A estratégia de Guedes da política clássica de austeridade para devolver confiança e atrair capitais nacionais e, sobretudo, internacionais já vinha mal das pernas. Foi para o espaço sideral com a pandemia. O paradigma de rigoroso controle do déficit simplesmente virou suco. Países centrais estão apostando em endividamento de 300% do PIB e volta do tipo de tratamento do déficit dos tempos do New Deal, da II Guerra e do pós-guerra, de onde vem a lembrança do Plano Marshall.
Homens do capital financeiro como Guedes estão atônitos com essa situação não têm a menor ideia de como continuar brandindo sua ferramenta favorita, a tesoura. Não percebem o quanto a pandemia explodiu todo o paradigma do capitalismo “financiarizado”: globalização extrema, o movimentação vertiginosa dos capitais especulativos, sua relativa desvinculação de investimentos produtivos e sua capacidade de colocar de joelhos os governos nacionais.
Há certamente um renascimento de Lord Keynes, da ação intervencionista do estado --de diversas maneiras, nem todas amigáveis à finança-- e isso ocorre em países governados tanto pela esquerda como pela direita (atualmente a maioria).
Isso não dá razão, automaticamente, aos militares do Pro-Brasil. Sim, o Brasil vai necessitar desesperadamente do seu Estado, inclusive como agente econômico mas não da velha e surrada estratégia nacional-desenvolvimentista de Geisel à Dilma. Do Estado num novo paradigma que consiga enxergar onde está de fato o potencial do país e qual o tipo de investimento público e de infraestrutura que vai de fato funcionar, pois sabemos de sobra, também de Geisel a Dilma, que ele facilmente pode ser desastroso.
Há um ingrediente patético nessa fé do Brasil que seu futuro está no petróleo e na carne. O petróleo, independentemente da queda atual, não emplaca mais 20 anos com a decisão da indústria automotiva global de se eletrificar. Já a carne, sinto comunicar aos ruralistas, mais rápido do que se imagina prescindirá da boiada e do pasto. Está sendo fabricada sinteticamente com o mesmo gosto e barateando exponencialmente. Isso vai conquistar o mundo, inclusive a China. Aguardem.
Nosso potencial está na biotecnologia, na produção de energia por biomassa, em reflorestamentos naturais e econômicos, absorventes de carbono, numa escala inédita no mundo; na agricultura de baixo carbono e alimentos de qualidade, biológicos, para um mercado cada dia mais exigente; na agregação de valor aos nosso produtos naturais; nas energias limpas eólica e sola, com armazenamento, intensivas geradoras de empregos. O Estado não vai financiar isso tudo mas tem no BNDES um instrumento de alavancagem, via garantias para atrair capitais que estão disponíveis pelo mundo afora em busca de projetos sustentáveis, bem feitos e socialmente vantajosos.
O Brasil tem que fazer valer a decisão, já prevista no Acordo de Paris, do valor econômico do menos-carbono. Num mundo onde acaba de ocorrer uma perda imensa de riqueza, uma nova fonte de riqueza se levanta! Uma vinculada à sobrevivência da humanidade frente às mudanças climáticas.
Reduzir e sequestrar carbono da atmosfera é o “novo ouro” que precisamos apreender a garimpar. Era exatamente o que fazia, com outra terminologia, o virtualmente finado Fundo Amazônia, faturando a redução anual do desmatamento facilmente conversível em menos-carbono. É possível fazer isso em escala macro e o investimento público, inteligente, ser catalizador do capital privado, nacional e internacional. Para isso, porém, é preciso ter um presidente com credibilidade capaz de unir o Brasil. Certamente não esse aí...
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