Então são os ambientalistas e os governadores da Amazônia os responsáveis pelas queimadas que vinha sendo articuladas há várias semanas por grupos de grileiros bem identificados? Lembra o incêndio dos Reichstag ordenado por Hitler para culpar os comunistas e arrochar definitivamente o regime. A escrementocracia se faz ardente.
O
confronto com doadores como a Alemanha e a Noruega, o aumento de mais de 273%
do desmatamento na Amazônia, em julho desse ano, comparado ao mesmo mês do ano passado, o
aumento das invasões na terra Ianomâmi com a poluição de seus rios com
mercúrio; a degola no IMPE para “quebrar o termômetro”, no tolo afã
de esconder a febre, são
episódios tresloucados. Com mais 5% de destruição adicional da Amazônia poderemos
engendrar mudanças irreversíveis afetando o regime de chuvas no resto do país.
Enchentes, desertificação, riscos para a agricultura, ventos extremos, invasão
de zonas litorâneas pelo mar, ondas de calor compõem o drama anunciado das
mudanças climáticas. Por outro lado, a ação de descarbonização global oferece ao Brasil oportunidades econômicas, se
soubermos usar e negociar com inteligência os imensos serviços ambientais que
ofertamos, nossas vantagens em agricultura de baixo carbono e energias limpas e
grande disponibilidade de área para reflorestamento produzindo emissões
negativas. As invectivas
e a desinformação grosseira de Bolsonaro silenciam aqueles no seu governo que percebem
os dados da equação. A mudança climática é insofismável, suas recentes
manifestações caricatas: os terríveis ciclones em Moçambique, afetando três
milhões de pessoas e a onda de calor que chegou a 46 graus, em Nantes, na França, são
advertências do por vir. 2019 será o ano
mais quente jamais experimentado pela humanidade.
O
último relatório do IPCC, tratando de como não ultrapassar 1.5 graus, até o
final do século, menciona a necessidade
de reflorestar uma área do tamanho do território dos EUA. O Brasil tem pelo
menos 60 milhões de hectares de pasto degradado para reflorestamento, tanto de
recomposição como econômico. Tem sol e
vento abundantes para energias limpas, biocombustíveis e possui técnicas de
agricultura de baixo carbono pioneiras. Por que essa sanha de destruição? Não é
agronegócio moderno quem desmata ilegalmente, promove a grilagem e uma pecuária
indigente, de propósito meramente especulativo ou envenena rios com mercúrio. São facções criminosas e o
problema está no colo do ministro Sérgio Moro.
O agronegócio tem muito a perder com a repercussão internacional do novo surto de devastação, turbinado
pela desmoralização oficial dos órgãos de fiscalização, pela sinalização “liberou geral” pelo “capitão
motosserra”. O Brasil, conseguiu diminuir, entre 2004 e 2012, seu
desmatamento na Amazônia de 27 mil Km2
para menos de 5 mil km2, reduzindo suas emissões de CO2 em cerca de 80%, mais que
qualquer outro país. Agora o desmate volta a subir, a todo vapor. Até onde irá?
Bolsonaro tem raiva do tema que acredita ser
“de esquerda” mas quem foram seus
pioneiros no Brasil? O marechal Cândido
Rondon, uma vida em defesa do índio, o major Manuel Archer, promoveu maior
reflorestamento urbano feito até hoje, no maciço da Tijuca, no final do século
XIX, o almirante Ibsen Gusmão, Paulo
Nogueira Batista, Marcelo de Ipanema e outros que dificilmente podem ser
considerados os “esquerdopatas” do seu besteirol idiossincrático. Não, a preocupação com clima e a
biodiversidade não é “coisa de comunista”. É nossa responsabilidade diante da geração
de nossos filhos, netos e bisnetos,
ameaçadas pelas consequências
catastróficas que ainda podem ser contidas mas numa janela de oportunidade que se
está fechando. Rapidamente.
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