21/06/2010

Faixa, aspas & equívocos

Mandei para O Globo, hoje pela manhã, a seguinte carta de leitor. Vamos ver se publicam. (Nas ocasiões mais recentes não o fizeram):


"Em relação à matéria (O Globo 21/6) “No PV, mais divergência”, a primeira coisa a observar é que o título não corresponde a nenhuma informação da matéria pois ela não se refere a divergência alguma no PV. Na referência à faixa contendo os nomes de Gabeira e Serra, a notícia escamoteia a razão de nossa reclamação. Não é a existência da faixa em si. Os partidos que apóiam Serra tem todo direito de colocar essa dobradinha. É o fato de nela terem inserido –possivelmente por inadvertência-- também o logotipo do PV. Isso naturalmente, é descabido pois nossa candidata à presidência é Marina Silva. Essa faixa fora mencionada pelo jornal, na véspera como se fora dos verdes, um outro erro a ser reparado."


Ah, a nossa reportagem política... Quanta dificuldade de trabalhar com os fatos reais e que tendência irresistível a querer pautá-los previamente! Ontem um repórter me telefonou duas vezes. Na segunda, tentou me impingir aquele tipo de jornalismo onde se cria, a priori, um factóide para então pegar sua aspas para corroborar com a situação irreal que eles próprios traçaram. Começou na edição daquela manhã quando noticiavam que uma faixa com logo do PV trazia a dobradinha Gabeira-Serra. Essa faixa fora fabricada pelo PPS de Niterói e seu erro, como explico na carta, não foi a dobradinha, em si, perfeitamente válida no caso do PPS,PSDB e DEM, que apóiam o Serra, mas a inserção na faixa do logo do PV que tem outra candidata presidencial. Curiosamente o repórter, no sábado, só viu o logo do PV não o dos partidos serristas.

Como detestam dar o braço a torcer e simplesmente admitir o erro resolveram emburacar nele e o repórter tentou me arrancar aspas em relação ao suposto fato “de vários candidatos do PV estarem apoiando o Serra”, uma absoluta peça de ficção. Diante de minha reação algo irritada de que isso não existia e minha exigência que desse nomes aos bois ele recuou e admitiu que dizia isso porque vários verdes haviam “tratado o candidato tucano com simpatia” o que convenhamos está muito longe de ser a mesma coisa. Eu próprio dei-lhe um abraço pela consideração e respeito que tenho por ele –em Brasília, no debate da CNA, dei um beijinho em Dilma, minha amiga de Porto Alegre dos anos 80-- o que nada tem a ver com nossa opção de voto. Esclareci-lhe que nós verdes costumamos a ser bem educados e tratamos com cordialidade até os adversários. O Serra ali vinha como nosso aliado para as eleições no Rio.

Não tendo conseguido aspas para substanciar a cizânia entre verdes que justificasse a manchete mencionada acima ele conseguiu, não obstante, criar uma entre o PV e o PPS ao pretender que eu reclamara da existência faixa de Gabeira com o presidenciável tucano --o que, de fato, seria descabido-- e não, simplesmente, do fato de terem colocado nessa faixa o logo do PV dando ensejo a que o jornal, no domingo, insinuasse que havia verdes abandonado Marina.

É um jornalismo que foge dos fatos. Cria uma tese, um achismo e vai a campo tentar conseguir “aspas” para corrobora-la. Não é um fenômeno novo, simplesmente um mau e velho desserviço ao leitor.

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