Pode se dizer o mesmo da eleição para governador no
Rio. Embora sua distância seja maior, terá que conquistar mais 10%, Witzel, até
ontem um ilustre desconhecido, apresenta para Eduardo Paes uma dificuldade
muito maior do que Romário ou Índio (esse mesmo com apoio do Bolsonaro) representariam num segundo turno. Paes tem um talento político e uma tirocínio eleitoral que nunca pode ser
subestimado mas está diante do maior desafio da sua vida. Precisará reverter uma
tendência de queda, superar muitos golpes abaixo da linha da cintura e reverter uma
tendência de queda face a um adversário que representa "novidade" e terminou o primeiro turno em tendência ascendente.
Para
Paes teria sido melhor que Bolsonaro tivesse ganho no primeiro turno porque
isso regionalizaria a disputa numa situação onde sua experiência como ex-prefeito, bem avaliado, do Rio contaria mais. No atual quadro ainda que não se posicione
nacionalmente –uma questão quase de sobrevivência-- será visto pela onda bolsonarista como "do
outro lado" e também terá dificuldade de mobilizar boa parte do voto de esquerda
que se concentrou mais no PSOL.
Na
conferência de imprensa de Haddad os petistas e pecedobistas pareciam eufóricos.
Começou num tom típico de comícios de esquerda com toda aquela coreografia e
sonografia que já, epidermicamente, provoca rejeição. Naquelas circunstâncias a
celebração partidária era totalmente avessa ao que deveria fazer em termos de
comunicação um candidato à presidência em dificuldade.
Nada menos “presidencial”
que aquela coreografia partidária de autocelebração quando, claramente, a pulsão
dominante do pleito foi o anti-petismo. Bolsonaro, no que pese sua limitada eloquência, usou melhor a oportunidade: colocou-se no
olho no olho para o eleitor com seu eventual tzar econômico, Paulo Guedes –para
cativar mais o “mercado”- e se colocou
em comunicação direta, objetiva, conquanto tivesse repetido algumas de suas
barbaridades que, no momento pelo menos, são assimiladas ou aceitas sem problema pelos seus
seguidores.
Haddad
deu a impressão que que, no fundo, dava de barato a derrota no segundo turno
mas celebrava alegremente o fato do PT ter permanecido hegemônico, na esquerda
e poder assim “liderar” a futura oposição, comandar “os democratas”. A maioria
moderada do país fica assim na terrível posição de ter de escolher entre votar, a
contragosto, nos maiores responsáveis pela situação atual ou nulo o que de alguma
maneira ajuda Bolsonaro.
A impressão
que davam os petistas era de que o importante era “marcar posição” e garantir hegemonia (a grande raiz de todas suas desgraças). Me
lembrou das camisetas dos militantes do PT e do PSOL, nas ruas, com seus dois adesivos: “Ele não” de um lado e “Fora Temer” do
outro. Uma dupla inócua. Em relação a "ele
não" o adesivo consequente teria sido “Ciro”.
Já em relação a Temer, o vice que escolheram, cultivaram e depois amaram odiar,
qual o sentido de perder tempo com ele? Achavam mesmo que é bom argumento contra Bolsonaro alinhava-lo nos "50 tons de Temer"? Achavam que isso lhe faria perder um único voto? O Brasil mereceria uma esquerda menos patética.
Toda
questão agora é saber qual a duração do novo ciclo que se abre. Será curto ou
longo? Qual seu nível de autoritarismo e dano para a democracia? Qual sua
intensidade persecutória? Qual seu grau de compromisso com algumas das
propostas mais absurdas veiculadas no calor da campanha? Qual o grau de prejuízo
que irá causar às liberdades, à tolerância cidadã e ao meio ambiente? Para onde
conduzirão os inevitáveis conflitos internos de uma nebulosa política criada
num impulso de revolta com atores políticos inexperientes, ambiciosos e possuídos
por um intenso sentimento de revanche e onipotência?
Paradoxalmente, na última pesquisa Datafolha a democracia aparece com um recorde de avaliação positiva entre os brasileiros. Isso de certa forma contradiz outras pesquisas recentes, seria preciso ver exatamente como a pergunta foi formulada e a pesquisa aplicada. De qualquer forma, isso revela que uma maioria da população se sente protagonista e acha que pode pesar no seu próprio destino com uma escolha, desta feita pela direita.
Isso é positivo desde que se preserve essa mesma possibilidade de alternância, mais adiante, e não enverede por um chavismo de direita o que será uma forte tentação num mundo onde pontificam os Duterte, Orban, Erdogan e por aí vai. Sobreviverá a celebrada democracia brasileira?
Nenhum comentário:
Postar um comentário