Operação de demolição de uma construção pirata do tráfico na Rocinha pela GOE, em 2005, na minha gestão na SMU |
Observo
a volta do tema do crescimento de favelas para além dos chamados ecolimites
gerando desmatamento e ocupação de risco. Outras matérias tratam do chamado
crescimento vertical, são temas recorrentes. Nas matérias menciona-se o Morro
do Banco, no Itanhangá, como exemplo do primeiro caso e a comunidade Tavares
Bastos no Catete como ilustração do segundo. Vou logo dizendo que considero o
primeiro tipo de crescimento altamente nocivo e perfeitamente evitável e o
segundo menos deletério e dificilmente evitável a não ser em casos de novas edificações, em tempo hábil.
Vamos lá: o Morro do Banco é um exemplo de
crescimento horizontal de cunho especulativo e criminoso. Aí não há famílias
buscando moradia ou ampliação da sua própria. Há, sim, construtores piratas ligados às
milícias da região que constroem para vender e fazer gana. São criminosos
ambientais perfeitamente conhecidos que contam com uma teia de proteções
políticas. É preciso ocupar a área com apoio do BOPE e demolir imediatamente
tudo que estiver em construção e, com ordem judicial, evacuar as edificações
ocupadas além dos ecolimites oferecendo alternativa de relocação ou aquisição de benfeitoria para não deixar ninguém ao relento. Uma operação exemplar de demolição dessas dá exemplo e cria uma equação
custo-beneficio que inibe a construção pirata por um bom tempo. Fiz isso diversas vezes entre 2001 e 2005, até ser travado por cima por ingerência político-eleitoreiras.
É preciso entender que os eco-limites são
apenas um marco simbólico, não constituem obstáculo físico. Eles funcionavam
como um componente num conjunto de ações
envolvendo os Postos de Orientação Urbanística e Social (POUSO) a Gerência de
Operações Especiais (GOE) da SMU e os Mutirões de Reflorestamento, da SMAC. Os POUSOS e a GOE foram criados na minha
gestão na SMU e durante um bom tempo seguramos a expansão horizontal de favelas
sobre os ecolimites criados, no mesmo período, tempo pela SMAC na gestão do hoje prefeito
Eduardo Paes. Depois que saí da SMU, no início de 2006, a GOE foi extinta e os
POUSOS esvaziados. Os mutirões de reflorestamento hoje se limitam à
manutenção em algumas comunidades e deixaram de ter o poder de influência dentro das comunidades que
tinham antes e que ajudavam a inibir a sua expansão horizontal. Nesse contexto os ecolimites de fato viram sua expressão física minimalista: um mero cabo de aço
ou marco de concreto de efeito simbólico, ignorado.
A repressão a esse tipo de crescimento tem sempre um custo político a ser pago e quando mais tempo passar sem uma ação maior será esse custo pois maior será maior o número de
beneficiários da construção pirata. A proposta do POUSO de criar parâmetros
específicos nas favelas para construção legal, respeitados os ecolimites, um gabarito
realista e os espaços públicos e atraindo o setor legal da construção civil para a favela, era
e é a solução.
Reduz ao máximo as invitáveis operações de demolição que tem que ser
realizadas no início da construção pirata pois tudo fica mais difícil quando há
gente morando. Ressalte-se aí o papel dúbio da imprensa. De um lado matérias
denunciando a expansão horizontal, no dia, seguinte outras matérias criticando ações
repressivas à mesma e dando destaque aos defensores dos “faveleiros”. Qual é?
Quanto ao crescimento vertical vamos ser
realistas. Tem que haver uma margem de crescimento vertical nas favelas pois existe um crescimento
natural das famílias nas comunidades e esse é o seu estilo de vida. As regras urbanísticas simplificadas do POUSOP devem prever isso. Pode e deve
ser reprimida a construção de prédios ilegais em favelas por parte desses
construtores piratas que o fazem como negócio.
Mas aí também a hora de agir é no nascedouro, depois fica tudo mais difícil.
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