Caros amigos e amigas:
Não posso nessa
ocasião estar fisicamente presente junto com vocês mas certamente estou de
coração e politicamente. Podem contar comigo para a fundação do novo partido.
É o início de
uma nova caminhada num momento de grande descrença em relação à vida política
no Brasil. Há uma crise da democracia e das formas tradicionais de
representação em praticamente todo o mundo. A não-participação é a expressão mais
generalizada desse descontentamento.
A sensação de impotência é imensa. A esperança, no
entanto, renasce todos os dias das mais diversas formas pois a maioria das
pessoas --e em particular a juventude-- sempre aspira uma vida melhor, uma
sociedade mais justa e sustentável.
Sabemos ou
intuimos que a ação política é indispensável e pode ser transformadora ainda
que sempre sujeita a frustrações e retrocessos.
Acredito numa
dimensão nobre da ação política. Aquela de: “organizar as pessoas para melhorar
as coisas”.
Infelizmente a
política no nosso país, em geral, não é entendida dessa maneira. Fica mais no
plano do: “quero um espaço para poder me dar bem”. O “dar bem” entendido como acúmulo de poder relacionado
com acúmulo de riqueza patrimonial.
O nosso sistema
eleitoral do voto (distorcidamente) proporcional e personalizado com os
partidos reduzidas à mera condição de
“legendas”, permitindo aos
políticos somar aritmeticamente seus votos para obter cociente eleitoral (e
eleger um “baixo clero” com pouco voto) induz
um tipo de cultura política muito
peculiar.
Ela é corrosiva
do interesse público.
Partidos que
foram constituídos, nos anos 80, justamente para oferecer uma alternativa
diferente de fazer política, como o PT e o PV, acabaram engolidos, fagocitados,
por essa cultura política do fisiologismo, clientelismo e da falta de ética
pública.
Quase três
décadas depois do restabelecimento da democracia, ao final da ditadura que
combatemos, o establishment político
no nosso país sustenta-se, numa ampla medida, na compra direta ou indireta de votos. No pagamento
de cabos eleitorais e nos centros assistenciais.
Ultimamente essa
situação só tem piorado. O fato da impunidade não grassar de forma absoluta e
dos envolvidos no chamado “mensalão” terem sofrido um grau de punição --que
inclui a execração pública-- não significou nenhuma mudança significativa na
correlação de forças nem nos mecanismos que movem a grande política brasileira.
Há por trás
daquele escândalo um sujeito oculto, escamoteado: a tragédia da governabilidade no Brasil. Se
hoje não existe um suborno regular e sistemático do executivo dentro
legislativo, temos a entrega de
ministérios a políticos sem competência específica para dirigi-los e que os
utilizam, junto com dezenas de milhares
de cargos comissionados de livre provimento, em órgãos e empresas estatais, para a prática
do eleitoralismo, do clientelismo e, frequentemente, da corrupção.
Francamente, não
sei se essa ocupação medíocre da máquina pública, sem sombra de meritocracia, representa de fato progresso em relação a esse
escândalo tão execrado...
Em termos de
política ambiental as contradições são flagrantes: o retrocesso no Código
Florestal arrisca comprometer os recentes avanços na redução do desmatamento e
das emissões de carbono.
Em diversos
países já se investe de forma resoluta na economia verde mas aqui ainda se
subsidia a indústria automobilística sem nenhuma contrapartida de
sustentabilidade. Insiste-se numa matriz energética atrasada, cada vez mais
“suja” e despreza-se ostensivamente energias limpas como o solar.
A condução da economia é feita com um olhar no
curto prazo e nos tempos eleitorais. O Brasil sonhado para o futuro é o do
desenvolvimentismo de décadas passadas.
Sem negar os
avanços que aconteceram nas últimas duas décadas nos governos do PSDB e do PT e
do papel que o PV representou na formação de uma consciência verde no Brasil, é
preciso ir muito além.
....
Num momento em
que cogito seriamente encerrar minha atividade parlamentar/eleitoral, ao final
do presente mandato, parece ser paradoxal
me envolver novamente com um novo partido,
27 depois de ter fundado o PV.
Partidos
políticos, mesmo em suas fases positivas --que costumam a ser aquelas iniciais-- são instrumentos complicados.
Na cultura
política brasileira, engendrada pelo sistema eleitoral vigente, mais ainda.
Partido quer dizer disputas afoitas de poder –daquele pequeno poder-- rivalidades,
intrigas, paranoias, burocracia, cartório...
Por outro lado
são indispensáveis para a participação no processo eleitoral e na vida
institucional do país.
Não são o único
instrumento de se fazer política mas são um indispensável se queremos ter uma
chance de transformar no âmbito da gestão pública. Mas não podemos, tampouco, desistir de tentar fazer deles o que deveriam
ser primordialmente: correntes de pensamento, escolas de formação e de cidadania
e veículos de ideias e ideais como o PT e o PV tentaram ser nos seus primórdios.
Nas nossas
circunstâncias, se queremos dar uma voz aos quase 20 milhões de brasileiros que
votaram em Marina Silva, em 2010, precisamos dispor desse instrumento, partido.
Continuo ideologicamente
e programaticamente um verde. Me sinto
vinculado planetariamente a esse pensamento e a esse movimento internacional e
gostaria que a marca do novo partido contemplasse essa identidade. Portanto
minha sugestão em múltiplas escolhas para sua denominação são: Verdes, Verdes e
Cidadania, Rede Verde, ECO, ECO BRASIL ou REDE ECO BRASIL. ECO tem o duplo
significado de ecologia e do ecoar das aspirações de milhões de brasileiros.
Além do partido
e dos movimentos que já temos vamos precisar de dois outros instrumentos uma
frente e uma rede, propriamente dita. Com vistas a 2014, uma frente eleitoral de partidos para as
eleições, senão não teremos meios de
disputa-las. É um grau de pragmatismo
necessário para possibilitar uma campanha minimamente competitiva.
E, para além dos
momentos eleitorais, precisamos de uma rede Rede!
A transformação
na política brasileira depende muito de um trabalho, de longo prazo, no âmbito municipal, estadual e federal,
dentro das instituições governamentais, na sociedade e nas empresas, mediante uma verdadeira revolução cultural na
direção da sustentabilidade e da ética pública.
Isso se dá
formando, ajudando e promovendo pessoas: quadros políticos, quadros de gestão
pública e privada, em todo o Brasil e que hoje se encontram em diversos
partidos. Que em 2014 poderão estar em distintas campanhas presidenciais. Seria
uma tolice pensar que os bons se concentram todos em um único partido ou
campanha apenas. Ou somente neste ou aquele credo ou não-credo religioso. Precisamos poder identificar e apoiar uma
rede multifacetada e plural de pessoas e grupos que queiram fazer evoluir o
Brasil rumo à sustentabilidade e a ética pública, numa pátria plural,
republicana e laica.
Portanto, ao pensarmos partido precisamos
simultaneamente pensar movimentos, frente e rede.
...
Uma nova etapa
de sonhos e de lutas se abre no dia de hoje e estou presente de coração junto a
vocês.
Confesso: não
sou lá tanto um mantenedor de utopias --desconfio delas-- sou um esforçado transformador de realidades,
no que dá para transformar, em cada
momento histórico dado. Fui feliz em algumas ocasiões como gestor do poder
local. É o que gosto de fazer além de
escrever.
Sou escritor,
estou deputado federal.
Hoje, atuando nacionalmente, vejo este muro enorme que se ergue diante de
nós. Vamos escala-lo com pás e
picaretas, derruba-lo pedrinha por
pedrinha, como foi o muro de Berlim? Ou
cavar um túnel por baixo? Ou quem sabe um balão? Quem sabe um salto com vara?
No momento
sombrio da política brasileira em que tudo contribui para o desânimo, quando os antigos instrumentos, para nós tão
caros, se desgastaram irremediavelmente, novas tentativas se fazem necessárias.
Novos desafios
aguçam nossas mentes, novas esperanças animam nossos corações.
Alfredo Sirkis
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