04/12/2015

La nave vá?


A COP 21 começou com duas diferenças básicas em relação às anteriores: o trabalho prévio relacionado às metas de redução de emissões pelos diversos países, expressos pelos INDC apresentados por quase todos eles e o fato dos chefes de estado comparecerem no início e não ao final da Conferência. A primeira circunstância subtrai grande dose de dramaticidade e potencial frustração. Já chegamos avisados. Já sabemos que o somatório dos INDC fica longe do paradigma de 2 graus, aponta para 3, ao final do século (sem falar de eventuais efeito exponenciais), ou seja,  é francamente insuficiente e sabemos disso ao iniciar-se a Conferência. Não haverá desencanto do tipo Copenhagen se isso acaso pode nos servir de consolo...

Vejo avanços promissores no tema dos ciclos quinquenais de revisão de metas para mais ambição –nisso a posição brasileira é boa—e no estabelecimento do objetivo de longo prazo da drástica des-carbonização um tema até pouco francamente tabu.

 Os chefes de estado promoveram seu circo logo no começo, alguns discursos foram algo positivos como os de Obama, François Hollande e Xi Jinping mas nada de realmente novo. O de Dilma foi razoável e na conferência de imprensa, na fala  inicial,  foi digna de nota sua referencia à energia solar no Brasil. Fez com uma ênfase incomum de sua parte. Na continuidade, porém,  na parte de perguntas e respostas,  os jornalistas brasileiros esqueceram completamente o clima e  só perguntaram sobre a crise política:  Severó  --“ele não gosta de mim” explicou Dilma--  Delcídio, Cunha et catevra. Os jornalistas estrangeiros(poucos) também não quiseram saber de clima, seu tema foi o acidente ecológico em Minas Gerais. Resumo da ópera: o clima foi para o espaço...

 Outros chefes de estado como Erdogan quem cruzei a poucos passos e o Putin, seu atual arqui-inimigo, falaram do clima en passant, sua ênfase era mais geopolítica. Qual será a influência dos chefes de estado? O impulso dos líderes políticos terá alguma influência maior sobre a casta dos negociadores, este estamento internacional a parte que dentro de suas especialidades específicas e jargões que só eles entendem, dominam o processo negociador de fato, COP trás COP? Sinceramente, penso que provavelmente não tão grande assim.

 Bom exemplo disso é o que está acontecendo no Work Steam 2 onde está a nossa famosa frase sobre o reconhecimento do “valor social e econômico” das ações de mitigação, o primeiro e indispensável passo para a chamada precificação positiva redução de carbono. A frase sofreu “ataque” da UE e dos EUA. UE propôs substituir expressão recognizes (reconhece) por acknowledges (toma nota) e os americanos propuseram substituir social and economic value of voluntary mitigation actions por enduring value of early mitigation action, que até seria aceitável como acréscimo mas nunca como substituição pois mata a proposta! A informação é que no caso da UE seria uma represália ao Brasil ter discordado da validação de certos tipos de créditos de carbono. No caso dos EUA,  é menos compressível na medida em que a frase proposta é praticamente idêntica a que consta da declaração presidencial conjunta Brasil - EUA, de junho, ou seja, ela tem a chancela do presidente Barack Obama...

 Isso foi ontem. Hoje depois de uma série de articulações a frase voltou na sua integralidade e um acréscimo sem maior problema, no momento está assim: “recognizes the social, economic and environmental value of voluntary mitigation actions”.   Meno male, mas ainda não está consolidado. Vamos ver...

Por outro lado o conceito tem que ser levado agora  para o capítulo de finanças como um guiding principle, um princípio diretor. Finanças é a parte mais controversa da COP com a recorrente disputa entre o G77 + China e dos países desenvolvidos sobre os US$ 100 bilhões devidos ao Fundo Verde do Clima, até 2020, dos quais só apareceram 10 bi.  Evidentemente, penso que os desenvolvidos têm que “comparecer” pois foi um compromisso assumido previamente. Mas nada disso resolve o problema pois é preciso uns 3 trilhões, por ano, e a grande pergunta é como trazê-los do mundo financeiro. Nosso caminho é a precificação positiva, junto com o fim dos subsídios aos combustíveis fósseis,  a taxação do carbono (que terá que ser resolvida país a país) e os chamados “mercados de carbono” que são instrumentos limitados na medida em que agem debaixo dos limites chamado do cap-and-trade ou seja para dar mais eficiência no cumprimento das atuais metas e não para ir além delas, e isso, diga-se de passagem, quando são negociados de forma honesta o que nem sempre foi o caso.

 Uma forma de resolver o impasse seria aceitar que uma parte dos 100 bi fosse em garantias governamentais que poderiam atrair recursos muito maiores da esfera financeira e viabilizar os “certificados de redução de emissões’ que estamos propondo na precificação positiva do carbono.


 De alguma forma la nave vá.

Um comentário:

  1. Sugiro a criação de Leis que obriguem os países poluidores a diminuirem a quantidade de uso de carbono sob pena de serem acusados de estarem cometendo crimes contra a
    humanidade

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