Venho acompanhando assiduamente as Conferência
da ONU sobre mudanças climáticas. Estive nas de Montreal, Bali, Copenhagen e
Durban. Nesse processo sempre me chamou a atenção o espírito de rodada
comercial "toma lá - dá cá" com que as delegações sentam à
mesa. Parecia o GATT o Uruguay round,
nos primórdios da Orgnaização Mundial de Comércio(OMC). Vantagens comerciais,
pequenas questões políticas, de prestigio nacional e preocupações com "o
que a mídia lá em casa vai dizer de mim" são o mais importante. Não há
sentido de urgência nem muita noção de que estamos juntos no mesmo barco no que
pese as advertência dramáticas dos cientistas do IPCC.
Por outro lado, a negociação é "talmúdica" o texto é
tudo. É como uma discussão sobre santas escrituras. Discutem uma palavra, uma virgula em torno de
significados que escapam totalmente aos comuns mortais. Por outro lado produzem
uma quantidade de siglas e neologismos alucinantes. Em relação aos resultados,
pelo andar das coisas deve haver um aquecimento médio de 4,5 a 6 graus até o
final do século o que vai levar catástrofes e guerras por alimentos e água. A soma dos compromissos obrigatórios e
voluntários dos países ainda que religiosamente implementada ainda apresenta um
"gap" de pelo menos 2 graus.
Há um bom tempo
penso que sem negar a importância do processo da ONU --que para decidir precisa
do consenso de 193 países-- é preciso
trabalhar outros formatos de negociação como um fórum mais
restrito de grandes economias responsáveis por cerca de 80% das atuais
emissões. O G 20 poderia ser esse fórum, por exemplo.
A idéia do RCC
me ocorreu em Durban. Eu vinha defendendo que Dilma convocasse os chefes de
estado dos 15 maiores emissores para a Rio + 20 para fazer uma reunião
paralela sobre clima se a COP 17 em Durban fracassasse. Nem ela nem o Itamaraty
gostaram lá muito da ideia mas, afinal, a COP 17, em Durban, foi um “copo meio cheio, meio vazio”. Então me
ocorreu a ideia do Rio/Clima, inspirado na Iniciativa de Genebra]: os
israelenses e palestinos que não quiseram parar de negociar depois do colapso
das negociações de paz na sequencia da promissora cúpula de Taba e que
chegaram, em 2003, depois de dois anos de negociação, a um "acordo
de paz virtual" extremamente detalhado. Por que não algo no estilo para o
Clima? Tanto Yossi Beilin como Yasser Abed Rabbo, os artífices da Iniciativa Genebra,
atenderam ao meu convite e participaram de nossa reunião preparatória em
Recife, em abril, narrando sua
experiência.
Claro, são duas
negociações completamente diferentes cujo grande ponto em comum é a
dificuldade. Mas foi um bom "gancho". Então vamos trabalhar em
"construção de cenários" com especialistas de muito países,
discutindo e tentando ajustar as principais estratégias propostas no momento
para "mitigação", "financiando a economia de baixo carbono"
e "adaptação" e, depois, juntar um grupo de políticos
proeminentes desses países para ver se conseguem chegar a um "acordo
simulado". No Rio será a primeira tentativa, vamos transformar o RCC num think tank e continuar tentando, até
2015, o prazo dado em Durban para um
novo acordo na ONU.
Esse processo que se
quer complementar ao da ONU, abre caminhos, fornece ideias e prepara a
negociação oficial. Seria como um "jogo de guerra" só que de
paz. Para o Brasil é um elemento de projeção de nossa influência e
reunião de informações políticas úteis a futuras negociações.
Para o Rio é importante
porque vai manter nossa cidade no centro da agenda climática, afinal foi aqui
que tudo começou com a Convenção do Clima da Rio 92.
Inscreva-se:
Inscreva-se:
Nenhum comentário:
Postar um comentário