Não há mais vestígios da batalha a não ser, no Parque, as fotos dos sete manifestantes mortos no país durante os confrontos. A Tahir é acanhada mas o Parque chama atenção pela intensidade de uso e pela clara relação que a população estabeleceu com ele. É o típico parque bem sucedido ao qual se referia Jane Jacobs, em Morte e Vida de Grandes Cidades, quando relacionava o sucesso e fracasso dos parques com sua intensidade de uso e esta com a diversidade das vizinhanças. Querer acabar com o Parque para construir uma caserna otomana fake e um shopping é uma aberração urbanística sem mais tamanho! Demolir o centro cultural dedicado ao Kemal Ataturk, pai da moderna Turquia, conflita com a parte laica do país e mexe com o seu simbólico de forma provocadora.
Os confrontos na Turquia precederam de poucos dias –e de certa forma influenciaram os do Brasil-- mas a reação do poder aqui foi marcadamente mais ‘mão pesada’. Houve umas três mil prisões e boa parte dos presos permanecem enquadrados na lei anti-terrrorista, inclusive 64 jornalistas! Outros 123 estão respondendo em liberdade mas podem ser condenados a longas penas de prisão, por artigos que escreveram. Advogados também sofrem fortes intimidações.
O primeiro-ministro Recep Erdogan vem se tornando cada vez mais autoritário num estilo meio Chavez, meio Vladimir Putin. No próximo ano haverá eleições presidenciais e ele, que não poderá permanecer, constitucionalmente, como primeiro ministro, depois de 2015, data das próximas eleições parlamentares. Ele quer se candidatar mas quer reforçar os poderes da presidência, hoje limitados fazendo um referendum e antecipando as eleições parlamentares.
Para tanto precisaria reformar a Constituição. Seu partido islâmico "liberal" atualmente teria, em tese, maioria para tanto no Parlamento mas está dividido. O presidente Abdullah Gul, seu velho amigo, discorda da postura de Erdogan e anda atrapalhando seu planos. O partido islâmico-conservador de ambos, o AKP corre o risco de racha.
Para tanto precisaria reformar a Constituição. Seu partido islâmico "liberal" atualmente teria, em tese, maioria para tanto no Parlamento mas está dividido. O presidente Abdullah Gul, seu velho amigo, discorda da postura de Erdogan e anda atrapalhando seu planos. O partido islâmico-conservador de ambos, o AKP corre o risco de racha.
O contexto internacional não é bom. Erdogan priorizava as boas relações com os vizinhos e agora tem problemas com a Síria, ensanguentada por Bachar Assad, más relações com o novo regime do Egito, que derrubou seus aliados da Irmandade Muçulmana, a questão curda pode se complicar novamente na medida em que o movimento independentista PKK ameaça suspender a atual trégua. Suas relações com o outro vizinho, o Irã também se deterioraram por causa do apoio ativo de Teerã a Bashar Assad, na guerra civil síria. Erdogan está em palpos de aranha interna e externamente.
Internamente, a situação econômica já não é tão boa (embora ótima em comparação com a dos vizinhos gregos!). A oposição é política e eleitoralmente fraca mas está crescendo como resultado indireto da mobilização da juventude na qual teve um papel pequeno. A juventude está intimidada pela repressão brutal da "democradura" hegemonista do AKP mas o recuo imposto pela repressão de Erdogan tende a ser temporária.
Se de fato Erdogan optar de vez pelo caminho chavista-putinista do autoritarismo plebiscitário os acontecimentos da Praça Tahir poderão ser apenas um começo. Por um lado sua maioria pode não ser tão sólida assim pois boa parte dela vem de um reconhecimento pelos bons resultados econômicos da última década mais que por um fervor ideológico pelo renascer islâmico otomano.
O exército turco, depois de expurgos e prisões de oficiais, supostamente golpistas, na última década, se mantêm silencioso mas sua aversão ao islamismo, mesmo na forma relativamente moderada do AKP, é notória, da mesma forma que seu apego ao legado laico -nacionalista de Kemal Ataturk. O precedente egípcio é bastante preocupante para Erdogan. Resta saber se isso o induzirá à uma maior cautela ou, como parece ser seu estilo, a dobrar as suas apostas e ver o circo pegar fogo.
Se de fato Erdogan optar de vez pelo caminho chavista-putinista do autoritarismo plebiscitário os acontecimentos da Praça Tahir poderão ser apenas um começo. Por um lado sua maioria pode não ser tão sólida assim pois boa parte dela vem de um reconhecimento pelos bons resultados econômicos da última década mais que por um fervor ideológico pelo renascer islâmico otomano.
O exército turco, depois de expurgos e prisões de oficiais, supostamente golpistas, na última década, se mantêm silencioso mas sua aversão ao islamismo, mesmo na forma relativamente moderada do AKP, é notória, da mesma forma que seu apego ao legado laico -nacionalista de Kemal Ataturk. O precedente egípcio é bastante preocupante para Erdogan. Resta saber se isso o induzirá à uma maior cautela ou, como parece ser seu estilo, a dobrar as suas apostas e ver o circo pegar fogo.
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