17/11/2012

China: o que esperar?



 [Estou no aeroporto de JFK em escala do meu vôo entre Pequim e Bogotá e, finalmente, consigo acessas o editor do blogsopot que e bloqueado na China. Aí vão meus primeiros textos escritos na presente viagem para Pequim e um relatório preliminar da mesma]

 (Pequim) Em relação ao decimo oitavo congresso do PC chinês, que definirá a cúpula do poder para o próximos dez anos,  lugar comum seria citar aquela famosa frase de “O Leopardo”: é preciso que algo mude para que tudo continue como está. Mas a realidade é mais complexa,  paradoxal. De fato,  a China já mudou imensamente. Fica como está a ausência de democracia tal qual a entendemos  e que por aqui fazem acompanhar de “ocidental” à guisa de adjetivo.  Certamente essa mudança não está no horizonte do moderno mandarinato chinês cujas raízes estão mais em Confuncio e na milenar casta burocrática que segue sua filosofia,  do que no “pensamento Mao” , ao qual continuam, no entanto, prestando o que em inglês se diz  lip service (e que eu traduziria livremente por conversa pra boi dormir).

 A aspiração generalizada do povo chinês por reformas ainda não se expressa senão marginalmente na ânsia por eleições livres e diretas para o poder central e pluripartidarismo. Há desconfiança focada na democracia de tipo hindu, ou paquistanês compartilhada por círculos críticos do poder. O receio de uma abertura tipo “primavera árabe” que acabe engendrando conflitos entre regiões e segmentos sociais e comprometa  ganhos econômicos existe mesmo entre os mais críticos,  hoje multidão. O grau de protesto na China é imenso e a repressão longe está de ser sistemática. Um dos principais focos de mobilização é a questão ambiental. Ela vem produzindo manifestações gigantescas. Recentemente, quatro grandes projetos de empreendimentos altamente poluentes foram cancelados por causa desses protestos.

 Os “verdes” chineses, que de uma maneira geral cultivam uma relação de pressão/diálogo com o poder,  são o movimento de protesto melhor tolerado. Atuam no exterior do PCC com considerável influência no interior. Há um consenso social e político de que a questão ambiental na China é dramática, as agressões ambientais locais --água, ar, solo, alimentos—insuportáveis e de que as mudanças climáticas constituem uma ameaça dramática para um país com pouca água e relativamente poucas terras próprias à agricultura. Não há negacionismo climático na China.

 O problema é como corrigir o rumo quando a cultura dominante ainda é a do forte crescimento do PIB (discute-se como muda-lo), as regiões competem entre si, dramaticamente,  e milhões se incorporam todo ano à vida urbana.  Há um amplo e competente grupo de ambientalistas que tornaram-se virtuosos nessa relação critico-propositiva. Entre eles destacaria minha amiga Wu Changua; os professores Qi Ye, da Tsingua e Yi Wang, da Academia de Ciências e deputado do Congresso Nacional; Ma Jun, do Instituto de Assuntos Públicos e Ambientais e Michael Zhao, braço direito de Maurice Stong, o condutor da Rio 92, que atualmente vive na China. Todos atuam  no sutil registro da crítica/colaboração. Radicais poderiam chama-los “chapa branca”. Mas são os que fazem a coisa avançar nas circunstâncias chinesas.

 Há bem menos tolerância com outros temas importantes como direitos humanos, autonomia regional/cultural, democracia representativa e aquilo que é a  causa primordial de conflito da atualidade: truculentas desapropriações de terras e residências para favorecer a explosão imobiliária e a expansão de infraestruturas variadas.

 O que pode mudar? Minha impressão é que serão ampliadas as experiências de eleições locais com competição,  inclusive para postos no partido e que crescerão exponencialmente os mecanismos críticos/opinativos/consultivos (mas não deliberativos...) via internet.  Percussor disso é o Weibo, o twitter chinês, com dezenas de milhões se expressando, criticamente,  todos os dias. Isso num país que bloqueia total ou parcialmente o Google, o Facebook e websites variados. Esse dias o do New York Times, por exemplo.    Como no Brasil o tema catártico é a corrupção onipresente e como acabar com ela “antes que ela acabe com a China”.  Fica difícil imaginar como isso possa acontecer sem um judiciário independente. Esse parece ser o ponto fulcral e o limiar do que poderá ser alcançado no atual ciclo de reformas. Se isso é viável,  num regime de partido único, que tutela os juízes e a cujos membros não se aplica a Lei senão a disciplina interna do partido, é o grande ponto de interrogação.

Meu relatório preliminar de atividades na China:


  Gostaria de esclarecer que me encontro na China, em missão oficial das Comissões de Mudanças Climáticas e de Relações Exteriores da Câmara. A votação dos royalties foi pautada expeditamente quando já me estava em Pequim, sem condições de regresso a tempo.. Lamento profundamente não ter estado no plenário para participar de mais esse embate contra esse atropelo constitucional contra o Rio de Janeiro. A luta continua e não consigo imaginar que a presidente Dilma não o vete essa aberração. Foi também um desafio a sua autoridade: há meses se acreditava que ao final seria aprovado o relatório do dep. Zaratini. De forma traiçoeira as mesmas forças que agiram no Código Florestal, fizeram valer, traiçoeiramente,  esse atropelo.  Se não for vetado ele cairá na Justiça.

 Em relação a minha missão na China faço aqui um resumo das principais atividades desenvolvidas e a desenvolver ainda.

1 - Pequim.

 1.1 - Palestra no Ministério de Meio Ambiente, a convite de Wu Changua, no Instituto de formação do mesmo,  para um grupo de 20 dirigentes e técnicos sobre temas ambientais variados, sobretudo relacionados ao Clima e à Ecologia Urbana. 

 1.2 - Visita à empresa estatal chinesa State Grid, a maior distribuidora de energia elétrica da China, onde fui recebido por membros de sua cúpula como o Diretor Chefe de Investimento Sun Jinping, o Diretor de Operações Exteriores  Wang Qing, o Diretor de Cooperação Internacional, Wang Wenan e o chefe da divisão de assuntos internacionais Zang Zhande.

 A State Grid é uma das principais investidoras chinesas no Brasil e discutimos longamente a colaboração que podem dar para a implantação do "smart grid" indispensável para que o Brasil possa multiplicar a geração distribuída de energia solar e eólica. Visitei um grande centro de reabastecimento de veículos elétricos (carros, peruas e caminhões) e um dos 55 postos de abastecimento de veículos elétricos, em Pequim. Este situado junto ao um prédio da empresa que executa um programa piloto de economia de energia e de geração distribuída com solar e gás produzidas no prédio e injetadas no "smart grid".

 1.3 - Visita à empresa Hanergy a maior operadora de hidorelétricas da China e que agora se dedica também a energia solar usando a revolucionária tecnologia do "filme" de silicio, diferente das células fotovoltaicas cristalinas. Fui recebido no QG de Pequim por Jason Chow, seu vice presidente executivo, e discutimos as perspectivas para trazer para o Rio sua fábrica de filme fotovoltaico.

 1.4 – Visita aos escritórios da Canadian Solar (na verdade mais chinesa que canadense)  que já tem uma incipiente representação em São Paulo e estuda seriamente a possibilidade de começar a produzir painéis solares no Brasil. Vou visitar na quinta-feira a fábrica deles perto de Beijing.

 1.5 – Reunião de trabalho com o embaixador Clodolado Huggonei, a ministra conselheira Tatiana Rosito e o primeiro secretário Marco Túlio Cabral para discutir as relações Brasil/China tanto econômicas quanto estratégicas e as condições para a operação da embaixada dada a importância crescente de nossa representação na China. 

1.6 – Visita à Academia de Ciências da China e reunião com Wang Yi, PHD, dirigente do Instituto de Políticas Públicas e Gestão da Academia de Ciências, que é a maior instituição de pesquisa do mundo. Wang Yi é um dos mais influentes formuladores de políticas climáticas e ambientais na China e deputado da Assembleia do  Povo. 

7 - Visita ao IPE (Instituto de Assuntos Públicos e Ambientais) a principal ONG ambiental chinesa para uma reunião com seu diretor Ma Jun um dos ambientalistas mais conhecidos e respeitados da China organizador do ranking ambiental de empresas chinesas e de um site que hoje é uma referencia internacional sobre a questão ambiental na China. 

8 - Visita a Maurice Strong, líder da Rio 92, atualmente residente em Pequim e animador da Cosmos Internacional Inc que presta consultoria ao governo chinês.

9 - Visita a ONG The Nature Conservacy para reunião com seus dirigentes na China Robert Tansey e Qu Honnge.


 2 - Shanghai

 2.1 – Pelestra a professores do CELAP, China Executive Leadership Academy- Pudong e almoço de trabalho com o Dr Feng Jun e sua equipe. Trata-se do mais importante centro de formação de lideranças na China. Esse ano 15 mil quadros da gestão local, provincial e nacional, do serviço diplomático e das Forças Armadas.   Feng Jun é um alto dirigente da hierarquia chinesa e diretores de programas internacionais e curriculares em temas ambientais, estratégicos e de política internacional. Fui o primeiro representante brasileiro a ser recebido nesse nível na CELAP com palestra para um grupo de professores sobre a perspectivas de colaboração Brasil/China na questão climática. 

2.2 – Palestra no  SIIS - Shanghai Institute for International Studies. É um dos mais importantes think tanks chineses sobre questões internacionais, fui recebido pelo Vice-presidente executivo o PHD Chen Dogxiao e um seleto grupo de professores e pesquisadores aos quais fiz uma apresentação sobre o tema das Mudanças Climáticas na perspectiva da próxima conferência dos Clima, em Doha, a COP 18. 

2.3 – Visita à fábrica Trina Solar de painéis fotovoltaicos (a terceira maior da China) em Changzou cidade a três horas de Shanghai. Fui recebido pelo seu CEO Jifan Gao e a direção da empresa. Conversamos sobre perspectivas de investimento no Brasil e apoio da Trina ao Rio/Clima.

2.4 - Visita à fábrica da Canadian Solar. A fábrica é em Jaingsu, há uma hora e meia de Shanghai. Encontrei com o CEO Shawn Qu (pronuncia-se Chu). Das empresas solares é a mais ágil internacionalmente a e aquela que parece mais susceptível de investir no Brasil a curto prazo.


 Está sendo uma agenda bastante carregada e consistente. Minha visita é considerada pela nossa embaixada em Pequim e consulado em Shanghai como uma das missões mais importantes e influentes já realizadas por um parlamentar brasileiro na China.



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