Perdão colegas, mas não acredito nessa CPI.
Por razões gerais e específicas. Especificamente: em geral comissões
parlamentares de inquérito podem ser úteis se identificam um fato não
investigado ou mal investigado. As que foram efetivas, no passado, se
caracterizaram por ser o primeiro passo para apurar uma situação até então
desconhecida ou escamoteada dando ensejo posterior a uma investigação policial
ou inquérito do MP. Essa CPI-Cachoeira se dá integralmente em torno de um
inquérito da Polícia Federal minuciosamente apurado, de posse da mais alta
insistência do Judiciário, há bastante tempo,
e divulgado pela mídia -o que foi positivo- mediante um vazamento providencial
politicamente motivado.
O resultado é não apenas chover no molhado
–nada de muito novo apareceu-- mas a
caracterização de forma mais caricatural e cínica que de costume da CPI
enquanto um circo político. Um espetáculo para que políticos apareçam como valorosos
Catões da república, pela milésima vez aparentando indignação com a corrupção
no Brasil, antes de serem eles próprios, em muitos casos, alvos de escândalos
futuros como esse do d’antes impoluto moralista, senador Demóstenes.
Isso nos leva à minha razão mais geral para
desconfiar de CPIs deste tipo: simplesmente não acredito em político
investigando político. Por uma razão simples e cristalina: a total falta de
imparcialidade. Numa casa legislativa onde todos dependem de todos a todo
momento o parlamentar tende a ser
condescendente com o outro do qual vai precisar no futuro para uma das cento e
tantas coisas que ocorrem no dia a dia do Congresso. Ninguém quer fazer
inimigos a toa. Por outro lado corporativismo é arraigado. Se, por outro lado,
o investigado é um desafeto pessoal, inimigo ou adversário político --todos
temos-- aí, pelo contrário, haverá parcialidade quando não
má fé. É o que assistimos nesse duelo chinfrim ente PT e tucanos: “ferra os
meus que ferro os teus”, uns querendo pegar seu Pirilo, outros seu Agnelo. E
por aí vai.
Quem pode e deve investigar os políticos não
são seus pares –parciais numa ou noutra direção- mas instituições realmente
independentes como acontece em países de democracia mais amadurecida.
Basicamente o MP e a Polícia. Com um detalhe: MP e a Polícia como instituições
totalmente independentes do controle político
governamental e controladas pelo
Judiciário, com investigadores legalmente e profissionalmente impedidos de,
logo adiante, postularem eles próprios mandatos eleitorais usando da
notoriedade conseguida nesses inquéritos, sempre de olho das câmaras de TV e páginas de revista. Investigadores sóbrios, rigorosos eficazes e
discretos, sem preconceitos ou motivações outras que investigar os fatos.
Ficamos mal nessa era do espetáculo quando os
políticos fingem que investigam uns aos outros para buscar momentos de
notoriedade, comportam-se de forma
compreensivelmente parcial e cultivam a hipocrisia. Também ficamos mal com
policiais e procuradores que investigam de olho na chance de se tornarem eles próprios os Demóstenes,
de antes da queda. A corrupção no Brasil não retrocederá com o circo político
ou a “escandalomania” midiática mas com
instituições impessoais, autônimas e eficazes. E um sistema eleitoral e de
financiamento de campanhas que estimule a política como representação de ideias
e visões programáticas e não como
carreira profissional.
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