(versão intergral do artigo publicado hoje na Folha de São Paulo)
Um paradoxo: no momento em que cogito
seriamente encerrar, ao final deste mandato, minha atuação parlamentar/eleitoral envolvo-me,
mais uma vez, na fundação de um partido,
dessa vez com Marina Silva. Há 27 anos
fundei o PV junto com Fernando Gabeira, Carlos Minc e Hebert Daniel. Redigi seu manifesto e programa. Presidi-o
oito anos. Quixotescamente, fui seu
candidato presidencial, em 98. Não vou aqui discorrer sobre a crise do PV. Basta
dizer que ele foi, assim como o PT, “fagocitado” pela cultura política brasileira
produzida por um sistema eleitoral hiper individualizado onde política é
sinônimo de carreira profissional e cada político é uma instituição em si mesmo
a qual são devidos “espaços”: cargos na máquina pública, verbas e benesses variadas quando não mensalões e
outros que tais.
Desacredito da capacidade saneadora dos
escândalos repetidos na mídia e até mesmo das sentenças condenatórias dos
pilhados com a mão na massa. Lembram me da dança das cadeiras: a musica para,
alguém fica com as nádegas em riste, é o Judas da vez, a dança continua. Fique
claro: considero positiva e necessária a exposição e a condenação --até com suas
eventuais injustiças e bodes expiatórios--
mas verifico que, por si só, isso
não mudará a cultura política de um país cujos vilões --que amamos odiar-- não
caíram do céu nem arribaram de Marte:
foram eleitos. E, desculpem, quem votou neles sabia perfeitamente quem
estava elegendo.
Apostei na reforma política. Membro aplicado
da respectiva comissão parlamentar, apresentei
uma detalhada proposta de voto distrital misto plurinominal (em grandes
distritos) com financiamento público. Acredito que poderia melhorar um pouco as
coisas reforçando programaticamente os partidos; valorizando lideranças com
voto –e limando o “baixo clero”-- aproximando o eleito da cobrança de um
eleitorado local; reduzindo o custo hoje absurdo da campanhas eleitorais;
diminuindo a influência do poder econômico e o constrangimento dos
honestos em correr atrás de doações de
campanha, ainda que incondicionais. Não
há a menor hipótese disso dar certo. Os beneficiários do sistema atual com seus
centros assistenciais, sua compra de votos direta ou indireta, seu loteamento
de posições governamentais e cargos comissionados resistem mexer nas regras do
jogo. Quando muito passarão certos casuísmos destinados a consolida-las:
proibição de coligações proporcionais --correta num sistema proporcional por
lista ou num distrital mas não no proporcional personalizado que temos-- e restrições a novos partidos como o que
cogitamos criar.
Os últimos acontecimentos no parlamento, a
escolha das presidências e da liderança do partido “da governabilidade”
consagram um divórcio radical entre a opinião pública e a maioria hegemônica do
parlamento, totalmente alheia a qualquer minguante voto de opinião e praticamente
imune a escândalos que em nada influenciam seus eleitores, direta ou
indiretamente comprados. Já aqueles que dependem do voto de opinião e gostariam
de debater e implementar ideias, programas, vivem na quadratura do círculo. Pois
é neste preciso momento, o mais desolador de uma democracia --que avançou algo
econômica e socialmente mas que politica e institucionalmente segue subdesenvolvida-- que um punhado de “sonháticos, reunidos em torno de uma liderança que teve
19% dos votos (mas não conseguiu plasmar isso na grande correlação de forças
pós-eleitoral de 2010), retoma o trabalho de Sísifo de melhorar a política que
temos. Sai para mobilizar jovens e outras gentes ainda com esperança de mudar o Brasil
na direção da sustentabilidade. Pretenciosa e inútil ingenuidade? Penso que
não, é a melhor opção, considerando a alternativa: não fazer nada, deixar como está, não abrir um
canal de participação política novo para esses integrantes de nossa sociedade
que anseiam por algo diferente.
Por outro lado, é preciso é preciso “desfetichizar”
esse tipo de instrumento, partido, ainda
que seja útil e necessário para quem ainda deseja intervir na política
eleitoral-institucional de nossa altamente imperfeita democracia. O instrumento
mais estratégico será uma rede capaz de promover e ajudar bons quadros em uma
pluralidade de partidos, posições governamentais e na sociedade que queiram
trabalhar a favor de certos princípios éticos e programáticos. Partido: concentração, rede: dispersão. Serão
nosso instrumentos para virar pelo avesso, o avesso que vivemos.
Sirkis,
ResponderExcluirEm março de 2012, publiquei um tópico com o título MOVIMENTO POR UM PARTIDO que melhor teria sido o título PROJETO POR UM PARTIDO.
Continua postado no MNP. É um pequeno esboço, mas dá para ver a grande diferença em relação a tudo que prevalece nos partidos atuais, inclusive ao que está sendo, agora, construído.
Alguns pontos são cruciais: Os principais atores seriam os mais injustiçados que constituem a maioria da nossa população. Nós que compomos a denominada classe média participaríamos como organizadores, orientadores, abnegados militantes em busca de uma transformação dessa sociedade.
Seria algo em busca da participação ampla da sociedade, tentando, pouco a pouco, chegar à extinção dos chamados políticos profissionais que se eternizam nos seus mandatos, aqui e no mundo afora.
Seria uma nova política começando na infoera, apesar de não estarmos plenamente integrados a ela. Seria a luta pelo mandato único, em todos os níveis. Seria a luta pelo financiamento público exclusivo.
Seria a luta por uma mobilização nacional para que a educação seja federalizada, evitando que o fosso das nossas diferenças regionais aumente a cada dia. Para isso, o povo teria que exigir um investimento de pelo menos 15% do PIB na educação básica.
Proponho que isso seja urgente, pois dessa atitude depende não só diminuir as injustiças sociais como termos segurança interna e externa. Que segurança teremos com a importação de alguns aviões modernos? Ninguém passa seus conhecimentos tecnológicos por completo.
Precisamos de educação para amenizar as seculares injustiças sociais e que nos permita desenvolver tecnologias. Quaisquer posições diferentes dessa representam, com certeza, interesses pessoais e/ou de grupos.
Essa proposta que está contida no tópico UM PROJETO PARA A EDUCAÇÃO NO BRASIL pode ser lida no MNP, no Portal do Nassif e na Carta Educação.
Bem, isso tudo foi e é rejeitado pelas pessoas que estão à frente dessa atual construção partidária. No andar da carruagem, tudo continuará como sempre foi.
Como as pessoas não querem enfrentar os sacrifícios que a minha proposta coloca pela frente, como desejam, apenas, o continuísmo com nova roupagem, como desejam usufruir do financiamento privado para as eleições, então, essa minha proposta é ignorada para não assustar os prováveis parceiros do financiamento.
Você bem sabe, quem financia deseja recompensas diretas ou indiretas, no futuro.
Para evitar o financiamento privado os verdadeiros atores devem ser outros! É a sociedade mobilizada, pacificamente, confiante na sua força! Será uma tarefa para anos!
Muitos participantes estão pensando, somente, nesta e na próxima eleição. Só pensam em ser vereadores, deputados etc. Qualquer programa, qualquer estatuto, tanto faz, não importa.
Financiamento privado? Ótimo! Esperam usar o nome da Marina para colher seus votos.