Os eleitos começam a definir ao que vieram e o
começo não é nada promissor. O presidente eleito depois de idas e vindas
decidiu que vai, de fato, acabar com o Ministério do Meio Ambiente,
subordinando-o ao da Agricultura, Pecuária e Pesca, comandado por um
ruralista. Isso certamente irá elevar os níveis de desmatamento literalmente à estratosfera além de criar um ministério paquidérmico no qual a agricultura brasileira sera a primeira a ser prejudicada.
Isso
terá que ser feito, no próximo ano, a partir da posse e terá que passar pelo Congresso possivelmente mediante Medida Provisória. Até a cômoda maioria natural de um novo presidente em “estado
de graça”, como dizem os franceses, terá dificuldade de aprovar isso dado o tamanho do
absurdo, a inevitável mobilização da sociedade e a péssima repercussão internacional. Talvez até lá ele pondere com mais
cuidado a questão.
Já no Rio de Janeiro, o governador eleito apresenta como fórmula para melhorar a segurança postar snipers (franco atiradores) em volta das favelas para alvejar
os traficantes que estejam portando armas. Para além de toda a questão legal de
um policial tomar a iniciativa de abrir fogo, fora de uma situação de legítima
defesa que justifique um auto de resistência, é preciso discutir a eficácia
operacional e as consequências lógicas reais dessa tática. Em primeiro lugar os traficantes
podem simplesmente ocultar o armamento no cantinho, coberto por um jornal. As armas não estarão visíveis embora sempre a mão.
Qual seria o passo seguinte? Alvejar os que estiverem vendendo droga (ou quem sabe consumindo) porque se presume haver armas por perto? Essa situação estará expondo os policiais a consequências legais graves e criando uma situação de confusão e total incerteza que já estão sendo apontadas por juristas e pelo MP.
Qual seria o passo seguinte? Alvejar os que estiverem vendendo droga (ou quem sabe consumindo) porque se presume haver armas por perto? Essa situação estará expondo os policiais a consequências legais graves e criando uma situação de confusão e total incerteza que já estão sendo apontadas por juristas e pelo MP.
Por outro lado, essa opção tática expõe os policiais,
sobretudo aqueles fardados, e a população em geral a snipers do outro lado. Se as facções resolvem responder atirando nos
policias visíveis ou, até na população de forma indiscriminada? É mais fácil
para um franco atirador encontrar alvos atirando de dentro de uma posição da
favela para o asfalto do que vice-versa. Cria-se, automaticamente, o risco também do
fogo de franco atiradores em direção contrária.
O uso de força letal contra os bandidos que
exercem controle territorial só pode se dar no contexto de operações muito bem
organizadas destinadas à reconquista das comunidades. Sabemos bem de sua complexidade
conhecemos bem. Se fosse fácil já estaria resolvido. Ficar alvejando-os à distância –e provocando uma reação de mesmo tipo-- é condenar a Cidade a situações de tiro ao alvo recíproco em confrontos inconclusivos cuja maior vítima será a população tanto da favela
como do asfalto.
Nesse contexto é provável que os PMs nas ruas virem patinhos numa galeria de
tiro. Por maiores que sejam as baixas atuais nas polícias ainda não estamos numa situação
do tipo Colômbia, anos 90, quando os “sicários” de Pablo Escobar caçavam policias
indiscriminadamente nas ruas. É o que nos aguarda se o governador eleito não
tomar juízo e desistir da sua pueril e perigosa ideia.
A campanha eleitoral já acabou, vamos falar sério.
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