01/11/2018

Muita calma nessa hora...


Os eleitos começam a definir ao que vieram e o começo não é nada promissor. O presidente eleito depois de idas e vindas decidiu que vai, de fato,  acabar com o Ministério do Meio Ambiente, subordinando-o ao da Agricultura, Pecuária e Pesca, comandado por um ruralista. Isso certamente irá elevar os níveis de desmatamento literalmente à estratosfera além de criar um ministério paquidérmico no qual a agricultura brasileira sera a primeira a ser prejudicada.

  Isso terá que ser feito, no próximo ano,  a partir da posse e terá que passar pelo Congresso possivelmente  mediante Medida Provisória. Até a cômoda  maioria natural de um novo presidente em “estado de graça”, como dizem os franceses, terá dificuldade de aprovar isso dado o tamanho do absurdo, a inevitável mobilização da sociedade e a péssima repercussão internacional. Talvez até lá ele pondere com mais cuidado a questão.

 Já no Rio de Janeiro,  o governador eleito apresenta como fórmula para  melhorar a  segurança postar snipers (franco atiradores) em volta das favelas para alvejar os traficantes que estejam portando armas. Para além de toda a questão legal de um policial tomar a iniciativa de abrir fogo, fora de uma situação de legítima defesa que justifique um auto de resistência,  é preciso discutir a eficácia operacional e as consequências lógicas reais dessa  tática. Em primeiro lugar os traficantes podem simplesmente ocultar o armamento no cantinho, coberto por um jornal. As armas não estarão visíveis embora sempre a mão.  

Qual seria o passo seguinte? Alvejar  os que estiverem vendendo droga (ou quem sabe consumindo) porque se presume haver armas por perto? Essa situação estará expondo os policiais a consequências legais graves e criando uma situação de confusão e total incerteza que já estão sendo apontadas por juristas e pelo MP.  

 Por outro lado, essa opção tática expõe os policiais, sobretudo aqueles fardados,  e a população em geral a snipers do outro lado. Se as facções resolvem responder atirando nos policias visíveis ou, até na população de forma indiscriminada? É mais fácil para um franco atirador encontrar alvos atirando de dentro de uma posição da favela para o asfalto do que vice-versa.  Cria-se, automaticamente, o risco também do fogo de franco atiradores em direção contrária. 

 O uso de força letal contra os bandidos que exercem controle territorial só pode se dar no contexto de operações muito bem organizadas destinadas à reconquista das comunidades. Sabemos bem de sua  complexidade conhecemos bem. Se fosse fácil já estaria resolvido.  Ficar alvejando-os à distância –e provocando uma reação de mesmo tipo--  é condenar a Cidade a situações de tiro ao alvo recíproco em confrontos inconclusivos cuja maior vítima será a população tanto da favela como do asfalto.

  Nesse contexto é provável que os PMs nas ruas virem patinhos numa galeria de tiro. Por maiores que sejam as baixas atuais nas polícias ainda não estamos numa situação do tipo Colômbia, anos 90,  quando os “sicários” de Pablo Escobar caçavam policias indiscriminadamente nas ruas.  É o que nos aguarda se o governador eleito não tomar juízo e  desistir da sua pueril e perigosa ideia.


A campanha eleitoral já acabou, vamos falar sério.

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