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(Paris) Comemoro meu aniversário de 68 anos,
em Paris. Dia chuvoso e turbulento. Tensão, manifestações. De um lado, a porradaria.
Embora muitos dos Coletes Amarelos se manifestassem pacificamente, em variados
pontos da cidade, a tônica foram os incidentes violentos. Houve 1723 prisões.
Calcula-se que cerca de 10 mil Coletes Amarelos convergiram sobre diversos
pontos da capital. Houve depredações, incêndios de veículos e conflitos com um
dispositivo policial bem organizado e contido. Os amarelos extrapolaram a
gasolina cara, agora querem também a cabeça do Macron. As violências capturaram o foco da mídia.
Noutro
ponto de Paris, a cacofonia, sem porradaria. Também menos mídia para uma
manifestação mais numerosa, umas 17 mil pessoas: a Marcha do Clima, no tradicional circuito de Nation a Republique. Exigiam “mais ambição” dos governos
na COP 24, em Katowice, com seu jeitão “bicho grilo”, ao velho estilo das manifestações ecolos. Uma Babel ambulante: o Greenpeace e outras
entidades ambientalistas, grupos de
extrema-esquerda “anticapitalistas”, coletivos
a causa animal ou vegana, LGBTs de vários estilos, sindicalistas da CGT,
militantes do PCF, dos verdes espalhados, coletivos pelo “descrescimento” econômico,
anarquistas aqui e ali. O dado mais curioso
era a presença de um certo número de... Coletes Amarelos, um toque,
convenhamos, surrealista. Não havia propriamente palavras de ordem unificadoras,
as vozes esganiçadas vindas dos carros de som puxavam uns slogans díspares que
pouca gente repetia, cada qual preocupado com sua própria performance. Num momento
decisivo para a causa climática global quando forças reacionárias e negacionistas,
simbolizadas
por Donald Trump, se assanham e, ao mesmo tempo, os cientistas divulgam dados cada vez mais
alarmantes, um happening incapaz de respaldar nenhuma ação estratégica ou tática mais concreta. E essa atitude conciliadora com os “outros que lutam”...estes
a favor da gasolina a bom preço emitindo CO2 e poluindo a rodo.
A presença de grupos de Coletes Amarelos também
era sintomática de tempos de confusão entrópica. Da extrema direta à extrema
esquerda, de Marine Le Pen a Jean-Luc Melanchon emanam manifestações de “solidariedade”
e “compreensão” para com os Coletes Amarelos. Os grupos ditos mais “combativos”
das extremas direita e esquerda também se infiltram nesse movimento, essencialmente
de uma França mais rural, e participam
dos quebra quebras querendo ver o circo pegar fogo. Há uma critica, essa
pertinente, feita por lideranças ambientalistas
à forma de implementação da taxa de carbono sem uma compensação para os rurais e periféricos obrigados a usar mais o automóvel. Também é pertinente
a observação de que a taxação do carbono deveria vir no bojo de uma reforma
tributária mais abrangente. Macron ao abolir o imposto sobre fortunas –bastante
falho tecnicamente, ineficaz e facilmente contornável pela fuga de capitais-- acabou por vestir a carapuça de “presidente
dos ricos”. Foi uma medida politicamente desastrosa.
Na
verdade o sujeito oculto da Marcha do Clima foi também o “Fora Macron”. Um
desejo da moda nesses tempos digitais que vai de encontro a duas realidades
bicudas: na era Trump, Emmanuel Macron é líder internacional mais ativo
em relação às mudanças climáticas. A outras: “Fora Macron” para colocar quem? Os Coletes
Amarelos tem um tônus trumpiano. Alguns vocalizam querem todo poder para o general
Pierre de Villers, demitido por Macron por protestar contra cortes no
orçamento. Isso tudo lembra os nossos idos de 2013, no Brasil que começou como “convergências
de lutas” que no fundo ninguém entendeu direito e terminou alguns anos depois
como sabemos.
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