06/08/2011

Em Frankfurt com Daniel Cohn-Bendit


Na volta ao Brasil passei um dia em Frankfurt com meu amigo Daniel Cohn-Bendit, co-presidente do bloco verde no Parlamento Europeu para tratar de um convite que me fez para apresentar em novembro, no Parlamento Europeu, uma exposição sobre a Conferência Rio + 20. Desejam que eu enquanto presidente da sub-comissão da Câmara para a Rio + 20 lhes explique o que estamos pensando para a mesma que vai se realizar em 2012 no Rio, no vigésimo aniversário da histórica Rio 92.

No hotel tivemos uma longa conversa ele me pediu para que lhe explicasse a crise do PV no Brasil e a saída de Marina o que fiz em detalhe. Depois fomos dar uma volta pelo centro de Frankfurt, cidade de 600 mil habitantes, onde fica concentrada boa parte da riqueza da Alemanha. A cidade é governada por uma prefeitura democratas-cristãos e verdes o que não segue o seu alinhamento nacional com a social democracia. Há várias outras situações locais desse tipo. São aceitas sem problema por serem baseadas em acordos programáticos claros e transparentes. Levando em conta os 26% que os verdes tiveram em Frankfurt sua participação na prefeitura é muito influente: cuidam da saúde, educação, meio ambiente e trânsito. Especula-se a a próxima prefeita poderá ser a atual secretária de saúde verde Manuela Rothman mas ela ainda não decidiu se será candidata.

A cidade tem uma qualidade de vida extraordinária. Intenso uso da bicicleta um convívio cidadão muito característico que notei, por exemplo, na forma com que a população, inclusive as crianças, se apropriam do espaço do centro da cidade num dia de semana.

Dany foi, no passado, o secretário de assuntos multi-culturais de Frankfurt, antes de voltar ao Parlamento Europeu, pelos verdes franceses. Anteriormente já fora deputado europeu pelos verdes alemães. Aproveitamos para colocar as conversas em dia e falamos da crise econômica global que naquele dia ganhava as manchetes. Um apanhado rápido do que disse Dany-le-vert:

E a crise?

A verdade é que ninguém sabe o que vai acontecer. A sensação que tenho é que ao final de tudo o sistema financeiro internacional, os bancos, todo esse capitalismo especulativo que nas últimas décadas vinha dando a dinâmica da economia global vão sofrer grande perdas e uma derrota. Vamos voltar ter um novo ciclo de regulamentação mas desafio aí vai ser como podemos avançar na governança supra-nacional. Por mais que os governos não se entendam nos últimos dias o papel do Banco Central Europeu foi importante. Estamos em território nunca d’antes explorado e pessoalmente não penso que o euro esteja em risco de acabar ou de países saírem do euro –como fariam com a massa circulante em cada país?—penso porém que uma nova governança vai ser construída e o capital financeiro vai ter que ser enquadrado. A crise tende a promover alternâncias e pode ser que dentro de três anos tenhamos governos de esquerda aliados aos verdes na Alemanha, França e Itália. Isso pode propiciar massa crítica para novas políticas.

Mas a Alemanha não vai bem economicamente?

Sim, mas o paradoxo é que as pessoas não aceitam mais esse “vai bem” para um segmento muito restrito. Em épocas anteriores tivemos crescimento econômico que beneficiava à maioria, hoje é restrito a alguns poucos segmentos, mesmo na Alemanha, e as pessoas não aceitam mais isso. Há como na primavera árabe: há uma exigência de justiça por sobre tudo.

E os verdes na Alemanha?

Bem aqui venceu-se uma guerra cultural, nossas idéias tornaram-se praticamente majoritárias na sociedade e um grande símbolo disso foi a renúncia às usinas nucleares, depois do acidente de Fukushima. Os verdes agora se estabilizaram acima de 20%. Há pesquisas que nacionalmente lhes dão 23%, até mais. Evoluíram de um patamar de 10%, nos anos 90, para 20%. Junto com a social-democracia o bloco já obtêm 51%. Os liberais (aliados de Angela Merckel) estão abaixo de 5%, ficariam de fora do Congresso. Mas as eleições são em 2013. Falta bastante tempo.

Na França, Eva Joly derrotou Nicolas Hulot nas primárias...

Ela trabalhou melhor a base, os militantes. Hulot sempre chega atrasado, deveria já ter participado das eleições européias conosco. Como foi um universo eleitoral muito restrito não conseguiu, embora tenha um bom discurso. Mas a situação de Eva também não será simples. As eleições presidenciais na França são sempre complicadas para os verdes e se houver algum risco da Marine Le Pen ir ao segundo turno com Sarkosy haverá um voto útil muito grande nos socialistas. Pessoalmente penso que devemos focar nas eleições para a Assembléia Nacional que, em função do voto distrital, dependem de um bom acordo com os socialistas.

E o Straus Kant, que coisa???

Independentemente dele ter ou não violentado a camareira, isso nunca vamos saber ao certo, um alguém que aspira a presidência não pode ser a esse ponto dominado por seus impulsos. Os socialistas estão numa situação complicada mas optaram por uma eleição primária totalmente aberta. Qualquer um pode votar.

Mesmo eleitores da direita? O Sarkosy não pode mandar a turma votar no mais fraco?

Depende do comparecimento. Se forem milhões de eleitores fica impossível, você pode mobilizar uns dez mil, no máximo, para esse tipo de coisa. Na França o voto se dá nos distritos e seria perfeitamente possível perceber os eleitores de direita votando. Não penso que isso vá acontecer. Vão votar os eleitores de esquerda de uma forma geral...

E seus planos?

Vou deixar o parlamento europeu no final deste mandato, já são 20 anos, chega. Estou me preparando para fazer um filme no Brasil, na Copa de 2014. Com 6 equipes acompanhar o antes, durante e depois de 6 brasileiros. Já temos dois: Gilberto Gil e Sócrates. Estou indo ao Rio no final deste mês para o Blask2Black para uma mesa redonda com Marina Silva.

Na ponte sobre o Reno (foto de Ana Borelli)








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