Fui à China como membro da Comissão de Relações Exteriores e da Comissão de Mudanças Climáticas para prospectar nossa colaboração no âmbito ambiental, de clima e, particularmente, em energias limpas como o solar cujo custo a China conseguiu reduzir dramaticamente a ponto de ser hoje competitivo, no Brasil, em particularmente no nordeste.
A viagem coincidiu com um momento interessantíssimo: o décimo-oitavo congresso com o processo sucessório e o de inevitáveis reformas. Conversei intensamente com quadros influentes das universidades, dos "think tanks", ambientalistas e líderes de empresas estatais e privadas. Minhas primeiras conclusões:
1 - Há de fato um impulso para mudanças na economia, meio ambiente e clima relacionados com economia e na política que serão incrementais e não espetaculares.
2 - No plano econômico podemos esperar uma estabilização do crescimento em uma média de 7% . Não haverá mais volta aos dois dígitos. Haverá cada vez mais uma busca por mais mercado interno e nesse sentido é crucial ampliar a seguridade social para liberar para gasto em consumo da hoje enorme poupança das famílias chinesas que temem fazer frente a gastos inesperados de saúde num sistema hoje ainda cruel e "darwiniano". Já há avanços nesse sentido.
3 - Eles deverão fazer frente a um déficit de mão de obra por causa do rápido envelhecimento exacerbado pela política do filho único. Hoje já temos temos "os chineses dos chineses": Vietnam, Bengla Desh, Miamar, etc… e algumas indústrias (texteis, sobretudo) já migram para esses países de mão de obra hiper barata suas atividades de mão de obra intensiva: corte e costura. Fica, para irritação dos chineses, a parte mais poluente: confecção básica e tingimento dos tecidos.
4 - A relação com o Brasil terá que amadurecer. Eles entendem bem que nós não podemos continuar simplesmente exportando comodities sem valor agregado e importando bugigangas de todo tipo. Entendem que é preciso investir no Brasil e que o Brasil deve poder exportar valor agregado. A Embraer é pioneira nisso mas precisa poder ampliar seu escopo.
5 - Há um potencial enorme na industria do audio-visual e cultural brasileira que precisa, no entanto, vencer as "cotas" que eles cultivam e a sua censura de costumes arcaica. Eles percebem que é preciso uma nova fase na relação econômica e estão se preparando. Nós estamos? Não sei...
6- Na questão ambiental, é aquele paradoxo: problemas gigantescos e dantescos e um enorme esforço em curso para enfrenta-los. A China prepara-se, por exemplo, para enfrentar o desafio de cortar suas emissões no agregado (as absolutas, não mais apenas a intensidade de carbono por ponto percentual do PIB) e está começando a estudar como mexer nos próprios indicadores, a começar pelo próprio PIB. Já estão experimentando em grande escala o "cap and trade" no âmbito regional com um mercado local de certificados de redução de emissões que empresas que superaram suas metas podem vender a outras que têm mais dificuldade. Isso era previsto no paradigma de Kioto no âmbito internacional e a China está fazendo internamente.
7 - Politica: não se espere uma "primavera chinesa" com o que chamam meio pejorativamente de "democracia ocidental", pluripartidária. Olham para a India e torcem o nariz. Deveriam olhar mais para a Coreia do Sul e Taiwan, onde a democracia parlamentar claramente deu certo. Mas a "primavera árabe" acendeu as luzes de alarme suplementares e eles a utilizam para aquele discurso: "viu, o que que dá tudo isso?"
Mas estão discutindo seriamente e devem implementar processos de eleição local e vejo muito interesse em amplos fluxos "consultivos" via internet.
8 - O nó gordio dessas reformas é a discussão de independência do judiciário. Vai ser a grande prova se Xi Jinping representará de fato uma mudança profunda. Aquela possível.
Mas, como escrevi no blog anterior, é possível o igualdade diante da Lei e a independência dos juízes se os membros do partido mantiverem um tratamento especial, acima da lei e expostos em primeira instância à disciplina interna do partido e, só depois, como no caso de Bo Xilai, uma vez expurgado, à justiça?
9 - Solar. Não há como competir com eles em preço das células fotovoltaicas --tiraram do negocio os americanos- por isso não faz sentido tentarmos reinventar a pólvora. Precisamos nos associar a eles, beneficiando-nos dos bons preços e induzindo-os a investir no Brasil em montadoras para a fabricação em massa dos painéis e outros equipamentos solares usando as fotovoltaicas importadas como um insumo.
Verifiquei interesse nessa fórmula, que gera empregos no Brasil. Andei visitando algumas grandes fabricas solares: Trina, Hanergy, Canadian Solar. Ano passado já havia visitado a Yngli. Voltarei ao assunto.
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Visita à State Grid |
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Explicação sobre a rede de abastecimento de carros elétricos em Pequim da State Grid |
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Maquete da central experimental de abastecimento |
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Sala de monitoramento da central e dos 55 postos em Pequim |
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Bateria sendo trocada pelo robô |
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Painéis solares no telhado abastem a central |
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Minha recepção 5 estrelas na Trina Solar |
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O painel internacionalmente premiado da Trina: 20% de rendimento |
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O CEO da Canadian Solar |
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Encontro no Ministério do Meio Ambiente em Pequim |
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