O discurso de Obama aos jovens israelenses, em
Jerusalém, foi uma extraordinária peça de oratória e de competência política.
Começou pela recusa do que seria natural: um discurso perante o Knesset, o
parlamento israelense. Obama não quis passar pela mediação dos políticos
israelenses --uma coleção de medíocres, pigmeus morais, sem estatura histórica
alguma-- preferiu dirigir-se diretamente aos jovens israelenses, a
queima-roupa.
Foi uma opção arriscada.
As pesquisas hoje apontam para uma juventude mais à direita do que em qualquer
outro momento da história do estado judeu. Ao contrário do que a poderia imaginar, não
houve uma seleção política prévia da plateia e Jerusalém é uma das cidades mais
politicamente direitistas de Israel, pior, só uma plateia dos assentamentos na
Cisjordânia ocupada.
Obama preparou-se para aquela plateia como se
prepararia para uma em casa, com seus republicanos, seus céticos e seus
decepcionados. E falou de coração com eles. Falou de sua empatia por Israel,
como país, de sua amizade pelos judeus, em geral. Usou todas a palavras e
imagens capazes de quebrar gelo e chegar ao coração de cada um daqueles jovens,
mesmo os mais céticos e mais paranoicos.
Ao abordar a questão palestina, a questão da
paz, o górdio, foi implacável. Não implacável no sentido condenatório, raivoso, que muitos críticos de Israel adotam, até justificado, mas cuja eficácia para sensibilizar os israelenses, é quase nula. Produz fechamento,
isolamento, mexe com um sentido milenar de perseguição fatalista. Fecha
os seus olhos e tapa os seus ouvidos.
Obama foi tremendamente eficaz porque com
carinho e esperança alvejo-os no coração, no seu sentido de justiça: “ponham se nos sapatos dos palestinos”, “vejam
a situação com seus olhos”. Nunca um presidente norte-americano condenou com
tamanha contundência a ocupação, os assentamentos e as violências que
diariamente são submetidos aos palestinos de todas as idades. Mas o fez de maneira que aqueles jovens israelenses
não se sentissem rejeitados e condenados mas exortados a seguir para um futuro
melhor confortados por algo que é básico
no judaísmo: “justiça, justiça buscarás”, ordenou Deus ao povo judeu.
É cedo para avaliar se um discurso brilhante, de enorme inteligência emocional e estratégica
é capaz de produzir um efeito duradouro real ou se aquela emoção se esgota no
recinto em que aconteceu e na cobertura de mídia imediata que teve.
Posso estar
enganado mas tenho a impressão de ter visto algo de fato histórico, capaz de
ter consequências inesperadas, inimagináveis dias atrás. O problema de Israel
não são os políticos de direita que controlam sua vida política com cegueira,
obtusidade e truculência mas, obviamente, o fato dos israelenses votarem neles.
Praticamente ignora-los, benevolamente, com boas palavras e tapinhas nas costas
e concentrar-se na comunicação direta com a juventude de Israel com um discurso
sincero e autêntico de exortação à justiça e confiança na possibilidade da paz e
de uma futuro melhor foi um exercício de arte na política que raramente alguém
consegue. E quando consegue vale a pena registrar.
AMEI!!!!!!Gostaria de ler o discurso do Prsidente Obama !!!!!!Abraço Helenice Maria
ResponderExcluir