(Pequim) Em relação ao decimo oitavo congresso
do PC chinês, que definirá a cúpula do poder para o próximos dez anos, lugar comum seria citar aquela famosa frase de
“O Leopardo”: é preciso que algo mude para que tudo continue como está. Mas a
realidade é mais complexa, paradoxal. De
fato, a China já mudou imensamente. Fica
como está a ausência de democracia tal qual a entendemos e que por aqui fazem acompanhar de “ocidental”
à guisa de adjetivo. Certamente essa
mudança não está no horizonte do moderno mandarinato chinês cujas raízes estão mais
em Confuncio e na milenar casta burocrática que segue sua filosofia, do que no “pensamento Mao” , ao qual
continuam, no entanto, prestando o que em inglês se diz lip
service (e que eu traduziria livremente por conversa pra boi dormir).
A aspiração generalizada do povo chinês por
reformas ainda não se expressa senão marginalmente na ânsia por eleições livres
e diretas para o poder central e pluripartidarismo. Há desconfiança focada na
democracia de tipo hindu, ou paquistanês compartilhada por círculos críticos do
poder. O receio de uma abertura tipo “primavera árabe” que acabe engendrando
conflitos entre regiões e segmentos sociais e comprometa ganhos econômicos existe mesmo entre os mais críticos, hoje multidão. O grau de protesto na China é
imenso e a repressão longe está de ser sistemática. Um dos principais focos de
mobilização é a questão ambiental. Ela vem produzindo manifestações
gigantescas. Recentemente, quatro grandes projetos de empreendimentos altamente
poluentes foram cancelados por causa desses protestos.
Os “verdes” chineses, que de uma maneira geral
cultivam uma relação de pressão/diálogo com o poder, são o movimento de protesto melhor tolerado.
Atuam no exterior do PCC com considerável influência no interior. Há um
consenso social e político de que a questão ambiental na China é dramática, as
agressões ambientais locais --água, ar, solo, alimentos—insuportáveis e de que
as mudanças climáticas constituem uma ameaça dramática para um país com pouca
água e relativamente poucas terras próprias à agricultura. Não há negacionismo
climático na China.
O problema é como corrigir o rumo quando a
cultura dominante ainda é a do forte crescimento do PIB (discute-se como
muda-lo), as regiões competem entre si, dramaticamente, e milhões se incorporam todo ano à vida urbana. Há um amplo e competente grupo de ambientalistas
que tornaram-se virtuosos nessa relação critico-propositiva. Entre eles
destacaria minha amiga Wu Changua; os professores Qi Ye, da Tsingua e Yi Wang,
da Academia de Ciências e deputado do Congresso Nacional; Ma Jun, do Instituto
de Assuntos Públicos e Ambientais e Michael Zhao, braço direito de Maurice
Stong, o condutor da Rio 92, que atualmente vive na China. Todos atuam no sutil registro da crítica/colaboração.
Radicais poderiam chama-los “chapa branca”. Mas são os que fazem a coisa
avançar nas circunstâncias chinesas.
Há bem menos tolerância com outros temas
importantes como direitos humanos, autonomia regional/cultural, democracia
representativa e aquilo que é a causa
primordial de conflito da atualidade: truculentas desapropriações de terras e
residências para favorecer a explosão imobiliária e a expansão de
infraestruturas variadas.
O que pode mudar? Minha impressão é que serão
ampliadas as experiências de eleições locais com competição, inclusive para postos no partido e que
crescerão exponencialmente os mecanismos críticos/opinativos/consultivos (mas
não deliberativos...) via internet.
Percussor disso é o Weibo, o twitter chinês, com dezenas de milhões se
expressando, criticamente, todos os
dias. Isso num país que bloqueia total ou parcialmente o Google, o Facebook e
websites variados. Esse dias o do New York Times, por exemplo. Como
no Brasil o tema catártico é a corrupção onipresente e como acabar com ela “antes
que ela acabe com a China”. Fica difícil
imaginar como isso possa acontecer sem um judiciário independente. Esse parece
ser o ponto fulcral e o limiar do que poderá ser alcançado no atual ciclo de
reformas. Se isso é viável, num regime
de partido único, que tutela os juízes e a cujos membros não se aplica a Lei
senão a disciplina interna do partido, é o grande ponto de interrogação.
Meu relatório preliminar de atividades na China:
Meu relatório preliminar de atividades na China:
Gostaria de esclarecer
que me encontro na China, em missão oficial das Comissões de Mudanças
Climáticas e de Relações Exteriores da Câmara. A votação dos royalties foi
pautada expeditamente quando já me estava em Pequim, sem condições de regresso
a tempo.. Lamento profundamente não ter estado no plenário para participar de
mais esse embate contra esse atropelo constitucional contra o Rio de Janeiro. A
luta continua e não consigo imaginar que a presidente Dilma não o vete essa
aberração. Foi também um desafio a sua autoridade: há meses se acreditava que ao
final seria aprovado o relatório do dep. Zaratini. De forma traiçoeira as
mesmas forças que agiram no Código Florestal, fizeram valer, traiçoeiramente,
esse atropelo. Se não for vetado ele cairá na Justiça.
Em relação a minha missão na China
faço aqui um resumo das principais atividades desenvolvidas e a desenvolver
ainda.
1 - Pequim.
1.1 - Palestra no Ministério
de Meio Ambiente, a convite de Wu Changua, no Instituto de formação do
mesmo, para um grupo de 20 dirigentes e técnicos
sobre temas ambientais variados, sobretudo relacionados ao Clima e à Ecologia
Urbana.
1.2 - Visita à empresa estatal chinesa State Grid, a maior distribuidora de
energia elétrica da China, onde fui recebido por membros de sua cúpula como o
Diretor Chefe de Investimento Sun Jinping, o Diretor de Operações Exteriores
Wang Qing, o Diretor de Cooperação Internacional, Wang Wenan e o chefe da
divisão de assuntos internacionais Zang Zhande.
A State Grid é uma das
principais investidoras chinesas no Brasil e discutimos longamente a
colaboração que podem dar para a implantação do "smart grid"
indispensável para que o Brasil possa multiplicar a geração distribuída de
energia solar e eólica. Visitei um grande centro de reabastecimento de veículos
elétricos (carros, peruas e caminhões) e um dos 55 postos de abastecimento de
veículos elétricos, em Pequim. Este situado junto ao um prédio da empresa que
executa um programa piloto de economia de energia e de geração distribuída com
solar e gás produzidas no prédio e injetadas no "smart grid".
1.3 - Visita à empresa Hanergy a maior operadora de hidorelétricas da China e que agora se
dedica também a energia solar usando a revolucionária tecnologia do
"filme" de silicio, diferente das células fotovoltaicas cristalinas.
Fui recebido no QG de Pequim por Jason Chow, seu vice presidente executivo, e
discutimos as perspectivas para trazer para o Rio sua fábrica de filme
fotovoltaico.
1.4 – Visita aos escritórios da Canadian Solar (na verdade mais chinesa que canadense) que já
tem uma incipiente representação em São Paulo e estuda seriamente a
possibilidade de começar a produzir painéis solares no Brasil. Vou visitar na
quinta-feira a fábrica deles perto de Beijing.
1.5 – Reunião de trabalho com o embaixador Clodolado
Huggonei, a ministra conselheira Tatiana Rosito e o primeiro secretário Marco
Túlio Cabral para discutir as relações Brasil/China tanto econômicas quanto
estratégicas e as condições para a operação da embaixada dada a importância
crescente de nossa representação na China.
1.6 – Visita à Academia
de Ciências da China e reunião com Wang Yi, PHD, dirigente do Instituto de
Políticas Públicas e Gestão da Academia de Ciências, que é a maior instituição
de pesquisa do mundo. Wang Yi é um dos mais influentes formuladores de
políticas climáticas e ambientais na China e deputado da Assembleia do
Povo.
7 - Visita ao IPE
(Instituto de Assuntos Públicos e Ambientais) a principal ONG ambiental chinesa
para uma reunião com seu diretor Ma Jun um dos ambientalistas mais conhecidos e
respeitados da China organizador do ranking ambiental de empresas chinesas e de
um site que hoje é uma referencia internacional sobre a questão ambiental na
China.
8 - Visita a Maurice
Strong, líder da Rio 92, atualmente residente em Pequim e animador da Cosmos Internacional Inc que presta
consultoria ao governo chinês.
9 - Visita a ONG The
Nature Conservacy para reunião com seus dirigentes na China Robert Tansey e
Qu Honnge.
2 - Shanghai
2.1 – Pelestra a professores do CELAP, China Executive Leadership Academy- Pudong e almoço de
trabalho com o Dr Feng Jun e sua equipe. Trata-se do mais importante centro de
formação de lideranças na China. Esse ano 15 mil quadros da gestão local,
provincial e nacional, do serviço diplomático e das Forças Armadas. Feng
Jun é um alto dirigente da hierarquia chinesa e diretores de programas
internacionais e curriculares em temas ambientais, estratégicos e de política
internacional. Fui o primeiro representante brasileiro a ser recebido nesse
nível na CELAP com palestra para um grupo de professores sobre a perspectivas
de colaboração Brasil/China na questão climática.
2.2 – Palestra no SIIS - Shanghai Institute for International
Studies. É um dos mais importantes think tanks chineses
sobre questões internacionais, fui recebido pelo Vice-presidente executivo o
PHD Chen Dogxiao e um seleto grupo de professores e pesquisadores aos quais fiz
uma apresentação sobre o tema das Mudanças Climáticas na perspectiva da próxima
conferência dos Clima, em Doha, a COP 18.
2.3 – Visita à fábrica Trina
Solar de painéis fotovoltaicos (a terceira maior da China) em Changzou cidade
a três horas de Shanghai. Fui recebido pelo seu CEO Jifan Gao e a direção da
empresa. Conversamos sobre perspectivas de investimento no Brasil e apoio da
Trina ao Rio/Clima.
2.4 - Visita à fábrica da Canadian
Solar. A fábrica é em Jaingsu, há uma hora e meia de Shanghai. Encontrei com o CEO Shawn Qu (pronuncia-se Chu). Das empresas solares é a mais ágil internacionalmente a e aquela que parece mais susceptível de investir no Brasil a curto prazo.
Está sendo uma agenda bastante carregada e consistente.
Minha visita é considerada pela nossa embaixada em Pequim e consulado em
Shanghai como uma das missões mais importantes e influentes já realizadas por
um parlamentar brasileiro na China.
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