14/06/2012

CPI CACHOEIRA: PORQUE NÃO ACREDITO NELA


  Perdão colegas, mas não acredito nessa CPI. Por razões gerais e específicas. Especificamente: em geral comissões parlamentares de inquérito podem ser úteis se identificam um fato não investigado ou mal investigado. As que foram efetivas, no passado, se caracterizaram por ser o primeiro passo para apurar uma situação até então desconhecida ou escamoteada dando ensejo posterior a uma investigação policial ou inquérito do MP. Essa CPI-Cachoeira se dá integralmente em torno de um inquérito da Polícia Federal minuciosamente apurado, de posse da mais alta insistência do Judiciário, há bastante tempo,  e divulgado pela mídia -o que foi positivo-  mediante um vazamento providencial politicamente motivado.

 O resultado é não apenas chover no molhado –nada de muito novo apareceu--  mas a caracterização de forma mais caricatural e cínica que de costume da CPI enquanto um circo político. Um espetáculo para que políticos apareçam como valorosos Catões da república, pela milésima vez aparentando indignação com a corrupção no Brasil, antes de serem eles próprios, em muitos casos, alvos de escândalos futuros como esse do d’antes impoluto moralista,  senador Demóstenes.

 Isso nos leva à minha razão mais geral para desconfiar de CPIs deste tipo: simplesmente não acredito em político investigando político. Por uma razão simples e cristalina: a total falta de imparcialidade. Numa casa legislativa onde todos dependem de todos a todo momento o parlamentar  tende a ser condescendente com o outro do qual vai precisar no futuro para uma das cento e tantas coisas que ocorrem no dia a dia do Congresso. Ninguém quer fazer inimigos a toa. Por outro lado corporativismo é arraigado. Se, por outro lado, o investigado é um desafeto pessoal, inimigo ou adversário político --todos temos--  aí,  pelo contrário, haverá parcialidade quando não má fé. É o que assistimos nesse duelo chinfrim ente PT e tucanos: “ferra os meus que ferro os teus”, uns querendo pegar seu Pirilo, outros seu Agnelo. E por aí vai.

 Quem pode e deve investigar os políticos não são seus pares –parciais numa ou noutra direção- mas instituições realmente independentes como acontece em países de democracia mais amadurecida. Basicamente o MP e a Polícia. Com um detalhe: MP e a Polícia como instituições totalmente independentes do controle político  governamental  e controladas pelo Judiciário, com investigadores legalmente e profissionalmente impedidos de, logo adiante, postularem eles próprios mandatos eleitorais usando da notoriedade conseguida nesses inquéritos, sempre  de olho das câmaras de TV e páginas de revista.  Investigadores sóbrios, rigorosos eficazes e discretos, sem preconceitos ou motivações outras que investigar os fatos.

   Ficamos mal nessa era do espetáculo quando os políticos fingem que investigam uns aos outros para buscar momentos de notoriedade,  comportam-se de forma compreensivelmente parcial e cultivam a hipocrisia. Também ficamos mal com policiais e procuradores que investigam de olho na  chance de se tornarem eles próprios os Demóstenes, de antes da queda. A corrupção no Brasil não retrocederá com o circo político ou a “escandalomania”  midiática mas com instituições impessoais, autônimas e eficazes. E um sistema eleitoral e de financiamento de campanhas que estimule a política como representação de ideias e visões programáticas  e não como carreira profissional. 

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