Estou
voltando ao assunto porque a cada dia que passa o risco de guerra entre Israel e Irã --inicialmente, pois dali para frente só Deus sabe-- se explicita. Penso que hoje a probabilidade
de um ataque aéreo israelense às instalações nucleares do Irã, antes das
eleições norte-americanas é maior que 50%. Venho acompanhando a cena
político-estratégica em Israel pelo site do Haaretz
e recentemente há dois artigos muito significativos. Uma reportagem de Ari Shavit narrando
uma conversa com um “tomador de decisão” não identificado mas que ele
claramente revela nas entrelinhas --menção ao piano de cauda, na sala-- como sendo o ministro da Defesa Ehud Barak,
que deixa pouca margem de dúvida. Canta a bola de forma detalhada: defende
atacar agora.
Outra matéria importante do Haaretz é análise uma em relação a atitude frouxa da comunidade internacional, leia-se EUA e
Europa, sobretudo. No caso da administração Obama, é uma situação
compreensível. Até as eleições o poder de chantagem de Netanyahu é considerável.
No caso da Europa é menos compreensível, afinal se o preço do petróleo explodir
a economia europeia se afunda mais ainda
no atoleiro.
Barak se acha um gênio estratégico e sua
análise na conversa com Shavit é taticamente inteligente mas estrategicamente
burra. Seus erros de cálculo são notórios: fracasso na negociação de Camp
David, no final da era Clinton, quando estava seguro de poder enfiar goela
abaixo termos de acordo que nenhuma liderança palestina poderia aceitar,
responsabilidade no mito destrutivo de que “não há parceiro” entre os palestinos para a paz. Sua mão pesada no início da segunda intifada contribuiu para
piora-la. Depois foi responsável por destroçar o partido trabalhista e transformou-se no principal aliado de
Netanyahu. Pessoalmente penso que Barak é ainda pior que Bibi.
Toda
análise de Barak parte de pressupostos sombrios, raciocínios de curto prazo e
um paradigma que em nenhum momento contempla uma iniciativa de paz mais
audaciosa quer na questão do nuclear iraniano quer na palestina e árabe em
geral. É uma estratégia que simplesmente não dá chance alguma à paz e se encaixa no paradigma atual de Israel: ampliação
dos assentamentos rumo a um grande Israel com apartheid e bantustões
palestinos, recusa a reconhecer e colocar na mesa o armamento nuclear
israelense e política de chantagem em fatos consumados em relação ao EUA
confiando no taco do lobby da AIPAC e sua influência no congresso norte-americano.
Dentro desse pressuposto há de fato uma
“janela de oportunidade” taticamente favorável a um ataque antes das eleições
norte-americanas e tomando partido da guerra civil na Síria que cria evidentes
dificuldades políticas e militares para o Irã e seus aliados do Hezbollah. Mas
Barak não leva em conta os fatores políticos, as questões estratégicas de médio e longo
prazo e a vulnerabilidade de Israel a uma guerra de atrito de longa duração: uma guerra com foguetes caindo meses a fio sobre seu território e obrigando seu exército a invadir
territórios, expondo-se a baixas como as na segunda guerra do Líbano às quais
sua sociedade é muito mais vulnerável do que a dos seus inimigos. Nunca foi tão
verdade aquele dito: uma guerra sabe-se como começa mas nunca como acaba.
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