05/12/2011

Do bom uso de baixas expectativas

O fato de se esperar tão pouco da COP 17 de Durban acaba paradoxalmente jogando a seu favor. É patente que não sairá nenhum acordo com um aprofundamento quantitativo de metas, quer as assumidas pelos países do Anexo I do Protocolo de Kyoto, obrigatórias, quer das voluntárias anunciadas e “anotadas” em Copenhagen e Cancún. Por outro lado, como já mencionamos, o Japão, a Rússia, a Austrália e o Canadá, tendem a sair do Protocolo de Kyoto que haviam assinado. Ainda assim surge um sopro de otimismo multo impulsionado pelo ativismo brasileiro de conseguir com a União Européia uma segundo período de compromisso do protocolo de Kyoto --ainda que limitado ao tal Kyotinho—seguido de uma negociação séria para um novo acordo geral para o Clima, no marco da Convenção,firmada na Rio 92, com metas obrigatórias para todos,negociadas até 2015, com vigência a partir de 2020. Há indício de que a China se prepara para aceitar esse caminho.

A diplomacia brasileira com os embaixadores Luis Alberto Figueiredo e André Correa do Lago vem tendo um papel importante nesse processo e o nosso discurso, que na reunião do BASIC, em Pequim, havia sido tímido, tornou-se mais firme e afirmativo, criando um efeito positivo na reunião. O Brasil tornou-se um ator central no processo, capaz de fazer a ponte entre o BASIC e a UE e também manter um diálogo com os EUA que todos sabemos não vai se mover até uma eventual reeleição de Obama, em novembro de 2012.

Quem vem surpreendendo pelo seu avanço é a China. Hoje, no Hotel Royal, participei de um brain storming de um seleto grupo de integrantes ligados à London School of Economics, do Grantham Research Institute com cientistas e acadêmicos dos países o BASIC e da UE. Os professores chineses Wang Ke, Yuan Wei e Jiang Kejun apresentarm estudos de modelagem onde pela primeira vez apresentavam cenários de redução absoluta de emissões, com vistas a 2030. Até agora os chineses sempre apresentam cenários de redução de intensidade de carbono por ponto percentual do PIB, nunca reduções absolutas de emissões. A qualidade dos estudos é impressionante e indicativa de um esforço científico/acadêmico concentrado refletindo um vontade política.

Claro, nada do que está sendo colocado ainda lida com a distância abissal entre o cenário mais otimista das negociações e o mínimo que os cientistas dizem ser necessário para manter a concentração de GEE em 450 ppm e o aumento da temperatura em 2 graus. Mas, em termos relativos representa, sem dúvida, um avanço dentro do labirinto.

(na foto, meu amigo Fabio Feldmann e eu, na COP17)

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