A Rede travou essa semana um intenso
debate sobre a questão da redução da maioridade penal. Participei dessa
polêmica com uma posição considerada por alguns “conservadora”. Não me
surpreende o adjetivo que naturalmente recuso. Venho defendendo a muito tempo
uma posição radicalmente crítica à leniência brasileira com a criminalidade
violenta. A noção do bandido como “vítima da sociedade” por cujas injustiças
devemos todos pagar por submissão a essa violência enquanto tentamos “reeducar”
os criminosos.
Defendo o fim da “progressão de pena” e penas
longas sem remissão para autores de crimes violentos. Por outro lado defendo
que delitos sem violência sejam prioritariamente tratados com penas
alternativas e sou favorável a legalização controlada das drogas –de forma
internacionalmente concertada—para quebrar a logística dos cartéis e do
narcovarejo armado, e esvaziar as prisões de traficantes sem violência, ao
acabar com a figura do traficante. Não tenho ilusões, parte migrará para outros
delitos e se forem de violência devem ser punidos com longas penas e prisão.
Finalmente: que a função primordial da prisão não é “punir” muito menos “vingar a sociedade”
nem --embora isso seja um objetivo importantíssimo-- “recuperar” ou “reeducar”. Para mim a sua prioridade absoluta é proteger as pessoas da violência mantendo os perigosos
fora de circulação.
Também venho defendendo uma reforma radical das polícias
com a dedicação exclusiva e o fim da profissão como “bico” induzido pelos baixos salários junto com as
“escalas de serviço” que levam o policial a trabalhar apenas uma ou duas vezes por
semana, na polícia.
Não tenho autorização dos que comigo
polemizaram para reproduzir os seus textos e nem tudo que foi polemizado na
Rede deve ser publicamente divulgado pois pode dar lugar a distorções e
explorações malévolas como as que temos sofrido. Vou reproduzir minhas posições
na discussão contextualizando o tópico ao qual se referem, na forma de
entrevista.
Você
votará a favor da redução da maioridade penal?
Não sou favorável à proposta de
baixar a maioridade penal, neste momento.
Mas fique claro: não é porque seja moralmente contrario ou por que ache que
ela constituiria um terrível atentado aos direitos humanos ou algo que o valha,
mas porque de forma prática me parece um caminho, ineficaz para o que considero a prioridade: reduzir a
criminalidade violenta e os riscos enfrentados pela população.
Moralmente, penso que todos temos direitos e deveres e se existe
o direito de voto aos 16 anos também podemos perfeitamente sermos criminalmente
responsáveis aos 16 anos. Em outro países democráticos há limites mais baixos
ou outras formas de tratar a criminalidade violenta de menores e nem por
isso são países menos democráticos ou respeitosos dos direitos humanos que essa
nossa terra do faz-de-conta chamada Brasil.
A questão para mim não é tanto da
maioridade penal mas de medidas que isolem os menores violentos das suas vítimas
em potencial, protegendo-as. Isso pode ser obtido ampliando os prazos de
internação para além dos atuais três anos em situações de comprovada
periculosidade.
Mexer
agora na maioridade penal é contraproducente e de difícil implementação. Haverá uma interminável
discussão no STF se trata-se de “clausula pétrea” da Constituição ou não.
Penso que não vai ao cerne da
questão que é a criminalidade violenta. O que estou
afirmando da forma mais enfática e brutal possível é: quem assalta de forma reincidente, mata, estupra deve ficar longos anos impedido de
continuar fazendo-o e isso se aplica também, embora de forma diferenciada, aos menores de idade que o façam.
Defendo, portanto, novos mecanismos incorporados ao próprio Estatuto ampliando o tempo de detenção para uma pequena minoria de menores violentos que cometeram crimes graves como os que menciono acima.
Defendo, portanto, novos mecanismos incorporados ao próprio Estatuto ampliando o tempo de detenção para uma pequena minoria de menores violentos que cometeram crimes graves como os que menciono acima.
Esses,
que são muito perigosos precisam ser mantidos fora de circulação por períodos
superiores aos atuais três anos. O critério
não é punitivo, é defensivo. Estou me referindo aos menores que
representam uma ameaça direta e imediata porque repetidamente assaltaram a mão
armada, mataram, estupraram ou feriram pessoas inocentes.
Afirmam que esses seriam apenas 1,5% ou 0,9% dos menores
infratores. Ok, então fique claro que me refiro especificamente a estes. É indispensável a
criação de um mecanismo capaz de mantê-los presos porque sua periculosidade é,
de fato, altíssima. A probabilidade de
um deles te matar durante um assalto é muito maior do que isso acontecer com um
bandido experiente.
Atualmente eles voltam rapidamente às ruas da forma porque na doutrina vigente se assume que a "sociedade" é culpada e deve que ser submetida a eles enquanto tenta “reeduca-los”.
Atualmente eles voltam rapidamente às ruas da forma porque na doutrina vigente se assume que a "sociedade" é culpada e deve que ser submetida a eles enquanto tenta “reeduca-los”.
Enquanto permanecem isolados eles devem
receber a melhor assistência para a recuperação que se possa se dar mas não
essa tolerância culposa, moralmente covarde, que lhes permita voltar rapidamente às ruas
para fazer mais do mesmo.
Fique claro: se eu tiver que escolher entre um deles ficar mais anos fora das ruas ou alguém correr o risco de ser vítima de latrocínio, prefiro a primeira hipótese.
Fique claro: se eu tiver que escolher entre um deles ficar mais anos fora das ruas ou alguém correr o risco de ser vítima de latrocínio, prefiro a primeira hipótese.
Dirão: “as instituições que temos
não conseguem recuperar !” Bem, as
prisões para os maiores de idade também não e nem por isso vamos botar os
assaltantes, estupradores e assassinos de volta na rua. Concordo que os atuais
sistemas de atendimento a menores infratores são horríveis, mas isso não justifica
soltar os violentos.
Essa ínfima minoria de altíssima periculosidade
--volto a afirmar, têm muito mais probabilidade de matar alguém que um bandido mais rodado-- não pode ser tratada soltando-se no dia seguinte do
assassinato que cometeram a espera que se dê a "redução das
desigualdades sociais".
Precisamos, sim, melhorar muito essas instituições e,
infelizmente, não será do dia para a noite. Podemos manter a maioridade penal
atual desde que se possa conservar os violentos realmente perigosos afastados
de suas vítimas em potencial por mais tempo e se possa dispor desse tempo para tentar
recupera-los.
Se os "direitos" de menor
violento e perigoso vão sofrer com isso, francamente, paciência. No final das
contas, mantê-los presos talvez não os recupere --embora
haja mais chance disso acontecer do que quando soltos no dia seguinte num
desfecho de onírica impunidade!-- mas protege mais as vítimas, em potencial.
Mas em que exatamente diminuir a idade penal, como proposto, seria contraproducente?
Pela
mesma razão que votei conta do agravamento de pena para traficantes na Lei de
Drogas que foi aprovada: aumentará a população carcerária de pessoas não envolvidas
em violência e irá torna-las mais susceptíveis de se transformarem em
violentas na escola de crime que são essas prisões.
É conveniente
manter os menores presos, separados dos maiores. Isso melhora suas chances de uma
eventual recuperação mas não pode ensejar a impunidade absurda que existe
hoje.
Por outro lado, a grande maioria dos menores hoje presos por
tráfico de drogas, sem armas nem violência, simplesmente não deveriam estar presos! Inclusive acho não deveriam estar presos nem internados os traficantes sem uso de violência maiores de idade que constituem atualmente uma grande parte da população carcerária. É uma das razões pelas quais sou favorável `a legalização da droga ainda que nesse caso uma parte deles provavelmente vai migrar par outros delitos.
Sou favorável à legalização controlada das drogas justamente para combater a
violência da criminalidade armada que perderia sua melhor base
logística e de controle sobre contingentes de população e
territórios. Defendi isso na tribuna da Câmara mesmo sabendo que 85% da
opinião pública e todos os deputados com exceção em uns cinco ou seis, são
contra.
Com as leis de drogas que temos
--inclusive com a recente decisão da Câmara, caso seja mantida-- uma eventual redução da maioridade penal
para 16 anos, teria como efeito prático aumentar substancialmente a população carcerária de
presos não envolvidos com crimes violentos!
Meu ponto é: por um lado, muito menos presos mas, por outro, penas mais longas para os violentos, perigosos, que atualmente no Brasil
voltam às ruas mais rápido do que em qualquer outro país que conheço!
Nenhum outro país é tão leniente! No
Brasil mata-se, corta-se em pedacinhos, queima-se no pneu e sai-se da prisão em
quatro, cinco, anos como a maior parte dos assassinos do jornalista Tim Lopes,
por exemplo. Em nenhum outro país um criminoso cruel desse ficaria menos de 20
anos cumprindo pena. Aliás, um dos assassinos já tinha se beneficiado
anteriormente de outra "progressão" anterior.
É preciso diferenciar de maneira clara delitos violentos de
delitos sem violência inclusive para menores porque eles são perfeitamente
capazes de raciocinar em termos de custo/benefício. Sendo o custo da violência muito maior a tendência é evita-la na
medida do possível. Pelo menos alguns o farão e isso já será um ganho para a
sociedade.
O
foco da repressão não deve ser a droga --um beco sem saída-- comportamentos ou
mesmo delitos contra o patrimônio sem violência, o foco devem ser os crimes
contra a vida. Matar precisa virar um mau negocio.
O discurso que se contrapõe a isso ressalta as
injustiças sociais sustenta que a
repressão jamais deve ser a resposta pois apenas combate os efeitos de
problemas de sociedades muito desiguais. A solução seria educação e redução das
desigualdades sociais nunca a repressão.
Penso ser desastroso
politicamente esse discurso pobre-bandido--vítima--da--sociedade. É um desrespeito
a dezenas de milhões de pessoas pobres que vivem honesta e humanamente e nunca
cometem crimes. Responsabilizar "a sociedade" pelos crimes mais
bárbaros cometidos por indivíduos em nome de um discurso supostamente "de
esquerda" nos deixa na contramão do que sente e pensa a esmagadora maioria
do população brasileira.
Nos torna incapazes de fazer frente ao seu mais grave
problema: o de não se sentir-se seguro, de estar privado ter o direito de ir e
vir, de não ter a garantia da própria vida e da dos seus filhos.
Considero fatal para a Rede a eventual adoção
de um discurso de leniência com a criminalidade violenta, apanágio de um certo
tipo de esquerda que cultiva a figura do
"marginal-herói", do
bandido-vítima-da-sociedade, do traficante Robin Hood e pratica a
sistemática satanização da polícia, em qualquer circunstância. Ela simplesmente despreza a preocupação de segurança das
pessoas comuns consideradas fazendo parte de uma “sociedade injusta” e,
portanto, merecedoras de padeceram das
suas "consequências".
O exemplo mais eloquente disso é
a explosão da criminalidade violenta na Venezuela, apesar dos relativos avanços
sociais do estado assistencialista-clientelista. Se formos tomar esse caminho
iremos nos divorciar duradouramente da imensa maioria da população brasileira
que vê cada vez mais a sua própria segurança como um dos seus maiores
problemas.
Percebemos
nas ruas os assaltantes "de menor" grandes, fortes, ameaçadores, semeando o medo, debochando dos transeuntes na
hora da prisão pois sabem que vão estar fora de novo para assaltar em
pouquíssimo tempo. Cada vez mais as quadrilhas utilizam "de menores" para cometer toda sorte de crimes, inclusive assassinatos, beneficiando-se das generosas brechas do Estatuto.
O que mais choca nessa visão é a ilusão de que o mal
não existe. Não admitir que há pessoas cruéis, perigosas, psicopatas das quais as
pessoas inocentes precisam ser protegidas. Milhões que jovens passaram pelas
privações sociais graves e nem por isso se tornam assassinos.
Portanto, esse discurso metido a "politicamente correto" é de avestruz. Soa bonitinho
mas, na vida real, promove o contrário
do que pretende. Problemas sociais graves sempre vão existir – até na Suécia,
um dos países mais igualitários com um rede de assistência social fantástica--
e sua melhoria no Brasil já está acontecendo, há uma década, e continuará acontecendo, gradualmente,
ajudando como um pano de fundo, mas isso não incide direta, automática ou
expeditamente sobre a problemática da violência como alguns tolamente acreditam.
Com boa políticas públicas, mobilização e foco poderemos gradualmente diminuir o grau de exclusão social e humana que estimula (mas não provoca diretamente nem inevitavelmente) a violência.
Com boa políticas públicas, mobilização e foco poderemos gradualmente diminuir o grau de exclusão social e humana que estimula (mas não provoca diretamente nem inevitavelmente) a violência.
Ao progresso social precisa
corresponder maior eficiência da justiça e da polícia, da capacidade da
sociedade organizada em proteger seus cidadãos da violência pela prevenção,
repressão e, eventualmente, encarcelamento, não com o propósito de "vingar" mas proteger
os inocentes.
Reeducar faz parte disso mas, atenção,
nem todos são reeducáveis.
Estão
criticando seu discurso como “conservador”...
Esse meu posicionamento de ampliação da
detenção de menores autores de delitos graves com violência como uma alternativa à
redução da maioridade penal se articula com uma posição totalmente contrária à "progressão" de pena para assassinos, assaltantes e estupradores, que
permite autores de crimes bárbaros saírem da prisão em 4 anos --só no
Brasil!-- mas, também, com minha
posição favorável à legalização controlada das drogas --dependendo de um
mínimo de concertação internacional-- para quebrar a melhor fonte logística da
criminalidade violenta organizada ou semi-organizada e, em geral, o fim de todo
tipo de repressão a delitos de natureza comportamental junto com penas alternativas
ao encarceramento para delinquentes não-violentos. É um mix de medidas.
Devemos, sim, focar na criminalidade violenta para educar tanto os delinquentes quanto a polícia. Para uns uma equação
custo/benefício para desestimulá-la: o tráfico armado deve ter penas muito mais
severas que o desarmado (isso enquanto não se legaliza a droga). No caso da
policia, ela precisa ser induzida a focar na prevenção e no combate à violência e
não como hoje agir erraticamente num leque disperso, com a
prioridade frequentemente definida pelo delito mais susceptível de
reverter num achacamento mais rentável e seguro...
Finalmente: a prevenção deve ser prioridade absoluta.
Por exemplo, a ação que me parece a mais
crucial de todas é um amplo programa para subsidiar a permanência do adolescente em
situação de risco na escola, prevenindo a evasão, remunerando-o por
estudar e valorizando ao máximo seu rendimento escolar.
O mecanismo de bolsa-escola incorporado ao bolsa-família foca na criança, mas são raras as famílias, mesmo desestruturadas, que não garantam a matrícula dos filhos pequenos e sua permanência no ensino elementar. Já na adolescência, sobretudo no ensino secundário, há uma forte pressão familiar e social para que o jovem abandone a escola para gerar renda.
É aqui que deve se dar uma intervenção poderosa para evitar a evasão escolar que é a porta de entrada para a marginalização e depois a criminalidade.
O mecanismo de bolsa-escola incorporado ao bolsa-família foca na criança, mas são raras as famílias, mesmo desestruturadas, que não garantam a matrícula dos filhos pequenos e sua permanência no ensino elementar. Já na adolescência, sobretudo no ensino secundário, há uma forte pressão familiar e social para que o jovem abandone a escola para gerar renda.
É aqui que deve se dar uma intervenção poderosa para evitar a evasão escolar que é a porta de entrada para a marginalização e depois a criminalidade.
Portanto, propugno um conjunto de medidas,
algumas "duras" outras liberalizantes cujo foco de intensidade deve
ser reduzir a violência e dar mais segurança ao cidadão nas ruas e em casa. E
também fazer com que todos assumam as responsabilidades e consequências de seus
próprios atos. Isso é um "discurso conservador"? Questão de
ponto de vista...
Não há responsabilidade alguma em nenhum ser humano antes da construção de todas as etapas de desenvolvimento psíquico e cognitivo Um bom estudo de psicologia do desenvolvimento educacional(Piaget,Vigostky,Montessori,Freire,....)coloca a questão da maioridade penal em pratos limpos Um Abraço Maria
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