Minha
gestão começou no final de 2016, quando
desenvolvemos a campanha “Ratifica Já”, que permitiu ao Brasil aprovar, em
tempo recorde, e ser o primeiro país a Ratificar
o Acordo de Paris, passando pelo Congresso e pelo Executivo. Nos dois anos
seguintes reestruturamos o Fórum criando
suas nove Câmaras Temáticas e diversos Grupos de Trabalho que assumiram.
entre outras tarefas, a elaboração da Proposta Inicial para a Implementação da NDC
Brasileira, um processo que durou um ano e meio, mobilizou 537 pessoas e
174 instituições, sempre buscando o consenso entre quadros do governo, terceiro
setor, iniciativa privada e academia. Também produzimos um estudo pioneiro
sobre as perspectivas para um Brasil Carbono-Neutro em 2060. Foram realizados dezenas de eventos,
seminários, workshops, etc.
Entendemos sempre o Fórum como uma instância de
Estado mais que de governo, porque projetos e programas de mitigação e de
adaptação às mudanças climáticas têm prazos e desdobramentos maiores que essa
ou aquela administração ou legislatura. Pautamos nosso posicionamento
rigorosamente pela melhor ciência, pelo amor às futuras gerações e pelos
interesses do Brasil. Entendemos que a mudança do clima traz enormes riscos
para o Brasil mas que a transição para uma economia de baixo carbono/carbono
neutra nos oferece um caminho de oportunidades para retomar o desenvolvimento
econômico e alcançar mais justiça
social.
No atual
governo, convivem negacionistas
climáticos --no núcleo familiar do poder-- com gestores realistas que se pautam
pela ciência e percebem os problemas de políticas de curto, médio e logo prazo
que virão caso não se levem em conta as
mudanças climáticas, se continue a destruir a biodiversidade e poluir o meio
ambiente.
Está em
curso um retrocesso de muitas décadas anos na forma de se encarar a questão
ambiental, em geral, e, em particular a defesa das florestas e os direitos
indígenas. Facções criminosas invadem
florestas nacionais para promover o desmatamento, a grilagem e o envenenamento
dos rios com mercúrio. Tais criminosos, bem
representados na esfera política e governamental, comprometem a imagem do país
e seu comércio internacional. Procura se ideologizar a questão ambiental num
grau de primarismo de fazer dó. Enfrentar a crise climática não é uma questão
de esquerdas ou direitas mas do destino das gerações de nossos filho, netos e
bisnetos.
O planeta encontra-se numa trajetória de 4.5
graus e estamos perdendo a “janela de oportunidade” para dar mais ambição ao
Acordo de Paris. Ele ficou muito aquém do necessário para evitar um futuro
climático catastrófico mas foi um bom primeiro passo. Vivemos um fenômeno internacional de
retrocesso político e descaso climático. Internamente, isso se reflete numa
política pueril e raivosa que pode causar danos irreversíveis.
É nesse
contexto que analiso o ato do presidente Jair Bolsonaro. Não obstante, estou
oferecendo todo meu apoio ao novo coordenador Oswaldo Lucon, destacado membro
do Fórum e técnico altamente preparado e comprometido com uma abordagem
científica da crise climática.
Da minha
parte continuarei a desenvolver meu trabalho em diversas trincheiras que são as
minhas. Pretendo assumir principalmente o desafio de ajudar os estados
brasileiros a desenvolver sua ações de mitigação e adaptação e fazer frente aos
seus desafios sócioambientais. Também estou comprometido em promover a visão da
precificação positiva do menos-carbono (as ações de mitigação tendo um valor
econômico intrínseco), que contribuí para colocar no Paragrafo 108, da Decisão
de Paris, e com a necessidade do
pagamento por serviços ambientais. Uma
contribuição para sair da crise é o reflorestamento,
tanto da mata nativa quanto econômico,
numa escala inédita; a revolução dos bicombustíveis e da eletrificação
nos transportes; uma avanço resoluto nas energias eólica, solar e no
armazenamento de energia. São todas ações que contribuem com uma retomada dos
desenvolvimento econômico.
Agradeço o empenho que todos tiveram em manter
vivo e ativo o Fórum, nesse período. Foram dois anos e meio de trabalho intenso
e dedicado por parte de todos. Me
despeço, com um simples “até logo” porque nossa ação não para nem esmorece.
Enquanto as posições que ocupamos são
transitórias nossa causa e dedicação, permanentes.
Um grande abraço para todos,
Alfredo Sirkis
10/5/2019
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