03/05/2013

Alemanha: bye, bye aterros sanitários !



Estamos pouco a pouco eliminando os lixões no Brasil. No estado do Rio eliminamos o lixão de Gramacho, no final dos anos 90,  e mais recentemente o aterro controlado no local. Depois de anos de imbróglio político foi possível instalar o aterro sanitário(chamado central de resíduos)  de Seropédica o que trouxe um alívio pois a situação em Gramacho era dramática com o risco de um afundamento e de um desastre ambiental na baia da Guanabara. 

 A solução em si não foi a melhor. Como aterro sanitário faria mais sentido a proposta anterior, fulminada por motivos eminentemente políticos: Paciência. Situada dentro do município, muito mas perto, portanto com transporte muito mais barato e com um impacto ambiental menor.

 Se em vez de discutir onde é melhor ou pior para colocar um aterro sanitário a questão fosse: como pura e simplesmente abolir o aterro sanitário em larga escala? Fora da realidade, dirão. Mas acabo justamente de visitar essa solução “fora da realidade” na Alemanha que  praticamente já eliminou todos seus aterros sanitários a não ser para deposição de cinzas.

 É o caso de Colônia, por exemplo,  cujo complexo de tratamento de lixo e reciclagem visitei. Há uma diretiva europeia que a Alemanha e alguns de seus lander seguem de forma ainda mais estrita que acaba com os aterros sanitários e determina a reciclagem e reaproveitamento energético do lixo. Colônia produz  2.5 mil toneladas de lixo por dia, mais ou menos um quarto daquilo que geramos no Rio. 

 Há uma rotina de separação do lixo em recipientes de cores diferentes: azul, papel e papelão; marrom, lixo orgânico(comida e jardinagem); amarelo, metais diversos; cinza, lixo misturado para combustão. Há ainda uma coleta específica que precisa ser acionada individualmente para recolher resíduos perigosos, material eletrônico e grandes volumes(móveis eletrodomésticos) que funciona combinado com uma logística reversa onde o varejo é obrigado a receber de volta eletrônicos, baterias, pilhas, etc...

Há um sistema de entrega de vidros e, em particular, um sistema de recompra obrigatória de garrafas PET a um preço de 0,08 centavos de euro a garrafa ou 300 euros a tonelada. Grosso modo 40% dos resíduos são reciclados o que inferior à média alemã.

 Os 60% restantes de  lixo que sobram misturados nos conteiners cinzentos vão para o incinerador da AVG na periferia da cidade. A AVG é uma empresa de economia mista com 49,9% de capital privado (empresa Remondis) e 50,1% do governo de Colônia. O incinerador é uma instalação industrial gigantesca boa parte ocupada por um sistema de filtragem de ar que sai mais puro que o ar ambiente. Pertencem ao passado aqueles incineradores dos anos 70 que despejavam dioxinas cancerígenas para revolta dos ambientalistas.

 A atual geração de incineradores é segura, mas isso tem um custo econômico. A unidade em questão processa cerca de 700 mil toneladas/ano para gerar 350  MW de eletricidade e vapor para o parque industrial vizinho onde há grandes fábricas como a Ford e a Bayer e atende a um quarto da demanda elétrica da cidade de Colônia. Ela custou 500 milhões de euros. O incinerador recebe lixo de fora da região e, inclusive, de fora da Alemanha. Outros incineradores, situados mais o sul, acabaram sendo a providencial solução para cidades italianas como Nápoles que passaram a exportar seu lixo. 

 Agora há uma situação curiosa: o avanço da reciclagem nas cidades alemãs cria escassez de lixo combustível para produção elétrica que precisa ser suprido com importação o que evidentemente  dá margem a mais uma polêmica em torno do lixo...

 A unidade a AVG tem aproximadamente 150 funcionários, altamente qualificados uma grande parte de  meia idade. A construção tem um pátio de manobra de caminhões e  uma estação ferroviária. 

 O lixo chega, passa por esteiras e tubulações de prévia separação de metais, poeira e outros elementos e dali segue para um silo de secagem antes de ir para a incineração a uma temperatura de 1200 graus a partir do qual é produzido vapor e energia elétrica.Finalmente temos um gigantesco sistema de filtragem do ar.

 Ao lado do prédio do incinerador temos uma impressionante central de compostagem que processa lixo orgânico e, sobretudo, resíduos de jardinagem. O composto vai para a agricultura e para jardinagem. No telhado da mesma há 500 painéis fotovoltáicos produzindo uma energia distribuída de 368 kw. 

A alguns quilômetros dali há outras centrais de reciclagem tratando embalagens de papelão, móveis e galhos de maior dimensão e material de demolição.

  Claramente a reciclagem na Alemanha é uma indústria que opera numa escala gigantesca. Os números do lixo são eloquentes: 66% já são reciclados, 34% incinerados. Lixo –executadas cinzas—que vão para aterro: 0%!

 Esse tipo de solução aplica-se para o Brasil? Na parte de reciclagem é uma simples questão de vontade política e criação de uma cultura de reciclagem. Economicamente vale a pena examinar: um incinerador daquele tipo hoje ficaria no patamar de um bilhão de reais. Poderia no entanto assegurar um quarto do abastecimento elétrico da cidade e alimentar um parque industrial. 

 Se projetarmos retorno econômico disso num horizonte de 30 anos e no contexto das alternativas caras de geração termoelétrica que temos para suprir a escassez dos reservatórios das hidroelétricas a equação econômica torna-se perfeitamente factível na perspectiva de um financiamento de longo prazo. É algo que faz muito mais sentido que uma usina nuclear por exemplo. Mais cara ela nos deixa com lixo radioativo enquanto essa alternativa elimina (grande parte)  do lixo produzido por uma grande cidade. Quanto tempo tardaremos no Brasil para ingressar numa era pós-aterros sanitários?


Em frente ao incinerador
Esteiras de preparação
Silo de secagem

A sala de controle
Incineração a 1200 graus
O gerador elétrico que fornece um quarto da energia de Colonia
Compostagem
Painéis solares no teto
  

2 comentários:

  1. Amigo Sirkis,

    na realidade a capacidade de produção energética da unidade de Colônia é de 350 MW e não de 350 mil MW.

    Um bom domingo para você e sua família.

    Abraços,


    Benedito Parente.

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