O fato do desmatamento ter dobrado, em janeiro, em relação à 2019, apesar desse ser esse um mês tradicionalmente de chuvas e baixo desmate aponta claramente a tendência de explodir na temporada seca. O “novo normal” deve-se estabelecer num patamar acima de 10 mil km2 capaz de propiciar, num futuro próximo, uma dinâmica irreversível em que as emissões se retroalimentam num processo chamado de feadback: a floresta vai perdendo sua capacidade de absorver carbono e suas áreas degradadas passam a emiti-lo.
O fulcro desse processo será o asfaltamento d BR-319, Manaus-Porto Velho. A estrada existe, desde os anos 70, e já passa no coração da floresta nas no seu estado precário dificulta a invasão da florestas no seu entorno por multidões de grileiros e garimpeiros com capacidade de multiplicar suas “espinhas de peixe”(estradas laterais) e promover a “colonização” de mais um pedaço enorme da Floresta. Isso já ocorre em Rondônia, em alguns trechos, o asfaltamento e as concessões florestais por PPI anunciadas pelo governo vão garantir esse resultado. Concessões florestais, em áreas já acessíveis, não são necessariamente ruins. É possível o manejo sustentável da madeira com uma retirada criteriosa de espécies mas já se criou uma indústria de picaretagem em com derrame de falsas certificações. Com essa bandidagem que orbita em torno desse governo predador e promotor da grilagem e do garimpo ilegais e com o desmantelamento e intimidação dos órgãos ambientais de comando e controle federais tudo é conto de vigário.
É uma tragédia brasileira o fato da obra de asfaltamento da BR 319 ser popular tanto no Amazonas quanto em Rondônia. Há praticamente uma “unanimidade” dos políticos da região e mesmo muitos ambientalistas silenciam, intimidados por ela. Seria um desejo manifestos dos moradores das duas capitais. Como diria Nelson Rodrigues, trata-se de uma unanimidade burra. O asfalto é sonhado como mirabolante via de progresso e “desenclavamento”, no caso do Manaus, embora faça pouco sentido do pronto de vista econômico e constitua um desastre ecológico, por suas consequências indiretas, da mesma forma que foi a BR- 163, apesar de todas as precauções, regras e das unidades de conservação criadas na época. Protegida por políticos a sua predação nunca foi contida e só faz piorar.
Na verdade há boas alternativas apara o asfaltamento da BR 319: uma ferrovia traria muito menos destruição, faria mais sentido econômico e poderia, inclusive, transportar os veículos, entre as cidades. O upgradeda navegação do rio Madeira, cujo curso é paralelo complementaria. Seria possível, imediatamente, subsidiar voos diretos Manaus e Porto Velho, com uma tarifa baixa –paga com créditos de carbono do transporte aéreo internacional-- oferecendo, de lambuja, vauchersde locação de veículo grátis por alguns dias em ambas cidades. São soluções viáveis, rápidas e muito mais baratas para melhorar a ligação entre essas duas cidades amazônicas e atender uma aspiração respeitável de moradores não têm conhecimento dessas alternativas. O asfaltamento é a única “solução” que ouviram falar.
Desnecessário dizer: a BR 319 asfaltada vai se deteriorar, rapidamente, e será um pesadelo de conservação exigindo vultosos e constantes verbas que dificilmente estarão disponíveis. No entanto, o asfaltamento já terá cumprido seu papel de promotor de desmatamentos em escala gigantesca o que irão precipitar o dano irreversível temido pelo mundo mas promovido pela barbárie ora encastelada no poder.
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