(desde
Bonn, Alemanha)
Em idioma onuês trata-se da segunda reunião do
Ad Hoc Working Group on the Durban
Platform for Enhanced Action , apelido ADP, que vem a ser um processo
preparatório para o novo acordo do Clima que o sistema da ONU imagina poder
assinar em 2015 para implementação a partir de 2021. Participam os
representantes dos 193 países, que são "as partes" do processo da UNFCCC, com delegações
menores que as das COP do final do ano (esse ano a COP 19 será em Varsóvia,
Polônia) e não há decisões formais a tomar. Isso permite, em tese, uma
discussão mais aberta e franca sobre as alternativas que se colocam.
O dados de fundo todos sabemos. A situação é dramática: estamos direcionados para aumentos de temperatura média
de 4 a 6 graus nesse século quando o cientistas do IPCC sustentam que aumentos
superiores a 2 graus terão efeitos calamitosos. Nada até agora no processo da
ONU indica que o mesmo seja capaz de chegar a uma concertação que em onuês
atenda ao objetivo definido como “to
bridge the gap” que vem a ser a superação da distância do máximo de redução
de emissões que os atuais compromissos internacionais, obrigatórios e
voluntários, conseguem em comparação com o mínimo necessário para atender ao que reivindica a ciência.
O déficit atualmente é calculado em 11
gigatons que deveriam ser cortadas antes de 2020 para obter o “pico” de
emissões ainda nesta década para poder iniciar uma redução geral no agregado
(emissões em número absoluto) a partir do novo acordo a vigorar a partir de
2021. A chance disso acontecer é mínima...
Embora num ambiente menos tenso que os
das COP, sem a presença da mídia e supostamente num ambiente favorável ao
diálogo e exploração de novas ideias o tom não é muito diferente. O Canadá e o
Japão “ombream o alambrado” como diz o jargão rural gaúcho. O Japão não quer
metas nem de redução nem de verbas. Aparentemente quer garantir espaço de
emissão para o crescimento que sua nova política de expansão monetária promete.
O Canadá do ultradireitista Stephan Harper quer poder emitir mais e mais e
acaba de se retirar da convenção sobre desertificação para não pagar mais uma
contribuição de 300 mil dólares (!) que considera abusiva. O próprio Harper
definiu sua política externa como uma fuck you policy o que dispensa
tradução.
Do lado “em desenvolvimento” a Índia continua
sua habitual ladainha do direito “dos pobres” continuarem emitindo porque os
ricos já o fizeram. Isso é um discurso particularmente curioso quando feito
pela sua folclórica ministra do meio ambiente (que não veio a Bonn) com todas aquelas joias
tilintando e brilhando.
De qualquer maneira rolam, em geral nos
bastidores, algumas ideias interessantes. Há uma preocupação com o que em
idioma onuês se defini como equity que
seria equanimidade. Discutem-se várias formulas para considerar as
circunstâncias diferentes dos países na hora de definir o que devem ofertar de
redução de emissões e o que podem ofertar ou receber, dependendo do caso, para
mitigação e adaptação.
Há
também crescente interesse nos mecanismos econômicos para viabilizar economias
de baixo carbono.
Meu principal propósito para vir a essa reunião,
representando as comissões de relações exteriores e de mudanças climáticas da
Câmara e do Congresso, é realizar contatos para o Rio Clima 2013, possivelmente
em outubro, que seria esse ano dedicado à economia do baixo carbono em torno
daqueles 5 pontos definidos para a Rio + 20: PIB sustentável, fim dos subsídios
aos combustíveis fósseis e taxação do carbono –até o FMI já defende!—atribuição
de valor econômico a serviços prestados pelos ecossistemas, new deal verde, grande investimento
público em emergias limpas e uma nova ordem financeira dos baixo carbono.
Para além disso estou cada vez mais convicto
que o sistema UNFCCC/COP é apenas o mínimo e mais amplo denominador comum do
processo de negociações climáticas. Importa que consiga ir o mais
longe possível mas não irá tão longe quando a fechar a conta de carbono (bridge the gap) sozinho. Sobre esse
denominador comum mínimo de consenso de 193 países será necessário construir
uma estrutura de negociação dos grandes emissores para contemplar o serviço.
Só
China e EUA já respondem por 40% das emissões e menos de 15 países já
responderiam por quase 80%. Tem que se trazer o clima para o fórum do G 20, para
o Conselho de Segurança da ONU, para a Organização Mundial de Comércio e para
outros formatos de negociação que envolvam o setor privado as agências
multilateriais e os governos sub-nacionais (estados e cidades). É preciso criar
um ciclo virtuoso econômico e tecnológico do baixo carbono para se ter uma
chance de chegar lá.
Reunião da ADP no antigo parlamento alemão, em Bonn |
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