25/07/2015

No caminho para Paris 2 - Precificar a redução de carbono


Precificar a redução de carbono

No final deste ano na COP 21,  em Paris, o sistema ONU tentará um novo acordo para o Clima. Possivelmente consagrará certos avanços incrementais mas  dificilmente garantirá uma redução de emissões de gases-estufa suficiente para manter a sua concentração na atmosfera abaixo das 450 ppm e a temperatura média do planeta, até o final do século, abaixo dos 2 graus.  A questão sempre subjacente mas nunca de fato enfrentada nas COP é a do efetivo financiamento da transição para economias de baixo carbono. As cifras (e cobranças)  evocadas nessas conferências do Clima beiram o ridículo: giram em torno do Fundo Verde do Clima envolvendo alguns milhões aqui, algumas centenas lá, uma meta sempre distante de chegar a 100 bi, anuais, em 2020 e nos anos subsequentes,  na qual ninguém de fato acredita. É um jogo político de empurra-empurra entre negociadores profissionais, uma conversa pra boi dormir. Compare-se isso  à estimativa realista dos investimentos necessários para essa transição: globalmente falando um trilhão de dólares-ano, isso apenas no setor de energia!

  Essa cifra de um trilhão por ano nada tem de absurda. Observe-se, de passagem,  que, segundo o FMI,  só em subsídios a combustíveis  fósseis diretos o mundo gasta anualmente perto disso (junto como os indiretos chegaria a 3 tri !). No entanto os governos em geral com seus déficits, endividamento e reservas limitadas,  tem grandes dificuldades para dispor  desses recursos. Mobiliza-los dependerá de taxar as emissões de carbono --substituindo outros tributos--   e/ou de  “precificar positivamente” a redução do carbono, atribuindo-lhe valor social e valor financeiro conversível.

 A primeira solução, taxar diretamente o carbono,  é uma batalha a ser travada em cada país, internamente,  pois os sistemas tributários são nacionais. Não é fácil como atesta o recentemente ocorrido na Austrália e na França que instituíram  taxas-carbono e depois recuaram sob cerrado fogo político. Um caminho de menor resistência é reconhecer a redução de carbono como uma unidade de valor conversível. Uma espécie de ‘padrão ouro’ dos tempos da crise climática global. O Brasil deu passo nesse sentido ao submeter à ONU, em Lima,  proposta, concebida na sociedade civil e encaminhada ao governo pela nossa Comissão de Mista de Mudanças Climáticas,  a qual declara o “valor social e econômico  da redução de carbono”  e prevê que ela venha a se tornar uma “unidade de valor financeiro conversível”.

 Há uma base objetiva para tanto: hoje as perdas da economia global, em consequência das mudanças climáticas,  num horizonte temporal dado, são perfeitamente quantificáveis. Isso já foi feito no famoso Relatório Stern que as estimou em, no mínimo 5% do PIB mundial. A partir daí pode-se estabelecer o valor de cada tonelada de emissões de CO2 suprimida. Esse reconhecimento dá ensejo a vários mecanismos possíveis de “moeda do clima” que inclusive podem dar uma direção produtiva às práticas de quantative easing (oferta de liquides) que bancos centrais como o Fed norte-americano vem realizado e que outros como o europeu deveriam implementar urgentemente para fazer frente  à deflação recessiva que  assombra o continente.  


  Por outro lado, o  sistema financeiro internacional  armazena mais de duzentos trilhões de dólares. Existe no mundo um brutal excesso de liquidez que pouco irriga a economia produtiva global. Essa situação é propícia às “bolhas” e crises como a de 2008. O desafio é atrair uma parte que seja desse capitais para investimentos produtivos de baixo carbono capazes de garantir um novo ciclo de crescimento, inovador e gerador de empregos. Os efeitos serão benéficos não apenas ao Clima como à macroeconomia global na sua busca de um novo ciclo produtivo. O objetivo é estabelecer uma nova ordem financeira internacional para uma era de baixo carbono para a qual não há mais tempo a perder: uma Bretton Woods do baixo carbono.  

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