25/04/2020

Pandemia e Pandemônio

 
O virus do Planalto tem remédio
Não sei quando o capitão aloprado é mais patético, quando agride, insulta, ameaça ou quando tem pena de si mesmo e faz um discurso de autocomiseração  em resposta às declarações contundentes do ex-ministro Moro. 

Consigo imaginar a vergonha de parte daqueles ministros agrupados diante daquele chorilho de baboseiras constrangedoras. Só o Guedes (a bola da vez?) usava máscara. Aliás, não vi o favorito Ricardo Salles, o coveiro do meio ambiente. Tava escondidinho? 

 Não, não quero interferir na Polícia Federal mas como eles não interrogaram ainda aquele porteiro? Porque dão atenção mais ao assassinato de Marielle --que a PF não investigou ainda--   do que à conspiração para me matar com a facada do Adélio?  Mas foi esse crime o que  a PF  investigou, mais exaustivamente,  e  concluiu tratar-se de um psicopata solitário.  Que, aliás, ajudou Bolsonaro a se eleger mais que ninguém

 O "mito" confessou que, afinal,  obteve, sim,   um “favor” da PF:  saber do matador de Marielle Franco,  Ronaldo Lessa que, afinal,  sua filha não havia namorado o 04, filho caçula, do presidente. É que o jovem não era capaz de se lembrar porque havia ficado com --havia orgulho na confidência presidencial--  metade das gatas do condomínio,  onde os Bolsonaros são vizinhos do homem que disparou os tiros que mataram Marielle Franco.  

Acaso essa seria uma tarefa da Policia Federal? Perguntar a um preso de segurança máxima se sua filha namorava ou não com o quarto rebento presidencial? Se Bolsonaro já conseguia esse tipo de desvio de função (é obviamente tarefa de advogado) ainda com o Valeixo, que dizer agora, com seu pretendido  controle total? Um diretor geral da PF que fique trocando figurinhas com ele.

 O ministro Alexandre de Morais já blindou, preventivamente, a equipe que mais preocupa Bolsonaro. É óbvio que o capitão aloprado quer abafar as investigações sobre os trolls do Escritório do Ódio do filho 02, no Palácio do Planalto: quem os financia e organiza os atos pro fechamento do Congresso, do STF e propugna novo AI5.  

 Também teme as ramificações dos esquemas dos gabinetes bolsonarianos --rachadinha é o de menos--  com as milícias, inclusive aquela  dos dois executantes do assassinato de Marielle Franco, o Escritório do Crime, de Rio das Pedras, chefiado até recentemente pelo capitão Adriano, do BOPE, morto pela polícia baiana, cuja mãe e mulher foraram lotadas no gabinete do 01, tendo ele próprio  sido condecorado pelo dito cujo com a medalha Tiradentes.  

 Bolsonaro faz juras de austeridade pessoal. Não gasta nadinha do cartão corporativo de 23 mil reais a que tem direto e manda até desligar o aquecimento da piscina do Palácio da Alvorada pra economizar. Isso sim que é ser  honesto!  

 Colocou Moro no governo para capitalizar o lavajatismo e Moro prestou-se a esse imperdoável e triste papel. Agora sai atirando. O ex-prefeito Marcello Alencar, meu saudoso amigo, certa feita referiu-se a um político mordido pela mosca azul: “tem a voracidade do lobo mau e a ingenuidade da chapeuzinho”. Lembra o Moro.  

Como magistrado, comprovadamente,  não foi imparcial e atuou politicamente a favor de Bolsonaro. Caiu no seu canto de sereia, não foi capaz de perceber com quem havia se metido, embora fosse, como diria Nelson Rodrigues, o óbvio ululante. Prognosticam-lhe brilhante futuro político agora que chutou o pau da barraca. Sei não...

 À diferença de outros presidentes que admira: Trump, Orban, Putin, Erdogan, Duterte,  megalômanos funcionais,  Bolsonaro é louco de pedra. Faltam lhe um ou mais parafusos. Aqueles, consituíram maiorias parlamentares e, salvo Trump, têm maioria eleitoral no voto popular.

 Foram habilidosamente controlando as instituições. Trump  corre mais risco mas os outros perigam ficar um bom tempo justamente porque possuem maiorias eleitorais ainda que em eleições condicionadas ou mutretadas e controlam o congresso e o judiciário.

 O governante de perfil psicológico mais parecido com Bolsonaro é Nicolas Maduro o ditador da Venezuela. Ele não possui mais a maioria eleitoral de Hugo Chaves mas reina graças a uma ditadura militar-policial-parapolicial exatamente do tipo que os manifestantes (patéticos gatos pingados) pediam na porta do Forte Apache ao seu caudillo, esse  surrealisticamente de camisa vermelha. O "mito" teve seu momento bolivariano...

Pessoalmente acho mais grave a demissão de Mandetta do que a de Moro. O capitão aloprado surtou contra o ministro Mandetta por ciumeira pura.  Esse vinha fazendo um trabalho, senão brilhante,  pelo menos sensato, ancorado na ciência contra a terrível pandemia que assola o Brasil.  Ao defenestra-lo o "mito" nomeou um débil puxa-saco, um  “sem noção”  desorganizando de vez  nossa caótica resposta ao COVID 19, justamente no momento em que o virus toma embalo e dispara.  

Nosso sistema de saúde pública está claramente entrando em colapso  e isso só tem como piorar com o aumento exponencial de novos casos que Bolsonaro estimula ao promover suas performances contra o isolamento social, o afastamento, as máscaras. Vamos ter muito mais mortos que os 50 mil dos EUA. Perigam serem centenas de milhares. Um genocídio.

Afastar Bolsonaro da presidência o mais cedo possível tornou-se uma questão de segurança nacional e salubridade pública. Há um vírus perigoso no Planalto mas ao contrário do COVID 19 esse já tem remédio. Seus numerosos crimes de responsabilidade serão identificados pelo STF e remetidos ao Congresso. Concordo com o presidente Fernando Henrique Cardoso: o melhor seria que "o mito" renunciasse  para o vice Mourão. É tirar o bode da sala? Vale,  porque o bode é francamente insuportável. Tudo bem que o Mourão seja general e de direita. Parece um homem sensato e mentalmente são. Tem legitimidade.  É o melhor que esse pobre país pode desejar nesse momento atroz.

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