Desconfio do moralismo em política. A grande
maioria dos Catões cívicos se revelaram tartufos: Collor, Regina Gordilho,
Demóstenes Torres e por aí vai. O antigo partido do lava mais branco, o PT, deu
no que deu. A boa e velha UDN, tão moralista, idem, vários dos seus
expoentes quando chegaram ao poder --pela mão da ditadura militar-- acabaram se
locupletando.
A integridade e a honestidade são atributos
pessoais e, em política, uma obrigação a ser cultivada sem exibicionismo ou
oportunismo. Tem a ver com a essência da pessoa e, penso, de sua relação com o
dinheiro e o consumo. Se sua principal preocupação na vida é ganhar montes dele, não serve
para tarefas que demandam espírito público, deve escolher outro ramo pois em
política, ao contrário de outras atividades, ninguém fica rico honestamente.
Isso é diferente de alguém já (honestamente) rico decidir ingressar na política. Em geral, vai acabar perdendo
dinheiro com isso, se continuar honesto... São e serão poucos.
A questão moral é demasiado explorada por
demagogos e mídia em busca de sensacionalismo. O denuncismo é uma arma de luta
político-eleitoral usada tantas vezes de forma desonesta e leviana. A
sustentabilidade ética é dada por um arcabouço institucional de pesos, contrapesos e equilíbrios entre poderes que
fiscalizam os outros de forma impessoal e desinteressada.
O Brasil é
institucionalmente carente disso, de fato, embora não de direito. A quantidade
de pilantras que temos na política brasileira não é necessariamente maior do
que em outras democracias mas somos particularmente mal servidos pelo nosso
sistema eleitoral, por algumas das instituições que deveriam fiscalizar as
outras e pela mídia que faz da ética um teatro, um espetáculo.
O sistema eleitoral proporcional personalizado
estimula bastante tanto o falso moralismo denuncista –para se promover-- quanto a corrupção institucionalizada (compra
de votos, centros assistenciais, clientelismo e fisiologismo em geral) para
galgar o poder. Instituições de controle
ficam particularmente capengas quando seus quadros policiais, procuradores e juízes muitas vezes se lançam
em cruzadas moralistas --justa ou injustas-- contra a “bola da vez” basicamente
para atrair os holofotes da mídia para um futuro projeto eleitoral. Para no futuro serem “o califa no lugar do califa”. Demóstenes Torres foi o exemplo mais perfeito desse tipo de postura que abunda.
Num país de judiciário moroso, vulnerável a procrastinações infinitas --e também
minado por uma corrupção particularmente difícil de extirpar-- chegamos a uma situação deprimente onde a população se indigna diariamente com
escândalos servidos pela mídia mas não se nota, de fato, progressos significativos que não sejam
o catártico malhar do “judas da vez” num
processo que se assemelha à famosa dança das cadeiras.
Num país com um cipoal imenso e prolixo de regras e
normas, por um lado, e com uma justiça ultra morosa, por outro, é muito fácil,
sobretudo na gestão pública, alguém ser acusado de alguma “irregularidade” por opositores e procuradores e condenado
pela mídia sem defesa alguma para, eventualmente, vir a ser inocentando dez anos
mais tarde.
Um caso recente particularmente absurdo foi o do secretario de meio
ambiente de São Paulo, Eduardo Jorge,
pessoa de grande integridade, perseguido por um procurador em busca de
fama, em relação a um procedimento administrativo questionado mas cuja intenção
era acelerar a inspeção veicular para reduzir a poluição na cidade.
É muito
fácil, no Brasil, tanto um pilantra passar uma carreira totalmente impune quanto
uma pessoa honesta cair na máquina de moer carne do circo opositores-MP-jornalismo
denuncista.
Apesar disso tudo sou totalmente favorável à chamada Ficha Limpa,
inclusive como critério para filiação partidária.
A lei de Ficha Limpa
foi um progresso no controle institucional pelo efeito de privar alguns dos
corruptos mais evidentes, os já condenados, em segunda instância, por um tribunal
colegiado, --nunca simples “denunciados” pelo MP ou pela imprensa-- da possibilidade de participar do processo
político eleitoral. É só verificar os personagens que caem na rede da Ficha
Limpa.
É um mecanismo político institucional sujeito a eventuais erros
judiciais assim como o próprio processo de Justiça, na sua essência. Mas se
justifica pelo interesse público maior. Com a interminável margem de chicanas à
disposição dos advogados dos corruptos, exigir
a sentença transitada em julgado para excluir um corrupto condenado e re-condenado
da vida política é historicamente
contraproducente se queremos melhorar um
pouquinho que seja a política brasileira, pelos menos afastando dela alguns dos mais notórios cuja impunidade desmoraliza a
democracia.
Por isso penso que devemos de fato incluir a
exigência de “ficha limpa”, entendida como exclusão dos condenados em segunda
instância por tribunal colegiado, como
exigência para a filiação na REDE. Não concordo com a afirmação de que isso
pode ser injusto em relação a integrantes de movimentos sociais “perseguidos”. De fato, injustiças podem ocorrer com eles assim como
podem atingir falsos corruptos injustamente condenados, mas serão relativamente
raras e não vejo que se possa privilegiar certas leis em detrimento de outras. Devemos criar um mecanismo para casos flagrantes de erro judicial para lidar com situações excepcionais.
Ao colocar tanta ênfase na questão ética
no seu discurso inicial --eu teria focado nas questões ambientais
e de economia verde-- e, ao mesmo tempo, ao primeiro anunciar que iria adotar a “Ficha Limpa" para filiações e depois desistir de faze-lo a
REDE se expos a um desgaste político desnecessário, auto infligido, do qual é preciso sair fora rapidamente. Nenhum partido adota esse critério ele passou a ser cobrado especificamente de nós. Devemos de fato adota-lo como regra ao elaborarmos o regimento interno previsto no estatuto, salvaguardando casos clamorosos de injustiça muito bem explicados, como exceção à regra geral.
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