Não é o caso de se estigmatizar o candidato
Marcelo Freixo e seu partido, o PSOL, por abrigar um candidato a vereador
supostamente ligado a uma dessas máfias de “proteção” de comunidades carentes
que aqui convencionou-se chamar-se de “milícias”. No nosso atual sistema
eleitoral os partidos tentam apresentar o maior número possível de candidatos,
dentro do limite de uma vez e meia o número de cadeiras em disputa, para efeitos do chamado “cociente eleitoral”.
Filtrar todos, sobretudo depois que já passaram o teste das certidões negativas
exigidas pelo TRE, é difícil. Quanto se
tenta ampliar a “nominata” a candidatos de favelas, loteamentos ou bairros
pobres corre-se esse risco em relação às chamadas milícias e, igualmente, ao
tráfico.
O problema com Freixo não é o fato de terem
descoberto um suposto miliciano –aparentemente arraia miúda-- dentre os candidatos a vereador do PSOL mas o
enorme embaraço político que isso lhe causa em função de seu próprio discurso e
atitude em relação aos adversários. O “x” do problema de Freixo com essa questão das ditas milícias e o ponto onde o episódio Berg Nordestino torna-se francamente constrangedor é o fato do tema ser não apenas um mote para a promoção “positiva” do candidato mas também para sua mensagem “negativa” contra adversários. Quando, do alto de sua “autoridade” no assunto passa a acusar os outros, de maneira recorrente, de “ligações com as milícias”.
Freixo desenvolveu um bom e corajoso trabalho como presidente da CPI que investigou o tema. Não foi um exercício solitário como a sua “capitalização” política posterior parece pretender. Os deputados Gilberto Palmares, do PT e Cidinha Campos, do PDT, relator e vice presidenta, também tiveram também um papel destacado embora, em temos midiáticos, Freixo tenha conseguido trazer para si a parte do leão do prestígio político. Passou a utiliza-lo como sua grande carta política e, em 2010, aumentou de forma significativa a votação para deputado estadual, num fenômeno eleitoral que lembra o da juíza Denise Frossard, nas eleições de 2002.
Já escrevi aqui que votaria nele se, à semelhança dos EUA, elegêssemos por voto direto nossos promotores de justiça. Daria um bom District Attorney ou State Attorney. No ordenamento institucional brasileiro são carreiras de estado, por concurso público, nossa Constituição entendeu não politiza-las embora alguns de seus quadros terminem seduzidos, a posteriori, pela política eleitoral. De qualquer forma, os atributos de um audacioso investigador do crime organizado não necessariamente o credenciariam a governar uma cidade altamente complexa de seis milhões de habitantes num momento crucial de sua história.
Freixo desenvolveu um bom e corajoso trabalho como presidente da CPI que investigou o tema. Não foi um exercício solitário como a sua “capitalização” política posterior parece pretender. Os deputados Gilberto Palmares, do PT e Cidinha Campos, do PDT, relator e vice presidenta, também tiveram também um papel destacado embora, em temos midiáticos, Freixo tenha conseguido trazer para si a parte do leão do prestígio político. Passou a utiliza-lo como sua grande carta política e, em 2010, aumentou de forma significativa a votação para deputado estadual, num fenômeno eleitoral que lembra o da juíza Denise Frossard, nas eleições de 2002.
Já escrevi aqui que votaria nele se, à semelhança dos EUA, elegêssemos por voto direto nossos promotores de justiça. Daria um bom District Attorney ou State Attorney. No ordenamento institucional brasileiro são carreiras de estado, por concurso público, nossa Constituição entendeu não politiza-las embora alguns de seus quadros terminem seduzidos, a posteriori, pela política eleitoral. De qualquer forma, os atributos de um audacioso investigador do crime organizado não necessariamente o credenciariam a governar uma cidade altamente complexa de seis milhões de habitantes num momento crucial de sua história.
Qualquer um sabe que ao se tratar com associações de moradores de favelas o risco de se acabar fotografado com alguma liderança comunitária ligada ao tráfico é considerável. O mesmo ocorre nas áreas de milícia. Há lideranças que são representativas, as vezes até eleitas, dessas comunidades e que estão envolvidas nesse tipo de atividade mafiosa. Uma autoridade municipal não tem como não recebê-las, eventualmente. Enquanto as autoridades de segurança pública, o MP e a justiça não tomam as providencias que lhes cabem, o executivo municipal, preocupado com os problemas do dia a dia da população, não terá nem os instrumentos nem competência para fazer isso no seu lugar.
Distinto é conceder espaços
dentro da máquina da prefeitura a tais personagens ou deixar de reprimi-los
naquelas áreas que cabem à prefeitura: agressões ambientais e transgressões urbanísticas,
por conta de uma relação eleitoreira promíscua com esse segmento. Já vi isso acontecer. Existem
claramente relações promíscuas: dirigentes políticos que conscientemente
permitiram a filiação de milicianos ou lideranças comunitárias telecomandadas
pelo tráfico nos seus partidos, como existem também dezenas de situações muito
mais complicadas, eventualmente por inadvertência, como possivelmente agora
essa de Berg Nordestino no PSOL. É um terreno movediço, onde abundam os tons de cinzento para além do preto e branco.
O problema não é aparecer na foto com um suposto miliciano da nominata do seu partido mas isso acontecer num contexto político constrangedor, num momento em que se está utilizando o tema eleitoralmente contra outrem. Se alguém se promove como um implacável herói anti-milícia e acusa outros candidatos de seus cúmplices até prova em contrário, é claro que um episódio do tipo Berg Nordestino transforma-se num suculento “prato” de campanha. Sobretudo quando o constrangimento leva ao atropelo e à dissimulação.
O problema não é aparecer na foto com um suposto miliciano da nominata do seu partido mas isso acontecer num contexto político constrangedor, num momento em que se está utilizando o tema eleitoralmente contra outrem. Se alguém se promove como um implacável herói anti-milícia e acusa outros candidatos de seus cúmplices até prova em contrário, é claro que um episódio do tipo Berg Nordestino transforma-se num suculento “prato” de campanha. Sobretudo quando o constrangimento leva ao atropelo e à dissimulação.
O candidato sustenta que partiu dele a
iniciativa de “investigar” o “infiltrado”. Por outro lado aparentemente ele não
sabia de nada e a informação surgiu a partir de uma nota do Lauro Jardim em sua
coluna eletrônica na Veja. Pode ser que, de fato, o PSOL tenha recebido alguma
denúncia anterior a isso, pedido informações à secretaria de segurança e esta
“vazado” a informação para a Veja. Pode ser. Mas pode ser também que,
surpreendido pela nota e consciente do seu poder eleitoralmente deletério, tenham armado essa versão e procedido a uma
expulsão sumária e sem direito de defesa. Afinal, o tal do Berg Nordestino é, de fato, um miliciano barra pesada, um matador, ou é um pé de chinelo com algum grau de
promiscuidade inevitável para quem quer ter voo eleitoral nesse tipo de
comunidade?
Até agora a grande imprensa --leia-se o jornal
O Globo-- vem tratando o Freixo com
enorme benevolência. A primeira matéria que saiu sobre o assunto já noticiava a
“expulsão” antes de revelar o fato. Se eu fosse assessor de imprensa dele com a
tarefa de promover o “spin” para sair da enrascada na gestão do prejuízo
político, teria escrito exatamente algo na linha daquela matéria, trazendo para primeiro plano a reação
virtuosa do “já expulsou”. No entanto, por mais
simpatia que um candidato posso ter numa redação há sempre uma dinâmica irresistível de correr
atrás desse tipo de pauta. Ela vira
novelesca. Se a história é “mal contada”, então, a “suíte” torna-se inevitável e o embaraço
pode perdurar.
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