15/03/2013

Peixes na lagoa: a mortandade recorrente

 Francamente, quase não tenho mais saco  de escrever sobre a  mortandade de peixes na lagoa Rodrigo de Freitas. Estudo o problema, discuto e escrevo a respeito desde os anos 80 e observo, como em outros casos esse tipo de imbróglio de soma zero, tipicamente carioca,  que vem ao longo dos anos  impedindo uma solução razoável.

Recentemente tivemos um diversionismo com um projeto muito badalado na mídia e patrocinado pelo empresário Eike Batista apresentado como uma "solução". Consistiu em remover lodo do fundo e operar a comporta do canal da Gen. Gazón. Essa ação como a da galeria de cintura, implantada no final dos anos 90, contribuiu para melhorar a qualidade de água na lagoa mas não solucionou o problema da episódica mortandade de peixes.

 Resumindo o que já sabemos a muito tempo: os peixes morrem quando se dá uma queda brusca do oxigênio disponível na lagoa. A mortandade acontece desde tempos pré-urbanização --há registros históricos muito antigos do fenômeno-- portanto ele não é "causado" pelos esgotos, que, aliás, são hoje muito menos numerosos que no passado. Podem, quando muito, ser um fator contribuinte a mais. 

 Há controvérsias sobre como exatamente ocorre a supressão brusca de oxigênio que mata os peixes --um certo regime de ventos com revolvimento do lodo no fundo da lagoa e emanações de gás sulfídrico, excesso de fauna lacustre, excesso de matéria organica, alteração brusca de temperatura,  todos ou alguns desses fatores combinados, etc.-- mas há um quase consenso sobre o que solucionaria o problema: oxigenação por aporte de água do mar ou por aplicação de oxigênio ou ozônio na lagoa.

 Depois de ter defendido muitos anos a aeração liminar: a suave e constante injeção de oxigênio ou ozônio no fundo da lagoa por uma teia de tubos de pvc  decidi, depois de um seminário que realizamos em 2005, no IPP, apoiar o enrocamento com dragagem e estabilização do canal do Jardim de Alá como forma de intensificar bastante a entrada da água do mar na lagoa, solução proposta pelo Instituto Lenec, de Portugal. 

Não me oponho ao bombeamento de água do mar por tubos, solução que acho menos boa em função do constante dispêndio energético, mas que considero perfeitamente aceitável. Essa proposta evoluiu tecnicamente e, na sua atual versão chancelada pela COPPE,  pode resolver o problema. 

Qualquer das soluções de oxigenação do espelho d'água me contempla. Não aceito é a tese imbecil de certos pseudo ambientalistas  que dizem que maior aporte de água do mar "mudaria a característica de água doce da lagoa". A lagoa Rodrigo de Freitas é uma laguna e foi originalmente muito mais salgada do que é  hoje. O processo de urbanização, os aterros e, sobretudo, o estreitamente da ligação com o mar pelo canal do Jardim de Alá mudaram suas características. 

Como antes da urbanização já havia mortandade de peixes --a natureza também mata....--  é plausível se supor que é necessário uma ainda maior oxigenação do que possuía aquela laguna originalmente (portanto mais água salgada) para prevenir de vez um fenômeno cujas consequências depois da intensa urbanização, em volta,  são evidentemente muito mais graves do que em tempos coloniais quando ninguém morava ali em volta.

 Já abracei a lagoa duas vezes, já escrevi uns quarenta artigos, já promovi ou participei de dezenas de seminários, audiências públicas, estudos e pesquisas a respeito. Não há mais o que discutir ou especular sobre como evitar a morte de peixes e o fedor nauseabundo que a acompanha. É hora de executar qualquer um dos projetos de oxigenação que temos.

 Aparentemente o mais em condições de ser executado a curto prazo é o avalizado pela COPPE. Então vamos fazer. Mãos à obra!

Artigos anteriores:

2010 e 2007 

Campanha de 1986, com Abraçe a Lagoa I

Fotos do abrace a Lagoa II, de 2000:





Um comentário:

  1. Meu Deus!!!!Que lindas as sugestões que você da!!
    Esse negócio de oxigenação da lagoa é um poema!!!!

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