22/08/2019

Escrementocracia ardente.


  
Então são os ambientalistas e os governadores da Amazônia os responsáveis pelas  queimadas que vinha sendo articuladas há várias semanas por grupos de grileiros bem identificados? Lembra o incêndio dos Reichstag ordenado por Hitler para culpar os comunistas e arrochar definitivamente o regime. A escrementocracia se faz ardente.

O confronto com doadores como a Alemanha e a Noruega, o aumento de mais de 273% do desmatamento na Amazônia, em julho desse ano,  comparado ao mesmo mês do ano passado, o aumento das invasões na terra Ianomâmi com a poluição de seus rios com mercúrio; a degola no IMPE para “quebrar o termômetro”,  no tolo afã  de esconder a febre,  são episódios tresloucados. Com mais 5% de destruição adicional da Amazônia poderemos engendrar mudanças irreversíveis afetando o regime de chuvas no resto do país. Enchentes, desertificação, riscos para a agricultura, ventos extremos, invasão de zonas litorâneas pelo mar, ondas de calor compõem o drama anunciado das mudanças climáticas. Por outro lado, a ação de descarbonização global  oferece ao Brasil oportunidades econômicas, se soubermos usar e negociar com inteligência os imensos serviços ambientais que ofertamos, nossas vantagens em agricultura de baixo carbono e energias limpas e grande disponibilidade de área para reflorestamento produzindo emissões negativas. As invectivas e a desinformação grosseira de Bolsonaro silenciam aqueles no seu governo que percebem os dados da equação. A mudança climática é insofismável, suas recentes manifestações caricatas: os terríveis ciclones em Moçambique, afetando três milhões de pessoas e a onda de calor que chegou a  46 graus, em Nantes, na França, são advertências do por vir.  2019 será o ano mais quente jamais experimentado pela humanidade.

  O último relatório do IPCC, tratando de como não ultrapassar 1.5 graus, até o final do século,  menciona a necessidade de reflorestar uma área do tamanho do território dos EUA. O Brasil tem pelo menos 60 milhões de hectares de pasto degradado para reflorestamento, tanto de recomposição como econômico.  Tem sol e vento abundantes para energias limpas, biocombustíveis e possui técnicas de agricultura de baixo carbono pioneiras. Por que essa sanha de destruição? Não é agronegócio moderno quem desmata ilegalmente, promove a grilagem e uma pecuária indigente, de propósito meramente especulativo ou envenena  rios com mercúrio. São facções criminosas e o problema está no colo do ministro Sérgio Moro.  O agronegócio tem muito a perder com a repercussão  internacional do novo surto de devastação, turbinado pela desmoralização oficial dos órgãos de fiscalização,  pela sinalização “liberou geral” pelo “capitão motosserra”.  O Brasil, conseguiu  diminuir, entre 2004 e 2012, seu desmatamento  na Amazônia de 27 mil Km2 para menos de 5 mil km2, reduzindo suas emissões de CO2 em cerca de 80%, mais que qualquer outro país. Agora o desmate volta a subir, a todo vapor. Até onde irá?

     Bolsonaro tem raiva do tema que acredita ser “de esquerda” mas quem foram  seus pioneiros no Brasil?  O marechal Cândido Rondon, uma vida em defesa do índio, o major Manuel Archer, promoveu maior reflorestamento urbano feito até hoje, no maciço da Tijuca, no final do século XIX, o   almirante Ibsen Gusmão, Paulo Nogueira Batista, Marcelo de Ipanema e outros que dificilmente podem ser considerados os “esquerdopatas” do seu besteirol  idiossincrático.  Não, a preocupação com clima e a biodiversidade não é “coisa de comunista”. É nossa responsabilidade diante da geração de nossos filhos,  netos e bisnetos, ameaçadas pelas  consequências catastróficas que ainda podem ser contidas mas numa janela de oportunidade que se está fechando. Rapidamente.


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