22/06/2010

Calatrava no Pier Mauá, uma grande solução

 Sempre achei que o arquiteto, engenheiro e pintor Santiago Calatrava, o "o mago as obras públicas" era o mais talhado para fazer um projeto emblemático para o Pier Mauá. Visitei-o em Valencia, em 2001, quando iniciava as obras da Cidade das Artes e da Ciência. Mostrei-lhe o Pier, a Av Perimetral, a Praça Mauá ele chegou a fazer um desenho de uma pequena edificação na ponta do Pier com um lápis.  

 O ex-prefeito ao qual trouxe um vídeo sobre Calatrava preferiu manter a área reservada para o projeto do Museu Guggenheim ao qual deu um encaminhamento político desastroso. Calatrava não fazia parte do grupo de arquitetos que trabalhava com o Museu e que eram também de primeiro time: Frank Ghery, Jean Nouvel, Rem Koohas e Alvaro Siza. 

 O projeto do Museu foi inviabilizado pela resistência que sofreu resultante, em grande parte, do encaminhamento político errático e desastroso que o ex-prefeito lhe deu. O projeto de Jean Nouvel também não ajudou. Era um excelente projeto para quem tivesse recursos de sobra e só seduzia pela sua inteligência e consistência a um olhar muito atento. A primeira reação era de estranheza: um barril na ponta do Pier e uma estranha tela na sua base. Tudo muito cerebral, conceitual. Uma mulher pela qual você não se apaixona à primeira vista mas precisa sair muitas vezes, conhecer melhor, etc... 

 O projeto de Calatrava incorpora os elementos de base da correção daquelas falhas. É certamente muito mais barato e simples, não realiza incursões subaquáticas, trabalha  na horizontal evitando, a priori, qualquer possibilidade de alegação de interferência na visada do Morro de São Bento e se dá num contexto colaborativo entre as três esferas de governo e constitui um empreendimento compartilhado, uma parceria e não uma ação isolada da prefeitura sob cerco político e solidão sociocultural. 

 A grande virtude do prefeito Eduardo Paes, a partir do dia em que lhe apresentei, ainda antes da posse, tudo que havíamos acumulado e projetado sobre o programa Porto do Rio em cinco anos e que, com exceção da Cidade do Samba, não fora executado por birra do ex-prefeito depois do naufrágio do Gugg, foi ter implementado a revitalização do Porto com humildade, inteligência e sobretudo, ter entendido perfeitamente que era um sonho coletivo dos cariocas que demandava parcerias amplas e diversas. Promoveu amplamente o diálogo que sempre cobrei de seu antecessor, cujo temperamento inóspito e errático não permitiu, conquistou parceiros valiosos e diversos e beneficiou-se de um inédito alinhamento com as demais esferas de poder. 

A parceria com o sistema Globo --sem o qual não se faz grandes coisas no Rio--  fora aventada na época. Me lembro de ter feito uma apresentação do projeto na casa de José Roberto Marinho durante a qual César adotou uma atitude estranha que nunca entendi. Depois daquilo ele passou a dizer que não acreditava em parcerias com a iniciativa privada porque os empresários só pensavam em se “dar bem” e que a prefeitura faria tudo --o Gugg e o resto-- sozinha. O resultado é que não conseguiu sequer colocar do nosso lado os artistas plásticos que seriam, em tese, os maiores beneficiários pela possibilidade de terem suas obras itinerando pela rede de museus do Gugg. 

Nunca vou me esquecer do dia em que me chamou e diante da noticia de que o TJ não conhecera de seu recurso contra uma liminar de primeira insistência contra o projeto do museu --juridicamente totalmente inconsistente, mas que prevaleceu dado seu isolamento político--  me informou secamente: “Estou mandando suspender as licitações das obras na área portuária. Não vou fazer mais p... nenhuma ali”. 

  Aproveitar todo o acumulado no Programa Porto do Rio, transforma-lo em Porto Maravilha com diversos aperfeiçoamentos interessantes e, sobretudo, ter entabulado uma diversidade de parcerias governamentais e com a incitativa privada construindo-o como um sonho coletivo, um sonho dos cariocas e não apenas da prefeitura vem sendo o grande mérito do prefeito Eduardo Paes e de sua equipe. Como percussor, obsessivo,  da causa só posso ficar feliz e agradecido de ver os sonhos começando a se realizar e a glória de ver o gênio de Santiago Calatrava trabalhando para o Rio.



Com Calatrava em Valência, em 2001.


A Cidade das Artes e a ponte de Calatrava

2 comentários:

  1. Você foi precursor e percussivo, pois não esqueço suas intervenções no seminário do BNDES. A partir dali a nova direção de DOCAS adotou uma atitude mais cooperativa com o Porto Maravilha.
    Estou certo que não faltarão parcerias (PPPs) pois o Porto Maravilha, com Calatrava ou Canabrava, já é um sucesso.

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  2. Sou servidor federal, lotado no INPI, cuja sede encontra-se instalada no edificio A Noite, conforme deve ser de seu conhecimento.
    Quais os planos para o edifício? Existe algo sendo discutido atualmente a esse respeito?

    Luis Filipe Gomes

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