21/04/2012

Rio/Clima depois de Recife

A nossa  reunião preparatória de Recife transcorreu bastante bem com boas definições e deixou muito mais claro como devemos trabalhar no evento do Rio de Janeiro. 

 1 – Metodologia e agenda

 O objetivo principal era avançar na definição da metodologia e da agenda para junho. Ficou claro que quatro dias serão insuficientes para realizar nosso trabalho nas melhores condições levando em conta, inclusive, que teremos as sessões de abertura e encerramento com os convidados VIP, o show acústico de Gilberto Gil, Andy Summers & amigos  e a exposição científica do IPCC apresentando os mais recentes dados sobre os feedbacks. Assim provavelmente teremos mais um dia de trabalho (ainda decidiremos à luz da logística se será o 13/6 ou o 18/6). Os coordenadores e os relatores dos três grupos temáticos deverão chegar e começar a trabalhar uma semana antes, pelo menos.

Definimos que os três grupos: 1 - Mitigação  2 – Financiamento do baixo carbono e 3 – Adaptação trabalharão numa metodologia de "construção de cenários" com auxílio dos softwares  do professor Carlos Bana e do Travis Franck. A "negociação simulada", que é uma técnica diferente, será feita numa reunião posterior, na parte final, apenas com os políticos e formuladores de políticas públicas em cima de drafts preparados pelos grupos (que chamamos streams). Isso reproduz melhor as coisas na vida real. O exercício conduzido pelo professor Carlos Bana nos permitiu entender a diferença entre “construção cenário” e “negociação simulada”  que não estava claro para mim no início. Foi um aporte fundamental.

No grupo 1 (MT) a tarefa inicial é:

1 -  Identificar,  reunir e escolher os melhores e mais realistas cenários já estudados e apresentados por instituições de excelência para uma meta de 450 ppm. Idealmente selecionar uns 3 cenários  --não precisa inventar nada, estão por aí-- de preferencia, se for possível, um originário de fonte norte-americana, uma europeia e uma do BASIC.

2 -  Organiza-los de forma compatível para um processo de análise comparativo,  alinhavados de maneira a podermos modelar com auxilio das ferramentas de software que nos oferecem o professor Carlos Bana e Travis Franck ambos muito importantes para nosso processo de construção de consensos a serem conduzidos pelo Mark Young e Fernando Monteiro.

 3 - Precisamos de imediato reunir as “fichas” sobre os países principais emissores e dos segmentos da economia global que estarão “representados” no RCC.

4 - Decidimos não criar um grupo específico para a métrica. Travis Franck, com o pessoal do MIT,  trará uma proposta de métrica unificada para metas nacionais de mitigação. Encomendaremos, à parte, a especialistas de comunicação visual o nosso termômetro global, um totem que informe diariamente nas praças das cidades de todo o mundo e na internet as atualizações da concentração de GEE na atmosfera e sua aproximação do limite de 450 ppm.

 Houve um certo consenso de que na modelagem para a repartição dos compromissos de mitigação a ação de um país não ficaria necessariamente restrita ao que possa no seu território apenas mas que inclua o que possa fazer para corta-las onde for mais rápido e fácil.  Isso depende da criação de instrumentos de conversibilidade muito mais ágeis que o MDL.

 5 - Teremos também um tarefa específica de “governança” que é “traduzir” nossas conclusões para o idioma e para os canais específicos das COP e de eventuais outros foros que no futuro possam vir a tratar da crise climática: G-20, Conselho de Segurança da ONU, etc... Essa tarefa perpassa os três grupos e se dá a posteriori, após a criação dos cenários de cada e após a negociação simulada entre os políticos.

A questão da inovação tecnológica também terá esse tratamento transversal. Cogitamos criar um grupo específico de inovação na medida em que uma parte dos nossos participantes, em Recife, acredita numa estratégia que passa por um intenso investimento público em inovação energética como e melhor caminho prescindindo de imposições legais e taxação à emissão de carbono. Para manter o espectro plural dos nosso exercícios ponderamos criar um grupo no qual eles pudessem desenvolver na plenitude esse seu cenário mas, afinal, optaram por trabalhar em conjunto no stream MT com os outros participantes que seguem um caminho mais de regulamentação, estabelecimento de limites de emissão (ou divisão do “orçamento” global de carbono) e continuam referenciados, ainda que criticamente, ao processo das COP.



No grupo 2 - Finance for low carbon stream (FLC) as tarefas são, por um lado,  aquela mais tradicional de modelar maneiras de distribuir  aportes nacionais e multilaterais para financiar a mitigação e a adaptação, mas, por outro, envolve também inovação na área das finanças do baixo carbono. 


Na preparação as tarefas são:

1 - Examinar os cenários de conversibilidade entre redução de carbono e finanças e tratar do que, para efeitos de simplificação,  foi apelidado de um “Bretton Woods do baixo carbono”. Deverá examinar novos processos, operações e  produtos financeiros para a era do baixo carbono. Aqui também a tarefa preparatória é reunir e selecionar as propostas que já existam e organiza-las para as ferramentas de software que dispomos e para um processo de construção de cenários.

2 - Reunir, selecionar e adaptar os cenários-propostas sobre financiamento e ceritérios de reparatição da conta que já circulam no sistema COP e alhures. Particularmente desenvolver uma proposta baseada no histórico de emissões dos diversos países.  


O grupo 3 - Adaptation stream (ADS)  foi o menos concorrido e houve até propostas para que não fizesse parte do nosso trabalho, em junho,  dada a extrema diversidade de ações necessárias e a complexidade para modela-las para além da tradicional discussão de projeções de números a serem depositados no Fundo Verde do Clima, da ONU --onde praticamente nada o foi até hoje--  e da dinâmica que o tema tem nas COP.

 No entanto,  considerando que nos nossos rápidos exercícios de projeção de cenários usando o software do MIT apareceram cenários para lá de alarmantes com aumentos de temperatura de 4.5 graus,  até o final do século,  mesmo em cenários de forte inovação tecnológica e sem levar em conta os cenários piores de feedbacks, ficou cristalinamente claro que é fundamental um planejamento de contingência para desafios de adaptação gigantescos.

 Decidimos simplificar a tarefa do ADS para focar em dois grandes temas: alimentos e águas. No primeiro modelar cenários que garantam a sobrevivência alimentar na hipótese  muito plausível de colapso da agricultura nas regiões mais afetadas. No segundo,  modelar para as várias frentes onde água será um problema: sua escassez e também inundações, enchentes, elevação dos oceanos, etc...

Para isso também a tarefa é reunir, escolher e colocar em formato compatível com nossa metodologia os cenários-propostas existentes para lidar com os riscos alimentares futuros e o leque de contingências relacionadas com as águas. 

2 – Estrutura e tarefas

 Contamos com um time de primeiríssima no que diz respeito aos brasileiros já envolvidos no RCC. Por outro lado, todos tem seus afazeres e não têm disponibilidade para tarefas de coordenação, facilitação e relatoria dos 3 grupos. Por outro lado entendemos, ao final da reunião de Recife, de que essas seriam tarefas profissionalizadas. Deveremos buscar fazê-lo pagando diretamente pelo projeto a pessoas físicas e/ou jurídicas e utilizando alguns recursos das comissões parlamentares envolvidas.

 Está claro que precisamos de um pequeno núcleo profissionalizado para executar a tarefa de reunir os cenários já propostos de mitigação e financiamento, selecionar os mais factíveis, coloca-los de forma que possam ser discutidos a luz de nosso processo de facilitação e ferramentas de software que queremos utilizar. Isso longe está de ser uma tarefa trivial.

Em adaptação que nossa amiga Aspásia Camargo aceitou coordenar o grupo mas é preciso formar duas equipes que façam a identificação, triagem e adaptação das melhores propostas relacionadas a águas e alimentos e também quantificar custos e propor cenários para o financiamento da adaptação, embora com foco nesse dois tópicos.


4 – Formação dos grupos de exercício e “delegações”.

Claramente nosso maior problema são as lacunas na formação dos nosso grupos de exercício. Evoluímos um pouco na proposta original para facilitar nossa vida. Não trabalhamos mais com aquele conceito de “delegação” nacional composta pelos 3 segmentos. Passamos a considerar “delegações” apenas as dos políticos e  quadros de governo,  na parte final do processo,  quando teremos a negociação simulada.

 Na parte de construção de cenários nos 3 grupos teremos uma participação indiscriminada de todos os componentes, (inclusive políticos e gente de governo que já queira participar já nessa fase de exercício)  para a construção de cenários prévios à "negociação simulada"  propriamente dita.


 E bom frisar que mantemos aquele grupo supranacional com grandes ONGs, Banco Mundial, outras multilaterais e segmentos da economia global: finanças, auto, carvão, petróleo, agro, etc... e que serão alocadas nos grupos de acordo com o bom senso.  Poderão eventualmente também fazer exercícios de construção de cenários entre eles.


 5 – Política

 A reunião de Recife foi um grande êxito político porque colocou nossa inciativa em foco na mídia --todas as matérias foram favoráveis e algumas como a do Merval Pereira de forte repercussão--  o que permitiu abrir caminho vencendo certas reticências na área oficial. Tive oportunidade de apresentar o Rio/Clima RCC à presidente Dilma Rousseff na reunião do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, graças à inestimável ajuda do professor Luís Pinguelli.  A presidente, a princípio, gostou. Fortalecemos o envolvimento do governador Eduardo Campos do prefeito Eduardo Paes, tivemos a confirmação da participação do ex-presidente Fernando Henrique, na abertura e da secretaria executiva da Convenção do Clima Chistiana Figueres, no fechamento. Vamos agora marcar com o ex-presidente Lula e buscar establecer sinergias com outros eventos paralelos à Rio + 20 para garantir a presença de alguns Permios Nobel e ex-chefes de estado.

 Abaixo a galeria de fotos do rencontro preparatório de Recife:


 A reunião preparatória de Recife

 Eduardo Viola(falando), Emilia La Rovere e Branca Americano

 Sirkis e Pinguelli

 Sergio Xavier, Aspasia, Eduardo Campos e Sirkis

 Gil discursa. Ao lado Sérgiio Xavier, Sirkis e o governador

 Governador assina decreto da política de baixo carbono

 Governador Eduardo Campos e à esquerda Sérgio Besserman

Sirkis com Gil e André Esteves



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