20/07/2019

Maluquice, provocação ou ecofascismo?


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A revista Veja faz um alarde gigantesco, matéria de capa, sobre um suposto grupo eco-terrorista chamado SSS (Sociedade Secreta Silvestre)  sucursal de uma suposta ITS(Indivíduos que tendem ao Selvagem). Os fatos que justificam tamanho escarcéu são escassos: a entrevista por “deep web” de um indivíduo de codinome Anhangá (uma canção indígena que ensinavam no colégio), uma suposta bomba não explodida em frente a uma igreja, em Brasília e o incêndio de veículos do IBAMA –prática cada vez mais usada por grileiros desmatadores. O alarde também se assenta no fato da Policia Federal estar investigando a suposta organização como é sua obrigação. O faz corretamente sem dar nenhuma publicidade ao assunto antes de poder reunir provas e efetuar prisões.

 Saltam aos olhos duas coisas. Primeiro, o material jornalístico, por enquanto, daria quanto muito uma notinha para o Radar, não  para uma matéria de capa de uma revista de grande circulação, ainda que necessite muito aumenta-la pois, como toda a imprensa escrita,  passa por uma crise de queda de leitores. 

 Isso não justifica “levantar a bola” do indivíduo –não há nada na matéria que prove que há de fato uma organização--  dito Anhangá dando lhe toda essa publicidade e promovendo o que, até prova em contrário, é apenas mais um maluco de internet.   

  Segundo, está prestando um imenso serviço ao clima de paranoia e inquisição que o  núcleo central bolsonarista pretende mergulhar o país. Oferece um bom pretexto para os malucos que cultiva e mobiliza exercerem violência contra indígenas e ambientalistas, em geral. Se isso acontecer a responsabilidade da revista será insofismável.

 O ambientalismo é dos movimentos políticos contemporâneos mais avessos à violência. Pacífico,  mesmo na sua componente mais radical, o Greenpeace, que tradicionalmente recorre a ações espetaculares mas evita cuidadosamente qualquer violência, mesmo “simbólica” embora já a tenha sofrido no atentado de mergulhadores do serviço secreto francês contra o Rainbow Warrior, no Pacífico, nos anos 80,  que custou a vida de um fotógrafo português ou nas prisões de Vladimir Putin. 

 Há uma minúscula franja extrema, essa mais ligada à defesa animal que, por vezes,  pratica atos violentos e, eventualmente,  “lobos solitários” como Theodore Kaczinski, o famoso Unabomber, de Montana, nos EUA que matou três pessoas e feriu outras 23 com cartas-bombas.  Ele  professava um discurso mais anti-(qualquer) progresso do que propriamente ecológico.

 Quando ao tal “Anhangá” há duas hipóteses: a mais provável é tratar-se de um psicopata de internet (há milhões deles para todo gosto) que pode até ter alguma conexão on line com outros doidos parecidos de outros países,  o que ainda está muito longe de configurar uma “organização”. 

 A outra é a de um provocador criado de todas as peças pelas forças que estão desmantelando as instituições de defesa do meio ambiente no Brasil e querem promover uma caça as bruxas assimilando o ambientalismo ao comunismo (que promoveu alguns dos maiores desastres ambientais da história). 

Cai-lhes como uma luva.

 O que chama a atenção no discurso de “Anhangá”, medianamente politizado mas claramente fora de uma cultura ambientalista, é a precisão com que ele “levanta a bola” para esses segmentos idiossincráticos  na justificação  de seus delírios.  

 Finalmente, não há como não perceber, o simbólico da coisa: SSS remete à SS a famosa tropa de elite nazista. Reparem também na forma angular dos seus “S” na foto. Se juntarmos dois deles e girarmos um em 90 graus o que resulta? Nada menos que a  suástica! Temos aí uma iconografia que remete ao nazismo.

 Vivemos num país polarizado absurdamente pela esquerda hegemônica, no período anterior,  e, agora,  pela extrema-direita no núcleo do poder. Qualquer ato ou palavra que intensifique a polarização absurda e odienta dominante  nas redes sociais é um grave desserviço à democracia e serve para nos mergulhar no caos, violência e maluquice em larga escala.

Bulir com esses demônios, dar-lhes guarida e promoção é um horrível desserviço ao Brasil. Um crime de lesa pátria.

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