O presidente Jair Bolsonaro tem razão quando
afirma que o desmatamento “é cultural”. Sabe do que fala, é sua essa cultura.
Procurou impedir –possivelmente incorrendo em crime de responsabilidade—a
destruição de tratores com correntões, motosserras, barcaças de garimpo clandestino
e outros equipamentos. Coibi-lo representa uma dificuldade e um risco adicional
à combalida fiscalização ambiental que tanto odeia. Incitou à invasão de terras
indígenas por desmatadores e garimpeiros, tentou intimidar e desmoralizar o
INPE, órgão de excelência científica, respeitado em todo o mundo e promoveu o
desmonte de estruturas e normas de proteção ao meio ambiente, clima e
biodiversidade rifando recursos à fundo perdido ao Fundo Amazônia.
Já
tivemos governantes de diferentes quadrantes que sacrificaram o meio ambiente para
favorecer, legal ou ilegalmente, interesses econômicos. Embora isso certamente
seja o caso dele também, há algo mais: o ódio idiossincrático à preservação do
meio ambiente e da natureza brasileira que remete `a “esquerda” empacotando-a num esdrúxulo “globalismo”, variante moderna do marxismo, uma conspiração internacional de contornos
obscuros. Na verdade, a performance ambiental
do comunismo foi catastrófica ilustrada pela morte do Mar de Aral, na URSS e
pela tragédia de Chernobil. Aqui, quando articulamos o Partido Verde, nos anos
80, a maioria da esquerda considerava ecologia um “diversionismo”. Posteriormente, parte dela passou a levar em
conta o tema, mais para ter “bandeiras
de luta” suplementares do que para fazê-la avançar na vida real.
Para Bolsonaro,
meio ambiente é “coisa de comuna” muito embora alguns de seus maiores pioneiros
tenham sido militares bem distantes desse viés: o marechal Cândido Rondon, o
major Manuel Archer, o almirante Ibsen Gusmão. Psicologicamente o presidente se
identifica mais com o garimpeiro ilegal que invade a terra indígena e polui
seus rios com mercúrio, o grileiro desmatador que se apropria da terra pública
desmata, coloca uns bois magros sobre ela e vende para seguir adiante com sua
ação especulativa logo legalizada por um sistema cartorial corrupto e políticos
venais.
O
agronegócio moderno cuja cultura é dinheiro, não ódios idiossincráticos, anda
apavorado com os prejuízos às exportações. Nunca o filme do Brasil esteve tão
queimado internacionalmente. Em 2013, estive numa reunião da União Europeia, em
Bruxelas, como parlamentar ambientalista,
para questionar seu protecionismo contra
nosso etanol de cana garantindo aos europeus que ele provinha de regiões bem distantes
da Amazônia. Agora Bolsonaro acaba de liberar seu cultivo na Amazônia e no
Pantanal dando um belo argumento a esses protecionistas. Pela legislação e normas vigentes, anteriores
ao Acordo de Paris, ainda relacionadas
ao de Copenhagen(2009), as NAMA (Ações Nacionalmente Determinadas), deveríamos chegar, em 2020, a menos de 3 900km2 desmatados, na Amazônia. O
PRODES verificou 9 750km2, de agosto de 2018, a junho de 2019. Em setembro, o
DETER detectou aumento, em relação ao mesmo mês do ano passado, de 222%. Ou
seja, seguimos em alta desabalada. Até porque é , sim, uma cultura. E no poder.
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