E a crise?
A verdade é que ninguém sabe o que vai acontecer. A sensação que tenho é que ao final de tudo o sistema financeiro internacional, os bancos, todo esse capitalismo especulativo que nas últimas décadas vinha dando a dinâmica da economia global vão sofrer grande perdas e uma derrota. Vamos voltar ter um novo ciclo de regulamentação mas desafio aí vai ser como podemos avançar na governança supra-nacional. Por mais que os governos não se entendam nos últimos dias o papel do Banco Central Europeu foi importante. Estamos em território nunca d’antes explorado e pessoalmente não penso que o euro esteja em risco de acabar ou de países saírem do euro –como fariam com a massa circulante em cada país?—penso porém que uma nova governança vai ser construída e o capital financeiro vai ter que ser enquadrado. A crise tende a promover alternâncias e pode ser que dentro de três anos tenhamos governos de esquerda aliados aos verdes na Alemanha, França e Itália. Isso pode propiciar massa crítica para novas políticas.
Mas a Alemanha não vai bem economicamente?
Sim, mas o paradoxo é que as pessoas não aceitam mais esse “vai bem” para um segmento muito restrito. Em épocas anteriores tivemos crescimento econômico que beneficiava à maioria, hoje é restrito a alguns poucos segmentos, mesmo na Alemanha, e as pessoas não aceitam mais isso. Há como na primavera árabe: há uma exigência de justiça por sobre tudo.
E os verdes na Alemanha?
Bem aqui venceu-se uma guerra cultural, nossas idéias tornaram-se praticamente majoritárias na sociedade e um grande símbolo disso foi a renúncia às usinas nucleares, depois do acidente de Fukushima. Os verdes agora se estabilizaram acima de 20%. Há pesquisas que nacionalmente lhes dão 23%, até mais. Evoluíram de um patamar de 10%, nos anos 90, para 20%. Junto com a social-democracia o bloco já obtêm 51%. Os liberais (aliados de Angela Merckel) estão abaixo de 5%, ficariam de fora do Congresso. Mas as eleições são em 2013. Falta bastante tempo.
Na França, Eva Joly derrotou Nicolas Hulot nas primárias...
Ela trabalhou melhor a base, os militantes. Hulot sempre chega atrasado, deveria já ter participado das eleições européias conosco. Como foi um universo eleitoral muito restrito não conseguiu, embora tenha um bom discurso. Mas a situação de Eva também não será simples. As eleições presidenciais na França são sempre complicadas para os verdes e se houver algum risco da Marine Le Pen ir ao segundo turno com Sarkosy haverá um voto útil muito grande nos socialistas. Pessoalmente penso que devemos focar nas eleições para a Assembléia Nacional que, em função do voto distrital, dependem de um bom acordo com os socialistas.
E o Straus Kant, que coisa???
Independentemente dele ter ou não violentado a camareira, isso nunca vamos saber ao certo, um alguém que aspira a presidência não pode ser a esse ponto dominado por seus impulsos. Os socialistas estão numa situação complicada mas optaram por uma eleição primária totalmente aberta. Qualquer um pode votar.
Mesmo eleitores da direita? O Sarkosy não pode mandar a turma votar no mais fraco?
Depende do comparecimento. Se forem milhões de eleitores fica impossível, você pode mobilizar uns dez mil, no máximo, para esse tipo de coisa. Na França o voto se dá nos distritos e seria perfeitamente possível perceber os eleitores de direita votando. Não penso que isso vá acontecer. Vão votar os eleitores de esquerda de uma forma geral...
E seus planos?
Vou deixar o parlamento europeu no final deste mandato, já são 20 anos, chega. Estou me preparando para fazer um filme no Brasil, na Copa de 2014. Com 6 equipes acompanhar o antes, durante e depois de 6 brasileiros. Já temos dois: Gilberto Gil e Sócrates. Estou indo ao Rio no final deste mês para o Blask2Black para uma mesa redonda com Marina Silva.
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