemos coro pavolviano com o indignismo sobretudo pelo enriquecimento ser, de fato,  considerável e de existir a possibilidade de tráfico de influência embutido nas consultorias. Hoje no Brasil essa fronteira é tênue e sua diferenciação complicada e altamente subjetiva. De qualquer maneira nada mais confortável do que se juntar-se ao coro dos indignados contra a boa da vez. Não seria, no entanto,  leal com os únicos aliados que temos nessa luta dificílima que envolve pura e simplesmente a sobrevivência dos nossos ecossistemas e o futuro da humanidade: o PT e parte do governo, inclusive o Palocci, pelo qual, pessoalmente, nunca tive muita simpatia mas que, nesse caso, vinha agindo com responsabilidade e correção, pelo menos até ontem.

  Por isso perdemos a oportunidade de uma “faturadinha ética” na mídia e algumas pessoas talvez não entendam e questionem mas a explicação é essa, com toda clareza: com todos seus problemas e nossas divergências e suas contradições internas, nos últimos embates ambientais na Câmara o PT foi nosso aliado para derrotar o ruralistas na batalha do Glifosato e resistir, até agora, em relação ao Código Florestal. Os tucanos, meu Deus, que vergonha!!! No episódio do Glifosato votaram todos,  com exceção do dep. Ricardo Tripoli que saiu do plenário,  no descarado “contrabando” ruralista que estendia incentivos fiscais da MP 512,  destinados à indústria automobilística, aos agrotóxicos. O PPS nosso parceiro de bloco --que penso deveria ser rompido em breve--  com poucas e honradas exceções está totalmente alinhado com os ruralistas.

 A semana legislativa se fecha com nuvens escuras no horizonte. Parece provável que na próxima terça-feira a Câmara de Deputados aprove um novo Código Florestal que abrirá um novo e dramático ciclo de desmatamento. Temos cinco dias para a sociedade civil se mobilizar e para a imprensa, particularmente a de São Paulo, cair na real e perceber as conseqüências do que está para acontecer.

Estão vendendo gato por lebre e ela está comprando. 


O FRANKENSTEIN NUCLEAR DA MP 517


Uma das medidas provisórias que o governo que aprovar urgentemente é a MP 517 um Frankenstein legislativo que mistura alhos tributários (Banda Larga, Marinha Mercante, licitações da Copa do Mundo)  com bugalhos nucleares. Concede meio bilhões de reais de incentivos fiscais para a construção de usinas nucleares. Nome sintomático do  programa: Renuclear.  Voltarei ao assunto. 

Um comentário:

  1. Mandou bem, Deputado! Sabedoria,sagacidade, lealdade e alto senso estratégico! Concordo plenamente!

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