Com Macron ao fundo... |
O One Planet , idealizado pelo presidente Emanuel Macron, realizou seu segundo encontro anual em Nova York à margem da reunião da Assembleia Geral da ONU. Ao promovê-lo Macron optou por reduzir o impacto de mídia do evento que ficou sendo mais um da Semana do Clima repleta de reuniões, debates e performances as mais variadas. O One Planet chamou bem menos atenção que o primeiro, em Paris, ano passado. Ainda assim, suscitou um debate significativo entre personagens muito influentes, num formato bem diferente mas complementar ao das conferências de clima da ONU, da UNFCCC. O One Planet traz uma mistureba de “grandes decisores” dos governos, corporações privadas, personalidades de grande influência e cientistas.
Lá estavam Jacinda Arden, a carismática primeira-ministra
da Nova Zelandia –que compareceu à Assembleia Geral da ONU com seu bebê de três
meses— a da Noruega, Erna Solberg, o da Espanha, Pedro Sanchez, o presidente da
Finlândia, Dauli Niinisto, o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, a
diretora geral do FMI, Christine Lagarde e o presidente do Banco Central do
Reino Unido, Mark Carney. Lá estavam também
a presidente das Ilhas Marshal, Hilda Heine e o presidente do Togo Fauré Ganassingbé,
os governos locais representados pela prefeita de Surabaya, Indonésia, Tri Rishmaharini. A União Europeia e a ONU lá estavam representada por seus vices,
Maros Sevcovic e Amina Mohammed.
A China mandou o vice ministro de relações exteriores,
o muito articulado Zhang Jun. Nem India nem nenhum país da América Latina tinham representações
governamentais de peso. Tivemos um palestrante brasileiro: Leontino Balbo, do
agrobusiness “sustentável”. O único outro brasileiro convidado era eu.
As participações mais significativas foram de algumas figuras da iniciativa privada global em posições de poder capazes de alavancar transformações independentemente dos acordos diplomáticos atinentes ao Clima. Alguns, como Michael Bloomberg, Bill Gates e Arianna Huffington já eram arroz de festa, vocalizadores e mecenas climáticos das altas esferas mas sem maiores novidades.
As participações mais significativas foram de algumas figuras da iniciativa privada global em posições de poder capazes de alavancar transformações independentemente dos acordos diplomáticos atinentes ao Clima. Alguns, como Michael Bloomberg, Bill Gates e Arianna Huffington já eram arroz de festa, vocalizadores e mecenas climáticos das altas esferas mas sem maiores novidades.
Outros, no entanto, surpreenderam: Larry Fink,
por exemplo. É o CEO da Blackrock, a maior gestora de fundos do planeta, que
movimento dezenas e dezenas de trilhões
de dólares em investimentos financeiros de fundos de pensão e bancos. Seu
discurso continha um pedido às instituições do tipo FMI, Banco Mundial e
governos que lhe fornecessem algoritmos capazes de incorporar a noção de risco
climático aos investimentos, certamente uma
notícia não muito alvissareira para a turma dos combustíveis fósseis que também
ali estava representada pela sua ala mais “moderna” na figura do diretor de
gestão do fundo de investimento público da Arábia Saudita, Yasir Othman Al-Rumayyan.
Yasir provocou um silêncio glacial e caretas
da mediadora de seu painel, a Christine Lagarde, quando tentou, malabaristicamente,
conciliar um “novo ciclo de petróleo”
com uma “notável expansão das “energias eólica, solar e capacidade de baterias”.
De qualquer modo, a presença da Arábia
Saudita na discussão foi positiva do
ponto de vista evolutivo, sua atitude vem mudando gradualmente depois daquele surto de negacionismo climático na Conferência de Copenhagen, em 2009. Como observou
um participante: “melhor tê-los na tenda, mijando para fora, que fora da tenda
mijando para dentro”.
Decididamente nesse primeiro exercício estava o
Executivo Chefe da Unilever, Paul Polman, que fez uma intervenção emotiva sobre a
necessidade das empresas, todas, inventariarem e divulgarem suas emissões. Na
mesma linha, Ruth Porat, vice-presidente e diretora financeira da
Google/Alphabet apresentou ferramentas
de inteligência artificial a serviço de centros urbanos e indústrias para
orientar e monitorar sua descarbonizacão e suas estratégias de adaptação às mudanças
climáticas.
O Banco Mundial anunciou um aumento do
financiamento para pesquisa e fomento do armazenamento de energia. A NantEnergy, do bilionário californiano Patrick Soon-Shiong,
anunciou um novo tipo de bateria,
operando a zinco e ar com custos muito menores do que o lítio, atualmente
utilizado. O equipamento está sendo testado em aldeias isoladas da África,
combinado cm energia solar e eólica. Seguindo o notável sucesso do solar fotovoltaico
chegou a hora de baixar drasticamente o custo das baterias.
No entanto, o recado dos cientistas foi um
banho de água fria, ou, se preferirmos, um eletrochoque. Ficou por conta do
professor Johan Rockstrom, do Podstam Institute for Climate Impact
Research. Focou nos feedbacks, ou seja nas consequências em circulo
vicioso das mudanças climáticas. Os temidos mecanismos realimentadores, exponenciais do aquecimento global. Traçou um
quadro francamente apavorante da queda da capacidade de absorção de carbono por
parte de oceanos e florestas, os grandes “sumidouros” naturais de carbono, e identificou em 2 graus o limite para evitar
que esse processo venha a se tornar irreversível. “Estamos perdendo a corrida”,
frisou com seu forte sotaque alemão que dá mais dramaticidade ao mau agouro.
Emanuel Macron fez sua “amarração” final com
um discurso num tom diferente do que ouvimos em geral dos chefes de estado
nessa era pós-Obama. Sem muito margem a cautelas ele seguiu na linha alarmante
de Rockstrom, fez uma defesa emotiva do Acordo de Paris embora reconhecendo que
estava muito aquém do necessário, criticou o chamado “green wash” a gesticulação
verde “pra inglês ver” e anunciou que o One
Planet iria focar no tripé: Clima, Oceanos e Biodiversidade.
Dentre os líderes mundiais atuais , Macron é o
que mais expressa um sentido de urgência e de alerta. Vem sendo muito criticado
pela direita, esquerda e grande parte dos ambientalistas franceses. A renuncia de
seu ministro do meio-ambiente, Nicolas
Hulot, foi motivo de desgaste. O
pretexto imediato foi a prorrogação de prazos para licenças de caça e a
presença de lobistas dos caçadores nas reuniões do palácio presidencial. Hulot
demitiu-se de improviso num programa de
rádio...
A esquerda e a mídia francesas estão possuídas
da mesma síndrome que levaram a turma “bem
pensante” nos EUA a atacar com tanta ferocidade
a Hillary Clinton. Deu no que deu.
Macron é hoje uma peça fundamental na resistência ao avanço do
fascismo/populismo, na Europa, junto com a enfraquecida Angela Merkel. Quem os
critica tanto deveria considerar as alternativas...
Hulot é um poço de vaidade e não suportava
artigos de ambientalistas, no Le Monde, criticando-o por estar com Macron. Havia também
esse questionamento recorrente do governo francês ter desistido de reduzir para 50% a geração
nucelar, até 2025. Mas o ritmo de redução
da dependência da França em relação ao nuclear não podia ter virado o cavalo de
batalha mor dos ecologistas franceses. Na Alemanha, um início de saída
precipitado ocasionou uma maior queima do carvão, aumento das emissões e levou
ao provável descumprimento das metas para 2020. E´ melhor prorrogar o uso das usinas já existentes –desde que seguras, é
claro-- do que aumentar a queima de carvão
ou gás até que a combinação entre geração limpa e armazenamento possa estar de
pé. A saída precipitada do nuclear em prole de um maior uso de fósseis é uma
insensatez do “politicamente correto”
pela qual o planeta paga caro.
O ótimo é inimigo do bom e, nos
tempos que correm, o razoável já fica de bom tamanho.
Rockstrom: o risco dos feedbacks |
Ruth Porat, a dama da Google: inteligencia artificiel pelo Clima |
Pedro Sanches, primeiro ministro da Espanha |
Lary Fink(na tela) no painel presidido pro Lagarde, de perfil Yassir Al Rumayyan |
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