25/02/2013

Vale a pena?


(artigo publicado hoje em O Globo)

 Confesso que hesitei em me envolver novamente com um partido, 27 anos depois de ter fundado com Fernando Gabeira, Carlos Minc, Hebert Daniel e Lucélia Santos, o PV,  que presidi durante oito anos, representei como candidato presidencial, em 1998 e cujo manifesto e programa redigi. 

 Na cultura política brasileira,  resultante do sistema eleitoral que temos,  os partidos tendem a ser meras “legendas” para o somatório aritmético dos votos dos aspirantes a uma carreira política individual. Perderam a função de portadores de alguma visão de mundo a ser colocada na arena cívica,  veículos de algum programa de governo ou escolas de formação política.  Como se diz vulgarmente:  aqui o buraco é mais embaixo. 

 No atual sistema, da compra de voto e dos centros assistenciais,  independente de quantos escândalos venham a tona, dificilmente teremos grande progresso. 

 Apresentei na Câmara um projeto de sistema distrital misto plurinominal (grandes distritos) aparentemente sem grande chance de ser aprovado. Vivo atualmente um dilema em relação a continuar ou não na vida parlamentar/eleitoral. E, no entanto, me envolvo outra vez na criação de um novo partido... Por que?

 Marina Silva obteve, em 2010, quase vinte milhões de votos. Da classe média “iluminista”, da garotada de redes sociais, de um contingente imenso de mulheres pobres. Foi um voto de esperança mais que de “protesto”, fora da política tradicional e favorável à sustentabilidade ambiental e ética, como denominador comum. 

 O PV não soube aproveita-lo, Marina, por sua parte,  se precipitou ao deixa-lo --na minha opinião--  pois havia ainda campo para um embate interno, mas isso não vem mais ao caso. 

 O “x” da questão é que existe um contingente imenso de brasileiros que não aceita mais a política como ela vem sendo exercida, desconfia do mero desenvolvimentismo produtivista, comum aos grandes partidos, dá importância à questão ambiental e climática que eles praticamente ignoram --quando não hostilizam--  e deseja mais transparência, decência e idealismo na vida pública brasileira.

 Essa gente não quer uma via  extremada, sectária, aspira ao que seria modernamente um centro radical. Será viável mais um partido, se já temos bem uns trinta? Vale a pena tentar algo assim?  Me fiz essa pergunta meses a fio e, finalmente,  me convenci quem sim ao ponderar a alternativa: não fazê-lo. Deixar se perder, esvair, dispersar tudo aquilo que 20 milhões tentaram nos dizer,  em 2010. Não lhes dar pelo menos a oportunidade de tentar algo novo.

  Sem ilusões ou fetiches penso que, afinal, vale a pena dispor desse instrumento de participação e que além disso é indispensável cultivar uma rede de  cumplicidades e de coordenação com os melhores quadros nos outros partidos,  na sociedade, nas instituições, nas empresas. A Rede, mais que um partido,  é um estado d’alma. 

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