A solução em si não foi a melhor. Como
aterro sanitário faria mais sentido a proposta anterior, fulminada por motivos
eminentemente políticos: Paciência. Situada dentro do município, muito mas
perto, portanto com transporte muito mais barato e com um impacto ambiental
menor.
Se em vez de discutir onde é melhor ou pior para
colocar um aterro sanitário a questão fosse: como pura e simplesmente abolir
o aterro sanitário em larga escala? Fora da realidade, dirão. Mas acabo justamente
de visitar essa solução “fora da realidade” na Alemanha que praticamente já eliminou todos seus aterros
sanitários a não ser para deposição de cinzas.
É o caso de Colônia, por exemplo, cujo complexo de
tratamento de lixo e reciclagem visitei. Há uma diretiva europeia que a
Alemanha e alguns de seus lander
seguem de forma ainda mais estrita que acaba com os aterros sanitários e
determina a reciclagem e reaproveitamento energético do lixo. Colônia
produz 2.5 mil toneladas de lixo por
dia, mais ou menos um quarto daquilo que geramos no Rio.
Há uma rotina de
separação do lixo em recipientes de cores diferentes: azul, papel e papelão;
marrom, lixo orgânico(comida e jardinagem); amarelo, metais diversos; cinza,
lixo misturado para combustão. Há ainda uma coleta específica que precisa ser
acionada individualmente para recolher resíduos perigosos, material eletrônico
e grandes volumes(móveis eletrodomésticos) que funciona combinado com uma
logística reversa onde o varejo é obrigado a receber de volta eletrônicos,
baterias, pilhas, etc...
Há um sistema de entrega de vidros e, em particular, um
sistema de recompra obrigatória de garrafas PET a um preço de 0,08 centavos de
euro a garrafa ou 300 euros a tonelada. Grosso modo 40% dos resíduos são
reciclados o que inferior à média alemã.
Os 60% restantes de lixo que sobram misturados nos conteiners cinzentos vão para o
incinerador da AVG na periferia da cidade. A AVG é uma empresa de economia
mista com 49,9% de capital privado (empresa Remondis) e 50,1% do governo de
Colônia. O incinerador é uma instalação industrial gigantesca boa parte ocupada
por um sistema de filtragem de ar que sai mais puro que o ar ambiente.
Pertencem ao passado aqueles incineradores dos anos 70 que despejavam dioxinas
cancerígenas para revolta dos ambientalistas.
A atual geração de incineradores é segura, mas
isso tem um custo econômico. A unidade em questão processa cerca de 700 mil
toneladas/ano para gerar 350 MW de eletricidade e vapor para o parque
industrial vizinho onde há grandes fábricas como a Ford e a Bayer e atende a um
quarto da demanda elétrica da cidade de Colônia. Ela custou 500 milhões de
euros. O incinerador recebe lixo de fora da região e, inclusive, de fora da
Alemanha. Outros incineradores, situados mais o sul, acabaram sendo a
providencial solução para cidades italianas como Nápoles que passaram a
exportar seu lixo.
Agora há uma situação curiosa: o avanço da reciclagem nas
cidades alemãs cria escassez de lixo combustível para produção elétrica que
precisa ser suprido com importação o que evidentemente dá margem a mais uma polêmica em torno do
lixo...
A unidade a AVG tem aproximadamente 150
funcionários, altamente qualificados uma grande parte de meia idade. A construção tem um pátio de
manobra de caminhões e uma estação
ferroviária.
O lixo chega, passa por esteiras e tubulações de prévia separação
de metais, poeira e outros elementos e dali segue para um silo de secagem antes
de ir para a incineração a uma temperatura de 1200 graus a partir do qual é
produzido vapor e energia elétrica.Finalmente
temos um gigantesco sistema de filtragem do ar.
Ao lado do prédio do incinerador temos uma
impressionante central de compostagem que processa lixo orgânico e, sobretudo,
resíduos de jardinagem. O composto vai para a agricultura e para jardinagem. No telhado da mesma há 500 painéis fotovoltáicos produzindo uma energia distribuída de 368 kw.
A
alguns quilômetros dali há outras centrais de reciclagem tratando embalagens de
papelão, móveis e galhos de maior dimensão e material de demolição.
Claramente
a reciclagem na Alemanha é uma indústria que opera numa escala gigantesca. Os
números do lixo são eloquentes: 66% já são reciclados, 34% incinerados. Lixo
–executadas cinzas—que vão para aterro: 0%!
Esse tipo de solução aplica-se para o Brasil? Na parte de reciclagem é uma simples questão de vontade política e criação de
uma cultura de reciclagem. Economicamente vale a pena examinar: um incinerador daquele tipo hoje ficaria no patamar
de um bilhão de reais. Poderia no entanto assegurar um quarto do abastecimento
elétrico da cidade e alimentar um parque industrial.
Se projetarmos retorno
econômico disso num horizonte de 30 anos e no contexto das alternativas caras
de geração termoelétrica que temos para suprir a escassez dos reservatórios das
hidroelétricas a equação econômica torna-se perfeitamente factível na
perspectiva de um financiamento de longo prazo. É algo que faz muito mais
sentido que uma usina nuclear por exemplo. Mais cara ela nos deixa com lixo
radioativo enquanto essa alternativa elimina (grande parte) do lixo produzido por uma grande cidade.
Quanto tempo tardaremos no Brasil para ingressar numa era pós-aterros sanitários?
Em frente ao incinerador |
Esteiras de preparação |
Silo de secagem |
A sala de controle |
Incineração a 1200 graus |
O gerador elétrico que fornece um quarto da energia de Colonia |
Compostagem |
Painéis solares no teto |
Amigo Sirkis,
ResponderExcluirna realidade a capacidade de produção energética da unidade de Colônia é de 350 MW e não de 350 mil MW.
Um bom domingo para você e sua família.
Abraços,
Benedito Parente.
Excelente postagem
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