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A revista Veja faz um alarde gigantesco,
matéria de capa, sobre um suposto grupo eco-terrorista chamado SSS (Sociedade
Secreta Silvestre) sucursal de uma
suposta ITS(Indivíduos que tendem ao Selvagem). Os fatos que justificam tamanho
escarcéu são escassos: a entrevista por “deep web” de um indivíduo de
codinome Anhangá (uma canção indígena que ensinavam no colégio), uma suposta
bomba não explodida em frente a uma igreja, em Brasília e o incêndio de
veículos do IBAMA –prática cada vez mais usada por grileiros desmatadores. O
alarde também se assenta no fato da Policia Federal estar investigando a
suposta organização como é sua obrigação. O faz corretamente sem dar nenhuma
publicidade ao assunto antes de poder reunir provas e efetuar prisões.
Saltam
aos olhos duas coisas. Primeiro, o material jornalístico, por enquanto, daria
quanto muito uma notinha para o Radar, não para uma matéria de capa de uma
revista de grande circulação, ainda que necessite muito aumenta-la pois, como
toda a imprensa escrita, passa por uma
crise de queda de leitores.
Isso não justifica “levantar a bola” do
indivíduo –não há nada na matéria que prove que há de fato uma
organização-- dito Anhangá dando lhe toda essa publicidade e promovendo o que, até prova em contrário, é apenas mais um
maluco de internet.
Segundo, está prestando um imenso serviço ao clima de paranoia e
inquisição que o núcleo central
bolsonarista pretende mergulhar o país. Oferece um bom pretexto para os malucos
que cultiva e mobiliza exercerem violência contra indígenas e
ambientalistas, em geral. Se isso acontecer a responsabilidade da revista será
insofismável.
O
ambientalismo é dos movimentos políticos contemporâneos mais avessos à violência. Pacífico, mesmo na sua componente mais radical, o Greenpeace, que tradicionalmente recorre a
ações espetaculares mas evita cuidadosamente qualquer violência, mesmo
“simbólica” embora já a tenha sofrido no atentado de mergulhadores do
serviço secreto francês contra o Rainbow Warrior, no Pacífico, nos anos 80, que custou a vida de um fotógrafo português ou nas prisões de Vladimir Putin.
Há uma minúscula franja extrema, essa mais ligada à defesa animal que, por vezes, pratica atos violentos e, eventualmente, “lobos
solitários” como Theodore Kaczinski, o famoso Unabomber, de Montana, nos EUA
que matou três pessoas e feriu outras 23 com cartas-bombas. Ele professava um discurso mais anti-(qualquer)
progresso do que propriamente ecológico.
Quando
ao tal “Anhangá” há duas hipóteses: a mais provável é tratar-se de um psicopata de internet
(há milhões deles para todo gosto) que pode até ter alguma conexão on
line com outros doidos parecidos de outros países, o que ainda está muito longe de configurar uma
“organização”.
A outra é a de um provocador criado de todas as peças pelas
forças que estão desmantelando as instituições de defesa do meio ambiente no
Brasil e querem promover uma caça as bruxas assimilando o ambientalismo ao
comunismo (que promoveu alguns dos maiores desastres ambientais da história).
Cai-lhes
como uma luva.
O que
chama a atenção no discurso de “Anhangá”, medianamente politizado mas
claramente fora de uma cultura ambientalista, é a precisão com que ele “levanta a
bola” para esses segmentos idiossincráticos na justificação de seus delírios.
Finalmente, não há
como não perceber, o simbólico da coisa: SSS remete à
SS a famosa tropa de elite nazista. Reparem também na forma angular dos seus
“S” na foto. Se juntarmos dois deles e girarmos um em 90 graus o que resulta? Nada menos que a suástica! Temos aí uma iconografia que remete ao nazismo.
Vivemos
num país polarizado absurdamente pela esquerda hegemônica, no período anterior,
e, agora, pela extrema-direita no núcleo do poder. Qualquer
ato ou palavra que intensifique a polarização absurda e odienta dominante nas redes sociais é um grave desserviço à
democracia e serve para nos mergulhar no caos, violência e maluquice em larga
escala.
Bulir com esses demônios, dar-lhes guarida e
promoção é um horrível desserviço ao Brasil. Um crime de lesa pátria.
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