A distorção de um jornal de Recife, acolhida e depois corrigida(pelos vistos não a tempo...) pela Folha de SP, envolvendo Marina com Feliciano tem dado, pelo que dizem, "panos prás mangas". Não me deixo impressionar com as chamadas "redes sociais". Em certas situações há pouco a fazer: todo dia espalha-se um hoax qualquer uma mentira ou distorção que corre solta e depois some. A essência do fenômeno é aquela expressão italiana: si non e vero e bene trovato.
Temos que ter paciência, sangue frio e couro de elefante. Isso vai acontecer o tempo todo. O que cabe discutir daqui para diante é se existe uma maneira melhor de Marina lidar com o assunto levando em conta sua posição pessoal, outras posições que temos na Rede e a forma menos desgastente de se comunicar. O problema é que, de fato, temos diferêncas reais --embora perfeitamente administráveis-- sobre o tema e outros temas ditos "comportamentais".
Pessoalmente tenho dois tipos de diferenças de visão. Com Marina, por um lado, e com alguns militantes da causa gay por outro.
Com Marina divirjo, não é de hoje, sobre a questão do aborto, drogas e, numa menor medida, na questão gay mas penso que ambas nossas visões podem conviver perfeitamente num mesmo grupo político.
Por outro lado tenho divergências mais de natureza tática sobre a forma com que parte do movimento gay e certos grupos GLT se colocam, sobretudo quando em posições de governo, e em relação à maneira em que estão encaminhando o affaire Feliciano. Aqui vou abordar apenas o segundo assunto. O primeiro tema já abordei noutro blog.
No sétimo céu
Na minha opinião a forma com que Feliciano vem sendo combatido na comissão só o favoreceu. Ali cabia uma denúncia à dinâmico do parlamento que coloca um homófobo e racista na presidência da comissão de direitos humanos e um "rei da soja" na de meio ambiente do Senado --nisso a colocação da Marina foi perfeita. Dali para frente, é combate-lo, semanalmente, em cima dos temas concretos que forem surgindo na comissão da mesma forma que combatemos diariamente a maioria parlamentar noutros campos de atuação.
A insistência em destitui-lo a qualquer preço sem ter maioria para tanto com manifestações meio histéricas (para chamar a atenção da mídia') dentro da sala da comissão, promoveu, é certo, algumas lideranças GLT mas promoveu muito mais o dito cujo: várias inserções no Jornal Nacional, Páginas Amarelas da Veja, artigo na Folha e muitos e muitos gigabytes na redes sociais (contra, mas muito mais a favor, por incrivel que pareça...)
Um personagem novo surgiu no horizonte político brasileiro...Cruzo com Feliciano nos corredores, cercado de fotógrafos, cinegrafistas, seguranças, admiradores e curiosos com um sorriso de orelha a orelha no sétimo céu de felicidade.
Um personagem novo surgiu no horizonte político brasileiro...Cruzo com Feliciano nos corredores, cercado de fotógrafos, cinegrafistas, seguranças, admiradores e curiosos com um sorriso de orelha a orelha no sétimo céu de felicidade.
O movimento "anti" colocou-se num beco sem saída: não tem força para destitui-lo, acaba promovendo-o e aparecendo para o público não diretamente envolvido na questão como intolerante e radical, aparentemente tentando calar a voz de um energúmeno (haja visto as colocações sobre John Lennon ou "mãe menininha do Patois") mas que tem, afinal, o direito constitucional de falar besteira.
Liberdade de expressão dos energúmenos
Isso é um aspecto importante: a liberdade de expressão não está aí para proteger apenas um discurso politicamente correto. Para mim o limite à liberdade de expressão está na incitação à violência e, legalmente, no racismo. Defendo o direito de Bolsonaro e Feliciano expressarem suas barbaridades desde que não incitem à violência.
Há percepções diferentes da liberdade de expressão. Nos EUA é totalmente irrestrita, pode se defender o nazismo e até incitar à violência, inclusive contra o governo como fazem as milícias supremacistas. Não pode passar à ação. Já Europa coíbe-se a negação do holocausto nazista. Mas sandices fascistóides e outras são toleradas e a homofobia só é reprimida quando associada à violência. E isso acontece: recente pesquisa mostra que metade dos homosexuais europeus já se sentiu em algum momento ameaçada física ou moralmente.
O volume da mobilização, sobretudo de jovens, na França contra a aprovação da lei do casamento gay foi preocupante. Claramente foi mobilizado pela rede capilar da igreja católica. Mas o movimento conseguiu caracterizar sua causa como uma bandeira de cidadania, democrática conquistou a maioria da população --isso está claro nas pesquisas-- e venceu.
Há percepções diferentes da liberdade de expressão. Nos EUA é totalmente irrestrita, pode se defender o nazismo e até incitar à violência, inclusive contra o governo como fazem as milícias supremacistas. Não pode passar à ação. Já Europa coíbe-se a negação do holocausto nazista. Mas sandices fascistóides e outras são toleradas e a homofobia só é reprimida quando associada à violência. E isso acontece: recente pesquisa mostra que metade dos homosexuais europeus já se sentiu em algum momento ameaçada física ou moralmente.
O volume da mobilização, sobretudo de jovens, na França contra a aprovação da lei do casamento gay foi preocupante. Claramente foi mobilizado pela rede capilar da igreja católica. Mas o movimento conseguiu caracterizar sua causa como uma bandeira de cidadania, democrática conquistou a maioria da população --isso está claro nas pesquisas-- e venceu.
Somos um país de maioria culturalmente conservadora em relação a temas comportamentais. Ela pode ser reduzida, desconstruída e desmontada, no futuro, como o foi em outros países, como Portugal por exemplo, que legalizou o aborto via um referendo.
Não creio que a melhora forma de avançar seja pelo viés do discurso de "orgulho gay" e da combatividade anti-homofóbica. É certo que desopilam o fígado, permitem extravasar a raiva mas politicamente não são muito eficazes na conquista de corações e mentes a partida conservadores ou dos encima do muro. Podem eventualmente ser contraproducentes.
Temos que respeitar o conservadorismo de costumes e fazer com que os conservadores culturais respeitem outras formas de viver e amar diferentes das suas. Em resumo: não é uma questão gay, é uma questão democrática. O discurso para a maioria conservadora ou os indiferentes tem que ser pelo caminho democrático da tolerância, do respeito às diferenças, e da aceitação do outro. O que, aliás, é perfeitamente afinada com a pregação de Jesus Cristo.
O episódio de Recife
Voltemos a Recife. Era evidente que qualquer referência que Marina ali fizesse ao Feliciano que não fosse um ataque em regra correria o risco de se distorcido --como o foi-- para uma suposta "defesa" ou atenuação. Nesse momento, nessa discussão não há lugar para nenhuma sutileza: ou se condena de forma clara e dura (sem ser histérica!) ou se ignora.
Ao dizer que ele não deve ser condenado por "ser evangélico" mas por ser "despreparado", a preocupação central naquele momento parece ser a defesa dos evangélicos, em geral, do desgaste de imagem que Feliciano lhes inflige junto ao segmento moderno e laico da sociedade e não, aquilo que esse mesmo segmento esperaria dela: uma manifestação explícita de solidariedade aos gays por ele discriminados.
Marina, por outro lado, atendeu a uma justa preocupação de seu público evangélico que se sente discriminado pelas generalizações que surgem no bojo do repúdio ao Feliciano. Sua preocupação nesse particular é justa: Feliciano não faz o que faz porque é evangélico. Faz o que faz e diz o que diz porque é um oportunista político, um pilantra religioso e, culturalmente, um reacionário preconceituoso e racista.
A verdade é que existe na nossa sociedade, bastante intolerante e avessa ao diálogo, tanto preconceito contra os gays quanto contra os evangélicos em função das representações caricatas que se fazem de uns e de outros. Há uma diferença. Num caso é um conjunto de convicções religiosas e noutro uma orientação comportamental sexual/afetiva.
As consequências também são assimétricas: embora isso aconteça em outros países, notadamente no mundo islâmico, no Brasil os evangélicos não são vítimas de violência nem perseguidos de fato, enquanto abundam o crimes de ódio --incluindo assassinatos-- e as discriminações explícitas contra os gays.
As consequências também são assimétricas: embora isso aconteça em outros países, notadamente no mundo islâmico, no Brasil os evangélicos não são vítimas de violência nem perseguidos de fato, enquanto abundam o crimes de ódio --incluindo assassinatos-- e as discriminações explícitas contra os gays.
Isso pode indicar qual preconceito precisa ser combatido com mais urgência. Penso, porém, que devemos combater claramente ambos cultural e politicamente. É preciso afirmar claramente a pluralidade religiosa (incluindo aí a não-religiosa), por um lado, e a liberdade de orientação sexual/afetiva, por outro, e promover uma cultura inclusiva e tolerante. Isso é cidadania.
Diante de uma humanidade patriarcal,na qual o superego está ainda estruturado na vontade do pai fica muto difícil discutir a mobilidade de compreesão do que é assumido como masculino,ou feminino,o eu ,o outro,as questões da alteridadeLembro-me com muita ternura de um texto da Gayatri Spyvak,"Quem reivindica a alteridade"Ela começa assim....como marxista da velha guarda.... penso,as vezes que a ascenção aos mercados dá a cada um a ilusão do direito de ser o que quiser,mas,com um superego destes,por mais que a gente tente acertar,estará sempre faltando alguma coisa
ResponderExcluir