09/06/2012

Rio Clima: como surgiu a idéia


 Venho acompanhando assiduamente as Conferência da ONU sobre mudanças climáticas. Estive nas de Montreal, Bali, Copenhagen e Durban. Nesse processo sempre me chamou a atenção o espírito de rodada comercial "toma lá - dá cá"  com que as delegações sentam à mesa. Parecia o GATT o Uruguay round, nos primórdios da Orgnaização Mundial de Comércio(OMC). Vantagens comerciais, pequenas questões políticas, de prestigio nacional e preocupações com "o que a mídia lá em casa vai dizer de mim" são o mais importante. Não há sentido de urgência nem muita noção de que estamos juntos no mesmo barco no que pese as advertência dramáticas dos cientistas do IPCC.

 Por outro lado,  a negociação é "talmúdica" o texto é tudo. É como uma discussão sobre santas escrituras.  Discutem uma palavra, uma virgula em torno de significados que escapam totalmente aos comuns mortais. Por outro lado produzem uma quantidade de siglas e neologismos alucinantes. Em relação aos resultados, pelo andar das coisas deve haver um aquecimento médio de 4,5 a 6 graus até o final do século o que vai levar catástrofes e guerras por alimentos e água.  A soma dos compromissos obrigatórios e voluntários dos países ainda que religiosamente implementada ainda apresenta um "gap" de pelo menos 2 graus.

 Há um bom tempo penso que sem negar a importância do processo da ONU --que para decidir precisa do consenso de 193 países--  é preciso trabalhar outros formatos de negociação como um fórum   mais restrito de grandes economias responsáveis por cerca de 80% das atuais emissões. O G 20 poderia ser esse fórum, por exemplo.

 A idéia do RCC me ocorreu em Durban. Eu vinha defendendo que Dilma convocasse os chefes de estado  dos 15 maiores emissores para a Rio + 20 para fazer uma reunião paralela sobre clima se a COP 17 em Durban fracassasse. Nem ela nem o Itamaraty gostaram lá muito da ideia mas, afinal, a COP 17, em Durban,  foi um “copo meio cheio, meio vazio”. Então me ocorreu a ideia do Rio/Clima, inspirado na Iniciativa de Genebra]: os israelenses e palestinos que não quiseram parar de negociar depois do colapso das negociações de paz na sequencia da promissora cúpula de Taba e que chegaram, em 2003, depois de dois anos de negociação,  a um "acordo de paz virtual" extremamente detalhado. Por que não algo no estilo para o Clima? Tanto Yossi Beilin como Yasser Abed Rabbo, os artífices da Iniciativa Genebra, atenderam ao meu convite e  participaram de nossa reunião preparatória em Recife, em abril,  narrando sua experiência.  

 Claro, são duas negociações completamente diferentes cujo grande ponto em comum é a dificuldade. Mas foi um bom "gancho". Então vamos trabalhar em "construção de cenários" com especialistas de muito países, discutindo e tentando ajustar as principais estratégias propostas no momento para "mitigação", "financiando a economia de baixo carbono" e "adaptação" e, depois,  juntar um grupo de políticos proeminentes  desses países para ver se conseguem chegar a um "acordo simulado". No Rio será a primeira tentativa, vamos transformar o RCC num think tank e continuar tentando, até 2015,  o prazo dado em Durban para um novo acordo na ONU.

Esse processo que se quer complementar ao da ONU, abre caminhos, fornece ideias e prepara a negociação oficial. Seria como um "jogo de guerra" só que de paz.  Para o Brasil é um elemento de projeção de nossa  influência e reunião de informações políticas úteis a futuras negociações. 

Para o Rio é importante porque vai manter nossa cidade no centro da agenda climática, afinal foi aqui que tudo começou com a Convenção do Clima da Rio 92.


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